47. Teste de lealdade.

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Ashley Moratti's point of view.

- Você está realmente bem? - Camila quebrou o silêncio que tinha se instalado no carro que eu estava dirigindo pela primeira vez desde que saímos, a mais de meia hora atrás.

Será que ela também tinha notado meu interior por causa das roupas? Apenas papà, Laur, Alycia e os meninos conseguiam fazer isso, e por mais que eu odiasse expor o que estava aqui dentro desse jeito, era quase impossível não o fazer. Já era uma mania minha, uma fonte de escape.

- Por que a pergunta? - A olhei de soslaio.

- Porque você ficou desesperada daquele jeito na sua casa. - Respondeu, com o semblante realmente preocupado. - Não conheço a Ashley, mas já tinha percebido que, na Halsey, você ficava calada demais quando estava meio mal, mas nunca falava o motivo. Agora eu imagino que seja porquê ele esteja ligado a Cosa.

Cinco anos realmente eram muitos anos.

- Saudades da minha irmã, era o único motivo que me deixava daquela jeito. - Disse, desviar o olhar da estrada de terra que tínhamos entrado.

- Vocês realmente ficaram separadas por todo esse tempo? - Eu assenti. - Uau... deve ter sido difícil, levando em consideração a como vocês parecem ser unidas.

Difícil? Foi muito além disso.

- Você nem imagina o quanto foi. - Suspirei fundo, voltando a olhá-la por soslaio. Lauren confia nela, então é seguro confiar também. - Quando fazíamos algo errado, papà nos castigava. Existia vários castigos, mas o que a gente mais temia era o do porão.

- Aquele porão? - Camila perguntou, e eu assenti.

- Ele nos trancava lá por horas, e tínhamos que lidar com o escuro, a falta de ar, de comida e água. E com as cobras também. -

- Cobras?! - Ela exclamou, com os olhos arregalados.

- O porão era cheia delas, e por mais que as glândulas de venenos tinham sido removidas, elas ainda picavam. - Virei a direita na estrada, de acordo com o que minha mente lembrava. - Doía muito, e tínhamos que conviver sendo rodeadas, picadas ou espremidas por elas durante horas, até que alguém viesse abrir pra nós. Fiquei daquele jeito porque revivi esses momentos, e eu posso te garantir que minha reação agora não chega nem perto de antes. Conheci o que era o significado das palavras pavor e desespero trancada ali dentro.

Um arrepio subiu pela minha espinha ao relembrar de novo, mas tentei focar o máximo no carro que dirigia para não ter outro episódio de pânico.

- Meu Deus... - Camila disse, com a mão sobre o peito. - Vocês eram só crianças. Bom, eu imagino que tenha começado quando eram crianças.

- Estava achando que nos tornamos quem somos com carinho e beijo de boa noite? - Perguntei após soltar uma breve risada nasal, sem muito humor. - É preciso tomar trauma das consequências de algo para não fazer mais.

E era o que eu achava mesmo. Nunca fui trancada no porão por motivos iguais, com exceção das vezes que era pra limpar a barra da minha irmã -uma vez, ela cometeu dois deslizes seguidos. Um em um dia, e outro no seguinte. Lauren ainda estava toda dolorida, e eu acabei indo por ela-. Se éramos presas no porão por passar do horário, por exemplo, nunca mais conseguíamos acordar tarde. Quando fiquei mais velha entendi que, no fim das contas, precisávamos ter passado por aquilo para aprendermos direito. Se hoje não fôssemos pontuais, cismadas com tempo, provavelmente já teríamos sigo pegas em um dos trabalhos.

- Mesmo assim, Hal, eu... -

- Por favor, me chama de Ashley quando não estivemos em Beaufort. - A corrigi, parando o carro em frente a um enorme casarão de uma fazenda, que ficava logo adiante. Camila ficou mais inquieta.

Lake KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora