• hades and persephone •

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Eu conseguia ouvir o som das sirenes e das pessoas chorando. O som estridente e incômodo de passos apressados indo de um lado pro outro dos socorristas que tinham que fazer o trabalho. Sentia o cheiro de fogo queimando e sangue. Sangue fresco e que eu tinha em mãos.

Mas eu não conseguia focar em nada. Minha visão estava turva e meus ouvidos pareciam tampados, submersos dentro de uma água inexistente. Eu me sentia afogar e meu peito doía. Eu ofegava em busca de ar e não era porque eu estava ferido. Não. Era porque meu coração se apertava cada vez mais, pelo motivo mais aterrorizante possível.

Você estava em meus braços, mas não estava respirando.

Um mês antes...

— Por que não podemos ter um cachorro? - questionei pela milésima vez, e tudo o que recebi foi um revirar nada sutil de olhos.

— Você já viu o tamanho da nossa casa? Não dá pra criar cachorro não mulher!

— E se for um pequeno?

— Nem se for um pequeno S/N, a gente não tem condição pra criar cachorro e passa mais tempo fora de casa do que dentro dela. - respondeu seco e automaticamente eu emburrei. — Não adianta insistir, a gente não vai pegar um cachorro.

Ah é, pois então me aguarde.

Durante a próxima semana inteira eu dei um gelo nele. Nada maduro da minha parte, eu sei. Mas é o único jeito que eu sei que funciona com o cabeça esquentada do meu namorado.

Katsuki riu escarnioso quando percebeu o que eu estava fazendo, mas pena pra ele, continuei fazendo do mesmo jeito. No primeiro dia ele estava tranquilo, não ligou e seguiu a vida normalmente. No segundo também, apesar de ficar me encarando com qquele olhar julgador de quem diz "cresce garota".

Foi no terceiro que ele se desesperou um pouco, quando veio pra me tocar e, quem sabe, iniciar uma sessão de sexo quente e eu simplesmente levantei da cama, e fui dormir no sofá. Que graças aos céus é confortável. 

Katsuki ficou maluco, e começou a se irritar comigo. Eu tinha que prender a risada toda vez que ele olhava pra mim, emburrado e com a pele quente, como se estivesse se controlando pra não explodir. Coisa que eu agradeci, porque esse apartamento pode ser pequeno mas não foi nada barato.

— EU NÃO VOU PEGAR A PORRA DE UM CACHORRO! - gritou no quinto dia, depois de uma sessão longa de desabafo do quão irritado comigo ele estava.

Eu liguei? Não, sangue ruim não se comove fácil.

Continuei meu drama, assistindo a séries e filmes a noite pra passar tempo, comendo afastada dele e dormindo em qualquer canto que não fosse o nosso quarto. Apesar de sempre acordar na nossa cama, com ele agarrado em mim.

— Mas como é teimosa meu deus. - lembro de tê-lo ouvido resmungar quando me tirou do sofá uma noite.

Até que, no final de semana, pouco antes de eu começar a fazer minha patrulha, Katsuki me aparece com um cachorro preto dos olhos vermelhos. Lindo e gigante. Fiquei sem palavras por um momento, alternando meu olhar entre ele e o cachorro que abanava o rabo pra mim tão fofamente.

— Eu trouxe seu cachorro. - resmungou emburrado, mas eu nem liguei, me aproximando do animal e começando a acariciá-lo.

— Aaaaah que bebezinho lindo você é! Meu deus que pelo macio, você é a coisa mais linda desse mundo. - com voz falada com bebês, esfreguei minha mão no pelo, e beijei o cachorro, que se animou ainda mais e começou a me lamber. — Nossa, como você tá cheiroso. - ele latiu, como se disse "sim, moça estranha, eu acabei de tomar banho".

𝐁𝐀𝐊𝐔𝐆𝐎 𝐊𝐀𝐓𝐒𝐔𝐊𝐈, 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐧𝐚𝐦𝐨𝐫𝐚𝐝𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora