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🎧Instrumental "The Perfect Pace   2°Tempoarda" 🎧

Narration's POV:

Clara começa a folhear os diários do seu filho:
"Este é o meu primeiro diário e... Bom, eu não sei muito bem o que escrever nele, mas, eu só sei que as coisas na minha casa não são boas. Os meus pais estão brigando de novo, é a terceira vez só nesta semana, às vezes eu acho que eles não se amam mais..."

Clara consegue perceber algumas folhas soltas no meio do caderno, eram algumas fotos suas com Renato da época em que ela ainda estava grávida de Alex e lembranças começam á vir na sua mente:

21 anos Atrás:

— E aí, qual é o resultado? — O homem pergunta eufórico enquanto batia os seus pés no chão de madeira impacientemente enquanto apoiava o queixo nas suas mãos.
— Eu estou grávida! — A mulher diz com lágrimas nos olhos estendendo o teste de gravidez na direção do homem e automaticamente Renato se levanta do sofá para abraçar a sua mulher. Á partir de agora os dois iriam formar uma família.
— Eu te amo meu bebê. — O homem diz se colocando de joelhos e beijando a barriga de Clara.

— E então doutor, o que temos aí? O meu bebê está saudável? — Clara pergunta apreensiva enquanto sentia o médico passar o aparelho de ultrassom sobre a sua barriga.
— Sim, podem comemorar, este garoto está muito saudável. — O médico diz entregando um sorriso para os dois.
— C-como assim, G-garoto? — Clara pergunta já sentindo as suas lágrimas pelo rosto.
— Meus parabéns, o bebê de vocês é um menino. — Assim que o médico diz isso Clara e Renato começam á chorar e então Renato se aproxima e deixa um beijo apaixonado nos lábios da mulher e se aproxima do monitor do ultrassom:
— Eu te amo meu filho, você é o meu garoto. — O homem diz choroso enquanto beijava o monitor da sala de ultrassom.

"Eu amo os meus pais e eu não gosto de ver eles brigando, e tudo isso é por culpa minha. O meu pai só quer o melhor para mim, mas, o que ele acha que é o melhor para ele não é o melhor para mim, ele quer que eu pratique algum esporte, mas, eu não quero isso para minha vida... Eu não gosto disso, eu quero seguir a minha verdadeira paixão, que é a música."

— Pai, e-eu decidi o que eu quero ser quando for mais velho. — O garoto diz se sentando na mesa do jantar junto do seu pai.
— E o que é? — O homem diz olhando para o pequeno garoto á sua frente.
— Eu não gosto de esportes pai, eu não levo jeito para isso, mas, eu descobri o que eu realmente gosto de fazer... E-eu quero trabalhar com a música, eu quero ser DJ. — O garoto diz e encara o homem, esperando alguma resposta de seu pai, com um sorriso.
— Como é que é? DJ? E você acha que isso dá dinheiro?! — Renato diz aumentando o seu tom de voz para o garoto. — Eu quero te criar para você ser um homem independente, e não para você ficar passando fome e ter que depender do meu dinheiro ou do da sua mãe.
— Se acalma Renato, deixa o Alex terminar de falar. — Clara diz preocupada tentando acalmar a situação.
— Ele vai me falar mais o quê? Isso já é o suficiente para mim. E fique você sabendo que eu não apoio essa ideia, e não conte comigo para isso. — O homem diz irritado apontando o dedo na cara do garoto e então se levantando da mesa. O garoto apenas abaixa a cabeça chateado e sente seus olhos arderem pelas lágrimas.

"Eu só queria que ele me entendesse, mas às vezes parece que ele nem se esforça para fazer isso, e isso está acabando comigo cada vez mais. Os meus pais não param de brigar e eu quase não vejo mais o meu pai, eu me pergunto se ele realmente queria ter uma família, a cada dia que passa me parece que ele gosta mais do emprego do que da própria família."

Clara começa a olhar mais algumas fotos que estavam na caixa, fotos muito antigas dela, de Renato e do pequeno Alex, tudo isso da época em que eles ainda moravam no Brasil, uma delas, era uma foto de Renato, que estava todo orgulhoso por estar ensinando o seu filho a jogar futebol, já a outra foto mostrava Clara, sua irmã e sua mãe, todas as mulheres orgulhosas e sorridentes porque o pequeno Alex tinha um violão de brinquedo em suas mãos e ele fingia tocar aquele instrumento muito bem.

"As brigas dos meus pais continuaram durante um bom tempo e, quando o meu pai estava em casa ele quase não olhava para mim, e também eu não saia do quarto, mas, isso me ajudou a aumentar a minha paixão pela música, eu segui o meu sonho de ser DJ e, de certa forma, a música me ajuda a escapar do mundo real e a não escutar a briga dos meus pais quase diariamente no andar de baixo.
Mas chega uma hora que isso realmente me cansa, isso é exaustivo e eu só queria que as coisas voltassem a ser como eram antes."

"Nessa última semana eu recebi uma notícia que me deixou muito feliz, eu descobri que a mamãe está grávida de novo, isso significa que eu vou ter um irmãozinho, (ou irmãzinha). Eu espero de verdade que seja outro menino, quem sabe assim o meu pai fique mais feliz e ele consiga dessa outra criança o que ele não conseguiu de mim."

"Hoje eu acabei de ficar sabendo que eu vou ganhar uma irmãzinha, o bebê da minha mãe é uma menina. Não foi um menino, como eu esperava, mas, pelo menos o meu pai ficou feliz de novo. E isso não significa que eu não vá amar a minha irmã. Eu estou muito ansioso para ela nascer logo."

Priscilla's POV:

O Alex não pode ter ido tão longe assim, por isso eu não hesitei em procurá-lo em um lugar que ele provavelmente está, no "Tru By Hilton Cleveland Midtown" que é um hotel que não fica muito longe da nossa casa.
Assim que eu chego na recepção do hotel eu vou direto para o balcão e pergunto pelo nome do meu irmão e a recepcionista disse que ele estava em um quarto no segundo andar, fim do corredor. Eu sigo o meu caminho até lá e bato na porta que logo é aberta pelo meu irmão com uma cara de quem não dormiu e que estava chorando á horas. Eu entro no quarto sem nenhum aviso e ele me encara irritado.
— A gente precisa conversar, você não acha?

"Bom, parece que as minhas hipóteses estavam erradas, eu pensei que com a notícia do nascimento da minha irmã o meu pai fosse ficar mais feliz, mas, na verdade, parece que tudo ficou ainda pior. As brigas entre ele e a minha mãe ficaram ainda mais frequentes e barulhentas, os únicos lugares onde eu me sinto em paz são no meu quarto, trancado e na escola.
Por incrível que pareça eu consegui fazer um colega na minha sala de aula, ele é aluno novo e nós começamos a conversar... Eu gosto muito dele, ele é o meu primeiro amigo de verdade e eu sinto que eu posso confiar nele."

"É... Vários anos se passaram e nada mudou, absolutamente nada. A minha irmã já está com sete anos e eu não estou nada bem com isso. O meu pai simplesmente morre de amores por ela, mas, ainda sim, continua pegando no meu pé o tempo todo.
Na verdade eu sinto que a minha irmã é a única que me entende nessa casa, ela sim me apoia no meu sonho. Ela sempre entra no meu quarto para ver o que eu estou fazendo e isso, de certa forma, me alivia bastante.
As brigas aqui em casa continuam constantes e eu não sei como mudar isso. A única coisa que eu continuo fazendo é me isolar no meu quarto e pelo menos agora eu tenho um amigo com o qual eu possa desabafar na escola, a minha irmã não gosta de ver os nossos pais brigando, por isso ela vem para o meu quarto. Ela gosta do que eu faço e na maioria das vezes eu compartilho com ela as músicas que eu faço."

— A gente não tem nada para conversar Priscilla, vai embora. — Alex diz abrindo a porta novamente para eu sair.
— Ah não? Você simplesmente some sem falar nada e você quer que eu não dê a mínima?
— Eu tenho os meus motivos para estar fazendo isso e nenhum deles tem a ver com você.
— Quais são os seus motivos, Alex? Porque até agora eu não consegui entender o porquê de você estar agindo desse jeito. E tudo isso começou desde que o nosso pai voltou.
— É exatamente aí que está o problema, e eu já falei para você não vir com essa de "nosso pai". Ele não é o meu pai, não mais.
— E por que não Alex? Eu pensei que quando ele voltasse você fosse ficar feliz, mas é completamente o contrário. Por que isso?

"O que estava ruim na minha relação com o meu pai, conseguiu ficar ainda pior. Eu acho que pelo fato dele ter finalmente percebido que ele não vai conseguir com que eu siga os passos que ele quer que eu faça, ele está ficando muito frustrado com isso.
De uns tempos para cá ele vem saindo muito de casa tarde da noite e tem voltado bêbado, ele acha que nenhum de nós percebe, mas, dá para saber.
E agora as brigas com a minha mãe que no começo eram apenas verbais, se tornaram físicas e muito violentas e, dessa vez, nem mesmo eu escapei de ser agredido pelo meu próprio pai em casa.
Na maioria das noites, depois de a minha mãe ir dormir chorando no quarto o meu pai entrava direto no meu quarto no meio da noite para me bater. Ele me batia de todas as formas que ele achasse possível e quisesse.
Com o chinelo, o meu tênis, um livro, o cinto das calças que ele estava usando... De uma coisa eu sei, ileso eu não saia e, é claro, eu ia dormir chorando todas as noites.
Mas pelo menos eu agradeço a Deus de ser eu, porque poderia muito bem ser a minha irmã a levar essas surras, o que seria muito pior."

— Aquele homem sempre batia em mim e na minha mãe, sempre. Ele sempre saia para beber no meio da noite e voltava bêbado, ele chegava em casa e brigava com a nossa mãe, batia nela e depois subia no meu quarto para me bater. Ele sempre me batia.
— Eu não me lembro disso, como você pode ter tanta certeza?
— Você só tinha oito anos naquela época, acho que você não lembra. O que mais me dói é ver você defender e amar tanto aquele homem.
— Alex, o que você quer que eu faça? Ele é o meu pai! Isso é egoísmo da sua parte.
— Egoísmo?! Egoísmo Priscilla?! Você não sabe disso, mas muitas das vezes eu já impedi aquele homem de bater em você. Muitas vezes eu fiz com que ele me batesse ao invés de entrar no seu quarto enquanto estava bêbado no meio da noite.

"Algumas noites chegavam a ser piores que as outras. O meu pai já tentou várias vezes entrar no quarto da minha irmã para provavelmente bater nela também, mas, eu impedia.
E acho que pelo fato dele não poder bater em nós dois ele descontava o dobro em mim. Em uma dessas vezes ele me deu uma surra com uma régua que estava em cima da minha mesa e me empurrou na cama. Eu fiz um machucado enorme nas minhas costas."

— A cicatriz enorme que eu tenho nas minhas costas, o que você acha que foi? Eu mentia para você dizendo que foi um machucado que eu fiz em um campeonato de futebol, mas não é. Foi o seu pai que fez isso. Em uma das noites que ele estava bêbado ele me deu uma surra com uma régua e me jogou no chão do quarto, eu caí na beirada da cama e bati as minhas costas. Ela cortou e eu tive que dar ponto no hospital.
— Alex, escuta o que eu estou te falando. Eu estou me sentindo muito sozinha, eu sinto falta do meu irmão. Eu não estou dizendo que eu não quero que você seja feliz, mas, desde que você começou a namorar o Vitor eu tenho me sentido muito sozinha e, agora que o meu pai está de volta eu não me sinto mais assim.
Eu sei que faz muito tempo que você não tem um relacionamento sério assim e eu te entendo, mas, tenta me entender também.
— Esse é o meu maior medo. Eu tenho medo que o meu pai tente fazer alguma coisa com o Vitor. Igual ele fez comigo no passado.
— O que ele pode ter feito de tão sério assim Alex?
— E-Eu não consigo falar...
— Alex, como você quer que eu te entenda se você não confia em mim?! — Eu digo já gritando por estar exausta desse assunto.
— Ele me estuprou! Foi isso que ele fez! O seu "papai", a pessoa que você tanto adora abusou de mim! E eu só tinha quatorze anos! E ele fez tudo isso porque eu me apaixonei por outro garoto.

"Ultimamente eu tenho ficado muito próximo desse meu amigo que eu fiz na escola. Nós conversávamos sobre absolutamente qualquer assunto.
Eu podia desabafar com ele a qualquer momento e ele sempre estaria lá para me ouvir.
Mas uma coisa que ainda estava muito estranha para mim, é que de uns tempos para cá eu vinha sentindo algo que eu nunca havia sentido antes... Eu estive negando isso para mim mesmo durante muito tempo, mas agora eu acho que eu sei... Eu estou apaixonado por ele.
Eu sei que não deveria ser assim, mas, simplesmente aconteceu."

"Hoje eu chamei ele para conversar em relação aos nossos sentimentos um com o outro e ele simplesmente não me falou nada no momento. Assim que chegou ao final das aulas, quando nós estávamos nos despedindo para irmos embora ele me surpreende com um beijo.
Eu não fazia ideia do que fazer, mas eu também não impedi que aquilo acontecesse, e aconteceu."

"Depois de algumas semanas de todo o ocorrido na escola eu não parei de pensar no garoto, e eu já não podia negar para mim mesmo o que está acontecendo em relação aos meus sentimentos.
Eu gosto dele, o que significa que eu posso ser gay, posso não, eu sou gay. Até porque eu nunca tive nenhuma namorada e eu nunca me interessei por qualquer menina por aí.
Agora é que vem a pior parte, ter que contar para os meus pais."

"Eu venho pensando sobre isso há uma semana e eu acho que finalmente chegou a hora de contar para os meus pais o que eu realmente sinto de verdade."

The Perfect Pace - 2° TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora