No caminhão em direção a Atlanta:
- Sabe, Ann, nunca conheci uma garota tão cheia de tatuagens - disse T-dog.
- Não são só tatuagens, são máscaras.
- Máscaras? - perguntou Glenn.
- Quer saber? Esquece. - Passei as mãos nos braços devido ao frio, que porra, porque não peguei minha jaqueta?
- Morena.
- Que foi Dixon?
- Daonde conhece meu irmão? - Será que ele sabia com o que Merle trabalhava? Eu devo contar?
- Ele, bom, ele era, m-meu chefe.
- Seu chefe? - Até o xerife dirigindo me olhou pelo retrovisor.
- Querem saber a real?- perguntei já estressada com esse assunto, é o fim do mundo! Quem pode me julgar? - Eu vendia drogas para velhos fudidos em cassinos. Merle me dava as drogas e eu as vendia, devolvia uma parte do dinheiro para ele, e o resto era tudo meu. - Achei que as reações seriam piores, mas ninguém ligou... Daryl só me encarava. - Posso acender um? - Ninguém se negou, então fiz um beckzinho com a maconha já dichavada que restava no bolso do meu shorts e traguei.
- Por que nos contou isso? - perguntou Rick.
- Um, o caipira aqui queria saber. Dois, nossas vidas de antes do apocalipse não importam mais. Ninguém pode me julgar por sentar no colo dos velhos ricos, seduzi-los e lucrar com isso - T-dog engasgou.
- Tem razão Ann, eu era entregador de pizzas - disse Glenn nos fazendo rir. Daryl ainda não parava de me encarar.
- Que foi? Não vai falar nada? Eu sei que eu sou gostosa mas não é para tanto né - falei divertida, nisso ele desviou o olhar ainda com a cara emburrada.
- Toma sua idiota - me entregou um colete.
- Para que isso? - soltei a fumaça na cara dele.
- Está com frio - disse apontando para os bicos acesos do meu peito.
- Isso aqui não é frio não - disse apertando a mão em cima para provocar - só estou excitada de estar presa num caminhão com você - fiz piada rindo, os outros me acompanharam.
- Achei que não confiasse em homens - disse Rick.
- Não confio, mas eu imobilizei ele no chão sem força alguma, e ele não tentou me machucar de volta - Daryl voltou a me encarar - então eu acho que confio nele sim. - Os caras assentiram e Dixon disse:
- Só veste logo - eu assenti, ali dentro tava mesmo frio. - E foi mal por ter, sabe, te chamado de puta.
- Ta tranquilo.
🧟♀️❤
Grimes estacionou em um trilho de trem. E disse que era melhor irmos a pé.
- Galera, acho meio burrisse irmos a pé, ta legal que é mais fácil de correr e tal, mas isso garante zero proteção - sussurrei preparando minha katana.
- Mas pelo menos não chama atenção - disse Glenn.
- Tudo bem então - joguei o cigarro no chão e pisei. Peguei uma pastilha de menta do bolso da minha mochila e coloquei na boca. - Alguém quer? - Ninguém respondeu. Fomos seguindo a pé. E matando os poucos zumbis que apareciam no caminho. Me aproximei de Daryl, eu estava uma idiota dando mole para ele. - Como chama isso? - apontei para sua arma.
- Besta.
- Ei, eu não sou besta.
- Não você, morena. A arma.
- Ata, ela é meio foda, não mais que minha katana, mais ainda sim foda. Me ensina a usar?
- Não.
- Qual é, para de ser rabugento. Você o primeiro homem que fiquei afim desde - parei para pensar - desde muito tempo.
- Afim? Será que você não ent- ele foi interrompido por Rick.
- Devemos pegar primeiro o Merle ou as armas? - decidimos primeiro o Merle.
...
Chegamos a loja. Acertei alguns zumbis que estavam no caminho. Depois que matamos todos os de dentro eu disse:
- Subam lá salvar o cuzão, acho que vou fazer umas comprinhas.
- Eu fico com você - disse Glenn - Também estrou precisando de roupas novas. - eu assenti.
- O que acha desse vestido? - apontei para um verde brilhante, muito feio.
- Nossa amiga, sua cara - falou me fazendo rir. - Que roupas se usa em um cassino.
- Trajes formais, o dia que tudo aconteceu, por incrível que pareça eu estava lá. Usando o meu vestido mais caro - falei lembrando - vermelho de seda, eu estava uma gostosa. Mas aí aquelas coisas começaram a entrar, todo mundo gritou e eu fiquei desesperada. Até que foi um dia foda. - ele riu.
- Você é doida.
- Um pouquinho talvez - falei sorrindo e enfiando mais umas peças de roupa na mala.
- O que você acha da galera do acampamento? - perguntou desviando do assunto.
- Razoavelmente legais. Fora a Andrea e aquele tal de Ed.
- O marido da Carol?
- Esse mesmo. Tem cara de ser um puta cuzão.
- Eu nunca reparei para falar a verdade. E como você imobilizou o Daryl daquele jeito? E sei lá, com o Merle no telhado, o que eu quero saber é, como você sabe se defender tão bem assim - disse o asiático enquanto trocava sua blusa.
- Japa, quando se é mulher, num mundo dominado por homens, nós precisamos saber nos defender, e problemas ambientais e crises só tiram o pior dos homens, que já são pscicopatas problemáticos por natureza.
- Ei.
- Desculpa se te ofendi, princesinha sofredora. Sempre foi assim, homens se achando melhores por ter um pau nas calças. Sabe como foi a criação dos seres humanos?
- Evolução e tal?
- Não, to falando da verdadeira criação. - falei já sorrindo e apoiando minha mochila na bancada para fechá-la, enquanto Glenn se apoiou ao meu lado, com os cotovelos no balcão. - Deus, criou uma mulher com 3 peitos, e um deles estava no caminho, então Deus fez uma cirurgia. A mulher perguntou "Deus, o que fazemos com esse peito inútil?", então Deus criou o homem - ao falar isso dei um soquinho de leves no pinto do coreano. Nós rimos.
- E quem foi que te contou essa história? - falou aproximando o rosto do meu.
- Ta tentando me seduzir? - eu ri, ele fechou a cara - Não leva a mão não. Mas você não faz meu tipo. - E as anjas do céu assopraram essa história no meu ouvido. - rimos de novo.
Eles voltaram com uma expressão séria. Sem Merle. Achei que o pior tinha acontecido. Mas não. Ele estava vivo.
Daryl passou esbarrando em mim, chorando. E Rick explicou que havia apenas a mão do Dixon mais velho lá.