Capítulo Quatro

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O capítulo a seguir contém violência e possível gatilho. Leia por conta risco.

Boa leitura ♥️


Eu definitivamente não poderia estar falando com esse garoto. Como pode não acreditar em Deus? Depois de sua confissão eu me calo e volto a escrever minha parte na pesquisa. Ele parece não se importar com o meu silêncio e começa a cantarolar uma melodia desconhecida para mim, se aproximando e olhando o que estou fazendo.

— Eu acho que essa parte tá errado. — Ele se aproxima ainda mais e eu consigo sentir o seu perfume forte.

— Errado? — Desvio o olhar dele sem jeito e vejo minha mãe olhando para os lados como se estivesse me procurando. — A minha mãe! — Tento me esconder quase entrando embaixo da mesa.

— E daí? — Ele começa a rir confuso.

— Ela não pode me ver com você — sussurro agachada.

— Isso é tão previsível vindo de você, santinha, por que não pensei nisso antes?

— Por favor, se esconde, ou ela vai me matar.

— Ela está tão perto de nós, não tem lógica.

— Vai logo — eu empurro ele, que levanta da cadeira indo para as últimas fileiras de livros.

Por sorte a minha mãe se distraiu com algo e isso me fez ganhar uns minutos para me levantar e ir até ela.

— Mãe! — Digo em tom mediano, já que é proibido falar alto aqui.

— Esse lugar é tão grande... Quase me perdi.

— O que faz aqui? — Dou um sorriso amarelo.

— Vim te entregar as chaves de casa, eu e seu pai iremos à igreja. —  Ela me entrega o objeto metálico que contém alguns chaveiros.

— Ah, certo, bom culto.

— Obrigada — ela dá mais uma vistoria em volta parecendo procurar algo. — Estava com alguém?

Todo o meu corpo gela, meu coração acelera como se eu estivesse acabado dá cinco voltas seguidas por todo o campus.

— Não... Claro que não, eu nem conheço ninguém aqui. — Um suor tenso surge em minha testa.

Mais uma mentira para a lista, Deus nesse exato momento deve estar apagando meu nome no livro da vida.

— Você não está mentindo pra mim, está? — Ela lança um olhar cortante para mim.

— Não mamãe, por que está perguntando isso? — Desconversei.

— Essa chave de moto em cima da mesa é de quem?

Aquele abençoado esqueceu as chaves dele aqui. Que idiota.

— Não sei, já estava aqui quando eu cheguei. — Engulo em seco.

— Deveria ter entregado a bibliotecária.

— Ei, garota, você viu umas chaves por aí? — Taeyong aparece e o meu corpo se estremece de tensão, o que ele está pensando? Eu terei anos de castigo.

— São essas? — Minha mãe pergunta com o objeto em mãos.

— Sim, valeu. Eu esqueci nessa mesa antes dela chegar — ele me olha tranquilo como se tivesse acabado de me salvar de uma fria e vai embora. Mas ele só piorou tudo.

— Em casa nós conversamos — ela se vai e eu me pergunto o porquê não contei a verdade.

É nisso que dá contar mentiras, além de ser condenada ao fogo eterno, terei uma conversa nada boa com a minha mãe. Parece que aquele maluco foi mesmo embora. Em tão pouco tempo já está me metendo em problemas. Não consegui finalizar minha parte e decidi ir embora. Será que a minha mãe não acreditou na história que contei? Eu sou uma péssima mentirosa, comecei a ter esse mau hábito depois que conheci Taeyong.

Vou embora para minha casa sem muita coragem, pareço uma criança com medo de tomar bronca da mãe. Talvez eu nunca tenha saído dessa fase. O medo dela é tão grande que não consigo controlar meu sistema nervoso, estou tremendo, não sou de contar mentiras e ela sabe disso. Entro na minha residência abrindo calmamente a porta mas os meus pais ainda não chegaram. Não sei se isso é reconfortante ou não.  Lavo a louça, varro a casa e faço o jantar para agradar a minha mãe. Eles chegam na hora exata que o culto das tardes de terça se encerra.

— Bem vindos de volta mãe, pai.

— Vá para o seu quarto, eu já estou indo.

Aquela sensação ruim de preocupação e coração acelerado volta a acontecer. Subo as escadas para o meu quarto e a espero. Minutos depois ela entrou no quarto fechando a porta em sequência.

— O que estava fazendo naquela biblioteca?

— Um trabalho — olho para os meus pés com medo de encarar o olhar sombrio dela.

— Me conte a verdade. — Ela segurou meu queixo me forçando a erguer o rosto.

— Não estou mentindo, mamãe.

— Você estava com aquele garoto, não estava? — Ela aperta o meu maxilar com força. Sua voz saindo entre dentes.

— Não — fecho os olhos num ato covarde de continuar evitando vê-la.

Não sei se estou fazendo bem continuar mentindo, mas eu já comecei, preciso ir até o fim.

— Pare de mentir pra mim — ela dá um tapa no meu rosto tão forte que caí no chão, meu rosto arde em reação ao ocorrido e eu esfrego a mão no local machucado, ela tinha parado de me bater a anos. — O nome dele é Lee Taeyong, não é?

Meu Deus… como é que ela descobriu?!

— Sim, ele estuda comigo, mas não somos amigos. — Continuo de joelhos, com lágrimas ameaçando deixar os meus olhos. Não sei o que está me doendo mais, o seu tapa ou a sua falta de confiança em mim.

— Você estava com ele na biblioteca? Diga a verdade Hye — ela estava tão furiosa e contida ao mesmo tempo, me causava calafrios.

— Não, mamãe. — Minha voz estava densa por causa das lágrimas não derramadas.

Ela me empurrou no chão com o joelho e antes que eu pudesse me dar conta de que havia batido a cabeça com tudo no chão, o seu pé começou a esmagar o meu pescoço. Estou sufocada, sinto o ar entrar com cada vez mais dificuldade, em busca de me libertar tento empurrar sua perna mas ela é muito mais forte que eu.

— Eu sempre te ensinei a não mentir, te levei para o caminho certo e você agradece assim? Tudo bem, não me diga a verdade, mas se eu ver você a menos de um metro de distância dele, iremos ter mais conversas como essa. Deus está vendo, Hye.

Ela tira seu pé de mim e sai me trancando no meu quarto. Começo a tossir forte recuperando meu fôlego e tocando repetidas vezes o meu pescoço para aliviar a pressão que estava sentindo.

— Você fará jejum pra se purificar das suas mentiras e ore antes de dormir pedindo perdão a Deus — ela disse do outro lado da porta.

Deito-me na cama ainda tossindo um pouco e choro ainda mais, abraçada a mim mesma. A culpa é toda minha, se eu tivesse dito logo o que estava acontecendo nada disso teria ocorrido. A minha mãe está certa, ela só está pensando no meu bem. Eu sou mesmo uma ingrata.

Good or BadOnde histórias criam vida. Descubra agora