Capítulo cinquenta e um

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Consigo convencer Jisung a ouvir as explicações do nosso pai. As coisas que passamos tem pesos diferentes e consequências semelhantes: os traumas. 

Vai doer tudo que iremos ouvir independente dele ter sido conivente ou não, por que receber explicações de alguém que nos machucou não é fácil e mais difícil ainda é ceder o perdão.

Em silêncio e atentos meu irmão e eu sentamos lado a lado em um sofá que fica de frente ao que está nosso pai. Quero olhar em seus olhos enquanto ouço cada palavra que tem a me dizer. 

— Eu deveria ter ficado alerta com os sinais… e não ter me deixado levar pelas desculpas bobas dela, desde o primeiro dia em que notei algo estranho na mãe de vocês. Como se recordam, vocês começaram a ir para igreja desde muito pequenos. Eu achava bonito vê-los ali, servindo a deus. Mas vocês eram novos demais pra aguentar ficar sentados nas bancas por duas horas, sem conversar ou brincar. Num certo dia, vocês desobedeceram a mãe de vocês e foram brincar perto do jardim que tem do lado da igreja, eu não achava perigoso vocês estarem ali, por que continuava sendo dentro do templo e tinha obreiros por lá. Mas a mãe de vocês não pensava igual a mim e deu bronca nos dois e beliscões também. Não gostando da atitude dela, pois vocês eram só crianças, eu a repreendi, dizendo que invés de vocês passarem todo aquele tempo na igreja, deveriam estar brincando. Ela não me disse… ficou na sua. 

Papai parou sua narrativa e pegou um lenço do bolso da sua camisa polo laranja. Me magoa vê-lo desse jeito, porém não poderíamos tardar essa conversa. Nós três precisamos disso.

Inspirando forte depois de limpar os cantos dos seus olhos ele continuou: 

— Eu só não contava com o que ela iria fazer no dia seguinte. Com você Hye. — Ele olhou para mim e meu coração se comprimiu em pavor. — Sua mãe saiu de casa deixando a porta aberta e atravessou a rua, quando um carro estava se aproximando ela começou a chamar você e acenar pra que você fosse até ela… se não fosse pelo motorista que freou a tempo e por mim que corri assim que vi você querendo atravessar a rua, não sei se estaria aqui. Hoje. — A voz embargada junto a coisa horrível que me contou fez lágrimas caírem e molharem meu rosto. 

Por algum motivo ou bloqueio, não consigo lembrar desse dia. Pode ser que seja melhor assim, acho que ficaria ainda mais horrorizada caso tivesse na lembrança que quase fui atropelada graças a minha mãe. Que ela me odeia desde sempre. 

— Então ela me disse: "Viu o que acontece se você se envolver na criação dos meus filhos?" Nunca vou esquecer das suas palavras, do olhar estranho que tinha naquele dia. Mas estranhamente no outro ela fingiu que nada tinha acontecido e parecia ter mudado, cuidava bem de vocês na minha frente. Sempre achei estranho todos os cuidados que ela tinha com vocês, mas ela sempre me convenceu que era pro bem de vocês, que foi assim que ela foi criada e que vocês a agradeceriam no futuro. Eu sinto muito por não ter sido muito presente em suas vidas, passo a maior parte do meu tempo no trabalho e não vi o que estava acontecendo embaixo do meu nariz. Me perdoem por ter dado uma mãe tão ruim a vocês, que me enganou todo esse tempo e a vocês também. Me perdoem filhos… 

Papai abaixou a cabeça e cobriu seu rosto com o lenço branco. As laterais do seu rosto estavam vermelhas pelo seu choro contínuo e abrangente. 

Estou convencida por suas palavras, papai quase nunca estava presente em casa, todas as vezes que mamãe me bateu ele nunca estava aqui e ela nunca me deixou contar nada a ele. Todas as coisas quem resolvia era ela, todas as permissões, todos os meus pedidos para ir a alguma festinha da escola. Por que ela sabia que se eu pedisse ao papai, ele iria deixar, como fez no dia em que Morgana veio aqui me convidar para passar a noite em sua casa. Nós nos aproximamos e senti que ele estava contente com isso também, mamãe nos manipulou todo esse tempo, para que ambos não tivessem tanto contato um com outro mesmo estando dentro da própria casa. Ainda sim não consigo entender o motivo, não me entra na cabeça por que ela fez de tudo para afastar os filhos do próprio pai. É incompreensível.

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