Sicilía, Itália — 19 anos atrás.
Lauren tinha 6, e sua irmã, Ashley, tinha 8. O lugar onde estavam não era o mais adequado para crianças da idade delas, mas ele estava lotado delas. Sem brinquedos, escorregas, uma boa alimentação ou água tratada, apenas um quarto consideravelmente grande sem janelas, com apenas uma fraca luz esbranquiçada no meio do cômodo, uma refeição por dia e inúmeros treinamentos.
As paredes eram um branco encardido, com algumas manchas de podridão devido o tempo. O chão era sujo das mais diversas matérias; terra, água, vomito e às vezes urina. O cômodo inteiro fedia, não importa para qual canto você ia. Não haviam camas, apenas colchões mofados, e mesmo assim, não tinha o suficiente para todos, por isso, tinham de brigar todos os dias por espaço. Algumas crianças já haviam morrido no meio da guerra contra um lugar que não seja o chão para dormir. Mas bem, qualquer um podia concordar que era melhor morrer do que continuar ali.
A mais de quatro semanas, se as contas de Lauren estivessem certas, os Cuidadores deram para cada uma das trinta e cinco crianças presas ali um coelho filhote. Disseram que deveriam cuidar individualmente do seu respectivo animal, alimentá-lo e, quem sabe, até nomea-los. As crianças ficaram extasiadas, e até mesmo os que mais fingiam ser durões amoleceram, era como se, naquela pequena bolinha peluda, eles tivessem a chance de enxergar a esperança novamente no meio de tanta violência, doenças e fraquezas ali. Mas então, a uma hora atrás, eles retornaram, dizendo que deveriam matar os coelhos. Que as crianças deveriam matar seus coelhos com as próprias mãos.
Ninguém queria fazê-lo, mas eram obrigados; o medo do que os Cuidadores poderiam fazer com eles chegava a ser maior do que a falta de esperança. Alguns mataram ao choro, outros por pressão das outras crianças ou medo, e alguns simplesmente colocaram a mão envolta do pescoço do animal e quebro-o. Aquilo era só mais um dos treinamentos, afinal, e eles foram ingênuos por pensar que os Cuidadores realmente dariam algo que fizessem eles felizes. Mas eram apenas crianças.
- Ash. – Lauren chamou baixinho enquanto engatinhava na direção da irmã para não ser percebida. Não podia haver muitas interações quando estavam no meio de um treinamento. – Você ainda não matou?
O coelho de Ashley ainda estava ali, cheirando algo na perna da dona. Ele ainda era pequeno, mas não tanto como quando chegou, seu pelo era branco, porém estava sujo. Ashley gostava muito dele.
Lauren fora uma das crianças que apenas passou a mão pelo pescoço do animal e torceu, sem remorso ou dúvidas. Ela sempre era uma das primeiras a terminar todos os treinamentos, pois apenas queria se livrar deles logo. Ela sabia que se resistir, seria pior.- Eu não consigo, Laur. – Ela negou freneticamente com a cabeça, e a mais nova conseguiu ver o brilho nos pequenos olhos claros de sua irmã. – Quando chegava a noite, e estava tudo escuro, com aqueles barulhos estranhos vindos lá de fora ou de alguma das crianças chorando baixinho e não podíamos ficar juntas, eu imaginava que ele era você, e só assim eu conseguia dormir. Até dei o nome dele de Lauren. Vai ser como se eu estivesse matando você.
Ela fungou o nariz, e Lauren se aconchegou perto da irmã. Ashley não pensava como ela, e por mais que avisou inúmeras vezes que talvez o coelho seja um dos testes, a mais velha se agarrou a ele como se aquele pequeno animal fosse sua vida. Às vezes, Lauren sentia que tinha que ser a irmã mais velha, e estava tudo bem, porque Ashley sempre a protegia quando as crianças maiores vinham tentar crescer pra cima dela. Ela já tinha mais de quinze cortes espalhados pelo corpo.
- Se você não matar, eles vão... – antes que ela conseguisse terminar, a porta fora aberta com um alto estrondo, e de trás dela, surgiu um dos Cuidadores, sendo seguido por um homem que sempre vinha fazer visitas. Ele começou a checar cada animal morto, anotando algo em seu caderno. – Ash, você tem que matar agora!
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Lake Killer
Mystery / ThrillerUm corpo brutalmente assassinado é encontrado nas margens do lago de uma pequena e tranquila cidade do Sul dos EUA. Porém, não é apenas isso que choca os moradores; havia uma mulher jogada ao lado do corpo, com o pulso esquerdo coberto por tatuagens...