Capítulo Seis

1.2K 189 147
                                    

O capítulo contém violência e possivelmente gatilho. Leia por conta e risco.

Boa leitura


O prazo para a entrega da bendita pesquisa está acabando. E eu não vejo a hora de me ver livre de Taeyong, graças a ele, não intencionalmente, estou tendo problemas com a minha mãe e não gosto quando ela fica brava comigo. Sempre termino machucada e me sentindo mal comigo mesma por decepcioná-la. 

Hoje é sábado, o único dia da semana que tenho folga da universidade e da igreja — que Deus me perdoe por tal pensamento — então não deveria estar pensando nos perrengues que venho passando internamente. Está me desconcentrando do meu desenho… ainda não sei o que é, mas lembra algum rosto. Já fiz vários, cerca de oito, mas ainda me sinto entediada. Se ao menos os canais daqui de casa passassem algum filme sem ser bíblico eu poderia me animar um pouco. Não que eu não goste, são todos interessantes, porém o problema é que eu já vi todos e talvez já tenho as falas decoradas. Não deveria pensar desse jeito, sinto que não é certo. Se eu nunca vi nada diferente até hoje, é por algum motivo especial.

— Hye seu quarto está um chiqueiro arrume logo antes que eu faça isso por você.

Mamãe entrou em meu quarto sem antes bater mas não me assusto, já é comum para mim.

— Não está tão sujo assim.

Dei uma olhada ao redor vendo apenas algumas roupas pelo chão, não está tão mal quanto ela diz.

— Como não? Olha só a quantidade de papéis — ela tem em mãos o meu trabalho  com Taeyong.

Céus, eu estou perdida. Numa reação de quem tenta evitar o inevitável eu levantei bruscamente da cama com medo de que ela veja o nome dele entre as linhas e pela cara que a mesma está fazendo presumo que notou e não havia nada que eu pudesse fazer.

— Você pode me explicar o que é isso? — Mamãe ergueu os papéis quase os amassando.

— Um trabalho… — apertei os meus dedos com meu corpo trêmulo na espera dela gritar comigo.

— Com aquele garoto?! — Ela esbravejou palavras quase fazendo a pesquisa virar uma bola de papel.

— Mamãe eu posso explicar. — Juntei minhas mãos em súplica, pensando em ficar de joelhos para fazê-la me perdoar.

— Acho bom você me contar direitinho o que está acontecendo ou isso vai virar picadinho.

Mamãe ameaçava rasgar as folhas ao meio. Eu não podia deixar isso acontecer, o que eu vou dizer ao Taeyong? Ele também contribuiu para a realização do trabalho e ficará sem nota por minha causa se eu não pensar na melhor maneira de consertar tudo.

— Não rasga mãe por favor, isso não é apenas meu, é do Taeyong.

— O que foi que eu disse a você Hye? Que não queria você com aquele drogado e você me aparece com uma dessas?! Como se atreve a me desobedecer?

Os músculos do seu rosto parecem todos tensos, a mandíbula apertada e seus olhos chamuscam um ódio descomunal. Maior do que eu mereço.  Maior do que minha culpa e eu queria fugir, sair correndo gritando mas não conseguia, tinha medo das consequências caso me atrevesse a deixá-la falando sozinha.

— Mamãe eu não tive culpa, o professor mandou nós fazermos juntos.

— Eu não irei cair nessa, tá achando que nasci ontem? Além de ter passado por cima das minhas ordens, você mentiu pra mim, e isso eu não admito.

Mamãe jogou os papéis no chão como se não fossem nada para mim, mas estou grata por ela pelo menos não ter rasgado. Senti o coração na garganta e fiquei enjoada de tanto medo do que estava por vir.

Não importa quanto eu chorasse, o fôlego me faltasse, nada mudava a ameaça nos olhos dela. E quando ela saiu eu senti o medo da incerteza do que aconteceria comigo perfurar os meus ossos, as minhas pernas tremiam e minhas mãos gélidas tentavam acalmar o meu corpo passando repetidamente em meus braços.

Quando menos eu esperei, mamãe voltou e algo invisível se fez presente na minha garganta me impossibilitou de engolir saliva. Aquilo… ela vai me bater com o cinto do horror. Tenho diversas lembranças dele.

— Lembra disso? — Ela bateu o objeto de couro no ar me fazendo recuar, com meu peito doendo por lembrar a dor que isso já me causou.

— Por favor mãe não faça isso. —  Supliquei entre soluços, minha vista já estava turva por conta das lágrimas mas o sorriso no seu rosto que eu consegui enxergar, me deu calafrios já sentindo o meu corpo cansado da sensação ruim de tremor.

— Você tem que ser purificada, se o jejum e a oração não deu certo, eu darei.

Ela deu a primeira cintada nos meus ombros e o grito que antes eu não estava conseguindo dar, rasgou a minha garganta. A dor era tão grotesca, aguda, que senti náusea e minha mente se apagando por curtos segundos antes de ser atingida pelas correias enferrujadas nas pernas e nas coxas. Em reação a isso dei alguns pulos e me joguei no chão me contorcendo, não sabendo como fazer a dor passar, eu acariciava os machucados mas ardiam ainda mais quando fazia.

Mamãe deu um tempo dos ataques e jurei que aquela tortura já havia terminado. Doce e trágica ilusão. O meu corpo parou de lutar contra a dor quando fui atingida nas costas, uma sensação horripilante de algo rasgando brutalmente a minha pele e algo quente descer por minha coluna. Parou para me fazer sentir que estava queimando viva.

— Vai tomar um banho agora! — Mamãe ordenou e eu mal conseguia me levantar. Literalmente me arrastando, deixando rastros de sangue por onde passava, cheguei ao banheiro onde consegui ver as marcas inchadas e avermelhadas. Desesperei-me quando vi sangue escorrendo por minhas pernas, estou apavorada e sem entender como ela pôde chegar nesse ponto comigo. Nunca tinha me feito sangrar e agora tenho uma ferida feia nas costas.

Pus um pé depois o outro vendo a água próxima do ralo ter coloração avermelhada graças a mim e quando tomei coragem para entrar com tudo embaixo do chuveiro a dor se triplicou, tive que me apoiar na parede para não ceder ao meu peso e desabar com a pior sensação que já senti em toda a minha vida. Gritos meus ecoavam me causando ainda mais vontade de chorar e assim parecia um ciclo sem fim onde iniciava na dor e terminava na dor.

Tratei minhas feridas sozinha, com o quite de primeiros socorros que ficam no meu banheiro. Não consegui alcançar bem a parte do corte em minhas costas, mas fiz o melhor que podia. Pus um curativo torcendo para que não tenha nenhuma infecção por conta da ferrugem do objeto.

— Aconteceu alguma coisa querida? — Papai perguntou estranhando a maneira que eu estava andando. Fui só pegar um copo d'água e acabei esbarrando com ele na sala.

— Ela só está com cólica não a perturbe. — Mamãe aparecer como uma sombra atrás do meu pai, fazendo sinal de silêncio atrás para que eu não contasse nada a ele.

— É isso pai, não se preocupe.

Quem sou eu para contrariar a minha mãe.

Meu pai ficaria ao lado de mamãe de qualquer modo, não adiantaria contar. Ele sempre acreditava nela. Eu perderia meu tempo me queixando a ele sobre minha mãe. E ela também nem sempre é assim… ou é?

Subi para o meu quarto e deitei de lado na cama. Todo meu corpo doía, mas eu estava começando a me acostumar com o incômodo.

Good or BadOnde histórias criam vida. Descubra agora