Capítulo dezoito

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Se não fosse pelo pai de Hye, a sua mãe iria enchê-la de perguntas e possivelmente se irritar com as respostas.

O jantar seguia em paz e em silêncio, mas a garota estava pensando em como sair de casa para poder falar com a mulher que lhe ajudaria ou lhe prejudicaria.

— Mãe, eu posso ir na casa da irmã da escolinha dominical, pra ajudar com o restante das lembrancinhas? — Ela indaga um pouco nervosa após o jantar. 

— A essa hora? — A mulher questiona ensaboando a louça.

— Bom... Ela não tem muito tempo pra fazer, por isso pede minha ajuda, e eu não pude ir hoje a tarde. 

Hye aperta a barra da blusa tentando controlar o nervosismo de sua fala. Apesar de estar melhorando, ainda é desesperador quando tem que mentir.

— Tudo bem, mas volte às 20:00 é perigoso tá na rua tarde da noite.

— Tá. 

Ela dá um beijo na mãe e vai para o quarto se trocar. Felizmente sabe o endereço da tal irmã, já foi em sua casa algumas vezes para oração. Não é muito longe da sua, e pode ir tranquilamente a pé. 

O que achou estranho, é que a sua mãe não costuma deixar ela sair a noite sem ser ir para igreja. Talvez esteja boa demais. Ou é mais algum plano para pegar a menina na mentira? 

O mais importante no momento é tentar. Se for castigada, não será por que deixou de mão por medo. 

Com inúmeras desculpas na cabeça, Hye foi até a casa da senhora, não tem tantas pessoas nas ruas, mas a lua estava tão bonita que deixava o ambiente reconfortante. A garota respirava profundamente o ar noturno.

Andando sozinha nas ruas durante a noite... Quem diria Hye. E sem destino para ir a igreja. 

O vento gelado dava uma falsa sensação de liberdade para ela, que adorou sentir isso. 

Muitas garotas caminham com medo numa rua deserta, mas ela estava quase a cantarolar. Não sabia que poucos minutos de liberdade seriam tão bons para ela.

Chegou a residência da mulher e cruzou os dedos pedindo que ela estivesse em casa e acordada. 

A irmã, que não recebe tantas visitas nesse horário, saiu com roupas de dormir ao portão.

— Hye? — Ela diz ainda tentando enxergar totalmente a fisionomia da menina.

— Oi irmã, eu posso falar com a senhora?

— É algo grave? — A pobre mulher já pensou em seus filhos que estão longe e que não lhe dão tantas notícias. 

— Não, não se preocupe, é apenas um favor que vim pedir.

— Graças a Deus. Vem, entra, deve está frio aí fora.

— Não está tão ruim, mas obrigada.

A mulher vai buscar as chaves para o grande cadeado de seu portão. Elas vão até a sala e se sentam no sofá.

— Perdão pelas minhas roupas, eu não sabia que viria. — ela pega seus óculos.

— Eu que peço desculpas por vir assim. Mas é algo muito importante pra mim... Eu queria pedir que se a minha mãe falar com a senhora, perguntando se segunda eu estava te ajudando com as lembrancinhas das crianças, diga que sim, por favor. — a menina junta as mãos em um pedido tão simples, mas para ela parecia tão imenso.

— Posso, mas porque quer que eu minta? — A senhora arruma o óculos e franze o cenho.

— Eu estava conversando com uma pessoa durante o culto, pra resolver uns problemas da minha faculdade, e a minha mãe não concorda muito com isso. Eu tive que mentir e acabei lhe envolvendo nisso. Me desculpe. — ela abaixa a cabeça envergonhada.

— Não se preocupe, eu vou te ajudar, mas isso de mentir pra sua mãe não é certo. Deus não se agrada disso. — a irmã acaricia as costas da menina com pena dela. 

— Eu sei, mas é que foi preciso. Eu não gosto de mentiras mas se eu contasse a verdade minha mãe me mataria. 

— Esse será nosso segredo, mas em troca eu peço que você não minta mais aos seus pais. Honrar pai e mãe, lembre disso. 

— Obrigada, irmã. 

As duas se levantam e vão até a porta. 

Se despedem e Hye aproveita novamente a brisa da noite. Mas a sensação boa da ida não foi tão sentida na volta. 

Ela sentia que estava sendo observada ou perseguida. Seu corpo gelou e nem é pelo frio que fazia, mas pela ansiedade e o medo de ser alguma pessoa ruim. Hye olhava para trás constantemente, mas não via ninguém. A rua estava vazia e a lua estava sumida entre as nuvens. 

Quando sentiu uma mão em seu ombro fez seu corpo travar, sua garganta secar e fechar. Ela queria gritar, mas não conseguia, e correr muito menos. 

Quem poderia estar atrás dela? Um assaltante? Um estuprador... 

Eram tantas dúvidas em sua mente que o medo da morte já lhe corria pelas veias.

— Já terminou de fazer as lembrancinhas? — A voz rente ao seu ouvido era inconfundível não sabia se tranquilizava ou se temia ainda mais por ser a sua mãe.

— Ela... Ela...

A mente já havia pensado em uma desculpa mas a boca não conseguia proferir. Sua respiração se tornou ofegante, e ao menos tinha corrido.

— Ela o que menina? — Sua mãe finalmente saiu detrás dela e ficou ao seu lado.

— Ela já terminou, quando eu cheguei já não tinha mais o que fazer. — Hye mentia descaradamente, tentando ir embora dali.

— Hum. Vamos embora, me agradeça por vir te buscar, olha como a rua tá vazia.

As duas caminharam juntas e Hye demorou alguns minutos para digerir tudo que acabou de acontecer. Estava mais aliviada por ter a irmã ao seu lado, se ela se recusasse a ajudar, seria muito pior. Pois contaria que a menina tentou lhe pedir para que também mentisse.

— Não pense que eu acreditei nessa história de lembrancinhas pra criança. Eu irei falar com a irmã e se for tudo uma mentira se prepare para o próximo castigo, acredite que vai ser bem pior que aquele. — A senhora diz baixo para a menina antes delas entrarem em casa. 

Mas ao invés de ficar com medo, Hye sorriu de lado, pensando que ela só perderá tempo indo perguntar. 

Claro, se a irmã não lhe trair. 

Good or BadOnde histórias criam vida. Descubra agora