zero. taking

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A CIDADE ESCAVADA, também constantemente chamada de Corte dos Pesadelos ou Cidade Entalhada, foi construída sob as montanhas da Corte Noturna para ser a morada do Grão-senhor, o lugar que ele governaria. Com suas paredes feitas de mármore, possuindo uma coloração cinzenta e detalhes em ouro, obras de artes pintadas de uma forma que tons escuros sempre predominam, além de candelabros espalhados por todos os corredores daquela cidade que na mesma medida que era bela, era um dos lugares mais traiçoeiros e cruel de Prythian. 

Demetria havia nascido nos corredores frios, uma criança abandonada para morrer que encontrou sorte ao ser ajudada por moradores que ainda mantinham um pouco de humanidade em seus corações. Ela viu a crueldade dos pesadelos com os próprios olhos e havia temido eles por anos a fio. Tinha inúmeras vezes corrido pelos corredores sombrios, tentando escapar do perigo que espreitava em todos os cantos daquele lugar. Presenciado crianças iguais a ela morrerem de fome. De frio, durante o inverno. E de doenças por não terem dinheiro suficiente para comprar poções. Ela já havia ouvido gritos dominados pelo desespero e horror das mulheres que não conseguiram escapar de um terrível destino nas mãos de seres cruéis. Homens morrendo de forma bárbara e tendo seus restos espalhados por todos os cantos da cidade.

Demetria sabia de todos os horrores daquele lugar que ainda ousava chamar de lar. Mas ainda
assim, não conseguia deixar ele para trás. Desistir da Cidade Escavada para si é simplesmente deixar com que crianças continuem morrendo, mulheres sejam abusadas e homens inocentes continuem sendo assassinados por zero justificativas. E ela se negava a fazer isso. A féerica não deixaria aquela cidade continuar sendo o lar de pesadelos, não mais.

Por isso, quando atingiu a maturidade, ela já tinha um objetivo e ele era bem simples: Tomar a Corte dos Pesadelos, não importe o que custe.  Mas, para isso, Demetria precisava se infiltrar e ficar próxima da política corrompida daquela cidade maldita. E então, com algumas piscadelas misturadas com risadas doces, rapidamente se tornou a esposa falsamente obediente de um lorde desprezível, o usando como um simples fantoche para sempre estar por dentro dos assuntos políticos daquele lugar enquanto forjava um acordo com um ex-espião que procurava seu lugar na Corte Noturna após ser perder seu cargo com a ascensão de um novo Grão-senhor. 

Séculos foram necessários para que consolidasse o plano que a colocaria como a nova administradora e governante da Cidade Escavada, mas finalmente ele estava sendo colocado em prática. Por isso que ela estava ali. Sentada em frente do macho que mais repudiava no mundo, fazendo de tudo para manter seu ar confiante e calmo, mesmo estando bem próxima de matar Keir e pendurar sua cabeça nos arcos dourados que ficam em frente a Cidade Entalhada para todos verem. Mas aquilo seria contra tudo que planejava para tornar aquele lugar um pouco melhor sem estragar a fama de povo sanguinário. E com certeza, destruiria todos seus planos.

— Ele não pode fazer isso.— Os olhos castanhos cheios de raiva e punhos se fechando em um aperto cada vez mais força acima da mesa sob os olhares atentos de Lionel e Demetria.— Rhysand não pode tirar esse lugar de mim, administro essa maldita cidade desde muito antes do nascimento daquele verme, essa Corte me foi dada pelo Grão-Senhor, meu irmão. Ele não pode sequer pensar em cometer esse erro absurdo. 

Keir claramente estava tomando pela raiva que reunia cada vez mais de seu sobrinho, principalmente depois de perder uma aliança tão poderosa com a Corte Outonal por culpa de sua bela filha que se encontrava fortemente protegida sob as asas do Grão-senhor e dos bastardos que nomeou como Mestre-Espião e General, respectivamente. Demetria ainda se lembrava dos gritos da mulher de corpo curvilíneo e longos cabelos dourados, de seus pedidos desesperados de ajuda que foram fortemente ignorados por todos enquanto a mesma era arrastada até os calabouços pelos cabelos pela sua própria família. Ela se lembrava de sentir-se a pior das pessoas por não ter estendido a mão para Morrigan, porém meter-se em uma situação daquelas iria estragar todos seus planos e infelizmente, eles valiam mais do que uma garota estúpida que não soube fazer as escolhas certas. 

Não sabia exatamente quanto tempo ficou ali, apenas em silêncio e atenta aos movimentos brutos guiados pela raiva incontrolável que Keir sentia pelo seu sobrinho que aparentemente estava lhe tirando o poder. Demetria não segurou o sorriso debochado, lançando um olhar cheio de significados para o amigo acomodado em uma cadeira ao seu lado que não pensou duas vezes, antes de simplesmente erguer seu punho fechado e o chocar fortemente na mesa de mogno, tirando o macho de seus pensamentos e comentários nem um pouco agradáveis. 

— Acho que se deixou levar por suas suposições muito rápido, Keir.— O tom levemente ameaçador de Lionel conseguiu fazer com que o atual administrador da Corte se calasse completamente.— Escute o que essa mulher tem a dizer.

Com um mero arquear das sobrancelhas escuras e crispar de lábios, a mulher de curtos cabelos castanhos sabia muito bem que tipo de comportamento aquele homem adotaria após sua mente deturpada enxergar alguma espécie de desafio nas palavras ditas por Lionel. Por isso, cansada de tanta enrolação, ela decidiu dar um basta naquilo tudo. Começando por calar aquele macho, algo que fez com rapidez. Pela Mãe, foi tão fácil deslizar para dentro das barreiras mentais, deixar com que sua magia agisse por conta própria ao dominar completamente uma das almas mais antigas daquela Corte, retirando sua capacidade de respirar por um breve momento, antes de obrigá-lo a prestar muita atenção em suas palavras enquanto afundava suas garras em torno do seu minúsculo cérebro. 

Lionel não deixou de sentir-se satisfeito ao se conta do que estava acontecendo. Vendo os olhos castanhos de Keir ficarem sem brilhos e focados na mulher em sua frente, seu corpo estático de forma anormal, até mesmo para ele que é um feérico acostumado a ficar horas imóvel por culpa de seus anos como espião. Apesar de minimamente preocupado com a impaciência que Demetria estava demonstrando ao usar seus poderes Daemati para calar aquele homem desprezível de forma eficaz, sabia muito bem que irritar aquela fêmea não é uma decisão muito sábia, principalmente quando seus olhos verde-musgo brilhavam perigosamente.

— Agora, quero que preste muita atenção no que vou dizer agora. Entendeu?— A mulher abriu um sorriso predatório, deixando seus caninos afiados em evidência ao ver a cabeça do homem se mover lentamente de cima para baixo.— Eu não estou seguindo ordens do Grão-Senhor.  Não lhe fiz perguntas e nem sequer citei aquele incapaz, caso não tenha percebido.

Demetria se levantou, colando a palma de suas mãos na madeira escura da mesa, inclinando-se sobre o homem, deixando com que sua magia ondulasse por entre seus dedos. 

— Apenas vim informar um fato.— Sua voz adquiriu um tom ameaçador enquanto fincava ainda mais suas garras na mente dele, vendo sua dor transparecer nas feições masculinas.— Essa corte me pertence agora. Eu a tomei das suas mãos e das do Grão-Senhor. E agora, que a Cidade Escavada tem um novo governante, você não é mais necessário. 

Os olhos castanhos do homem paralisado se arregalam ao se dar conta do que estava acontecendo. Do que aquilo se tratava.

A porta do escritório se abriu em um estrondo, revelando um homem esguio de vestes escuras e um sorriso malicioso que consigo trazia uma notícia que marcaria o início de uma nova era naquele lugar maldito.

— A Corte foi tomada. Nobres e todos os soldados que não se renderam estão presos.— O homem adentrou na sala, se ajoelhando lentamente diante da mulher e seu companheiro.— A Cidade lhe pertence agora, minha Senhora. 



Corte dos PesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora