Taeyong Povs.
A santinha é tão previsível que mora perto da igreja. Umas ruas depois, mas não demorou mais que meia hora para chegar.
A casa é bem arrumada, mas parece mesmo que gente evangélica mora aqui. Tem um pequeno e nem tão cuidado jardim de frente, e as luzes do andar de cima estão apagadas.
— O que vocês vieram fazer aqui? — A menor pergunta a mim.
— Um lance da universidade, não esquenta...
— Tenho que ir, os meus dirigentes devem estar me esperando. Até mais Taeyong. — ela me dá um beijo no rosto e vai embora.
— Iludindo garotinhas da igreja Tae? — Morgana cruza os braços.
— Eu não iludo, apenas peço favores pela Hye. Não inventa coisa.
Olho ao redor pensando em como eu vou subir até um dos quartos e que seja o da santinha.
— Você faz muitas coisas pela minha amiga. Por acaso você não tá gostando dela?
A olho de imediato não acreditando na merda que está dizendo.
— Eu já te falei pra sair dos seus contos de fadas e focar na vida real. Ela não faz o meu tipo, e não me enche mais com esse assunto.
— Você é um chato mesmo, tinha esquecido da sua ignorância.
— Faz parte da minha essência. Agora cala boca e me ajuda a pensar em como eu vou subir.
Ela finalmente cala a boca e começa a procurar possibilidades de me ajudar a subir no segundo andar.
— Tem essa árvore, você consegue subir?
A árvore na casa do vizinho, é um pouco alta, mas alguns galhos estão perto do quarto.
— Acho que sim. Se precisar, distraia a velha.
— A mãe de Hye?
— E quem mais séria?
Me apoio na árvore e coloco meu pé esquerdo em um buraco pequeno. Eu espero que as velhas loucas que devem ter nessa rua não achem que é algum ladrão. Ou até mesmo a mãe da santinha me veja.
Eu sempre fujo da minha casa, e do lado do meu quarto tem uma árvore, por onde eu desço. Não foi muito difícil chegar nos galhos dessa. Ando devagar me certificando que é seguro e que o galho não está para se quebrar. Dou um pulo sem olhar para baixo, ainda tenho um pouco de medo de altura, mas estou trabalhando nisso. A janela está destrancada. Se esse quarto for o da velha, eu estou fudido. Entro dentro do quarto que está totalmente escuro, e ouço uns gemidos que parecem de dor. Consigo distinguir bem um gemido de prazer.
Vou chegando mais perto e sinto o perfume inconfundível da santinha.
Ligo a minha lanterna e ponho em seu rosto. Que de imediato se assusta, e não somente ela, mas também a mim, com a cena que vejo.
— Taeyong! O que está fazendo aqui? A minha mãe vai te matar e a mim também. — ela está de joelhos no chão amarrada e com o rosto sangrando.
— O que fizeram com você? — Me ajoelho ao seu lado. Olhando bem seus olhos que estão inchados de chorar.
— A minha mãe... — ela volta a chorar, mas é um choro baixo, como se estivesse acostumada a não fazer barulhos.
— Por que ela fez isso? E o que faz ajoelhada? — Tento levantar mas ela geme de dor e eu a solto com medo de machucá-la ainda mais.
— Tô de castigo, meus joelhos estão doendo muito. Já faz uma hora que estou assim.
Como uma mãe é capaz de fazer isso com seu próprio filho? As coisas que passo com meu pai, são fichinha comparado com o tamanho maus tratos da menina. Eu queria tanto lhe abraçar e a tirar dessa casa.
— Levanta um pouco, ela não vai saber. Deve tá doendo muito.
— Eu não posso. Minha mãe ameaçou me jogar da escada se ver que eu saí.
Ela chora enquanto fala e meu coração se aperta, eu nunca tinha presenciado algo assim antes.
— Se ouvir passos você volta, mas levanta um pouco.
Ajudo Hye a levantar e me dou conta que ela não está ajoelhada apenas no chão e sim em feijões que estão sujos de sangue. Seus joelhos estão em carne viva e alguns grãos grudados em sua pele. Já vi coisas horríveis, mas essa cena me deixou mal. Eu não posso deixar que as coisas continuem assim, se eu posso ajudar.
— É a primeira vez que ela faz isso?
Nós sentamos na cama.
— Sim, mas não é o primeiro castigo que ela me dá. A última vez foi horrível.
Eu lhe abraço.
— Você deveria denunciar, isso é maus tratos Hye.
— Mas ela é minha mãe. Eu não posso fazer isso contra ela.
— Você entende que é errado não é? Não pode deixar que isso continue assim. — limpo suas lágrimas.
— E o que quer que eu faça? Não tenho pra onde ir. Conversar com ela não vai mudar nada.
— Eu vou te ajudar. Você confia em mim? — Seguro em seu queixo, e vejo o pedido de socorro em seus olhos.
— Sim, eu não sei mais o que fazer.
Ela me abraça e volta a chorar em meu ombro. O tanto de pressão psicológica que não deve sentir, os maus tratos... E isso acontece logo em uma família evangélica, onde deveria ter muito amor. Por isso eu não consigo deixar de ser ateu. Como um deus seria capaz de deixar uma pessoa inocente passar por tudo isso? E em sua própria casa.
— A minha mãe tá subindo, se esconde.
Ela corre com dificuldade para o lugar de seu castigo, e pulo a janela, me escondendo do lado de fora. Dá tempo de fechar e eu tento escutar o que a mãe dela irá dizer.
— Por que aquela garota da sua faculdade veio aqui? Ela tá te encobrindo em algo?
— Quem veio? A Morgana? Ela deve estar preocupada comigo.
A vibe dessa mulher é tão sinistra que me deixa mal.
— Aquele drogadinho não tá aqui não né?
Ao que parece, ela começa a revistar o quarto à minha procura. Se abrir a janela, a Hye estará perdida.
— E por que ele viria? Não somos nada.
— Acho bom mesmo, tem mais uma hora de castigo.
A porta é fechada e para não correr o risco, eu desço pela árvore e me encontro com Morgana.
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Good or Bad
Roman pour AdolescentsCriada em uma família tradicional evangélica, Hye não sabe distinguir bem o que é melhor para si mesma sem ser baseado nas coisas que sua mãe fala. Ela concluiu o ensino médio, mas agora sua nova jornada é numa universidade onde tudo irá mudar. Con...