20. "Beije meus pés"

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Lauren Jauregui's point of view.

Beaufort, South Carolina — 11:50PM

Mais uma vez, tive de esperar Camila adormecer para que eu pudesse, enfim, sair de casa, com o anseio por colocar minhas mãos naquele cara tomando conta mim. Como prometido, Ashley me mandou um endereço por um e-mail codificado, e eu dei uma passadinha lá antes para organizar todos os meus... materiais? Para todo caso, eu precisava calcular o percurso que iria fazer com aquele homem apagado. Tal qual, neste momento, deve estar tomando a bebida que eu, educadamente, "pedi" ao barmen que colocasse um comprimido que lhe dei.

Ok, eu não pedi exatamente, mas o fiz da primeira vez, e ele se negou, então, tive de usar minhas artimanhas. Não é minha culpa.

Eu estava sentada em um banco de parque do outro lado do bar onde o Roger estava, com um jornal em mãos para cobrir meu rosto, luvas para não deixar rastros e o cabelo preso em um coque bem apertado. Eu não podia sequer pensar em cometer um deslize, ou tudo seria jogado por água abaixo. Era minha primeira vez fazendo isso desde que acordei, mas eu confiava nos meus instintos, e confiava em Ashley, que me deu certas dicas.

Depois de mais alguns minutos, a porta do bar finalmente se abre, e de lá, saí um Roger vagamente zonzo, com sua maleta patética em mãos e seus óculos tortos na cara. Quem visse, pensaria que era o álcool. Qualquer testemunha que vira o homem pela última vez diria que ele estava no bar, bebendo, o que tornaria a possível história de que ele se meteu em uma confusão enquanto estava bêbado mais plausível. É claro que eu teria que dar um jeito no barmen, pois ele poderia facilmente me entregar, e na verdade, Ashley já estava fazendo isso por mim. Ele parecia ser uma pessoa boa, mas como eu lembro que costumava dizer; todos nós somos culpados por algo.

Me levantei, deixando o jornal de lado para afundar as mãos no bolso do moletom enquanto seguia Roger em direção ao beco sem saída onde ela havia estacionado seu carro. Apenas o som dos meus saltos colidindo com o chão fora possível ouvir em uma certa altura naquela rua mal iluminada e deserta, e mesmo com isso, o homem sequer percebeu minha presença, até que, enquanto tentava falhamente encaixar a chave do carro na fechadura, eu o abordei por trás, segurando seu torso com firmeza, para então, levar o pequeno pano encharcado de clorofórmio até a altura de seu nariz e boca.

Roger se assustou primeiramente, e gemeu palavras incompreensíveis enquanto eu pressionava aquele pano mais em seu rosto. Fora questão de poucos segundos para que ele amolecesse em meus braços.

- Boa noite, Cinderela.

Beaufort, South Carolina — 00:37AM

O som da água colidindo com o rosto de um Roger apagado inundou todo o apartamento vazio –com exceção de nós e de meus matérias–, e quase que instantaneamente, o homem despertou em um impulso, e ele até teria saltado se não fosse pelas cordas grossas prendendo todo seu corpo da cadeira.

- Acorda, eu não tenho o tempo todo. – Minha voz sobressaiu o murmúrio assustado de Roger, que tentava gritar a todo custo enquanto se debatia. Cruzei o espaço vazio, para deixar o balde no lugar onde eu havia achado. – Aconselho que não tente lutar contra essas cordas, você provavelmente vai cortar sua pele e eu quero ser a primeira a fazer isso.

Sua respiração estava pesada, seu peito subia com brutalidade, e quando ele levou seu olhar até mim, eu abri um sorriso, por mais que soubesse que ele não estava conseguindo me enxergar; o ambiente estava escuro e eu havia retirado seus óculos. Apoiei minhas costas na parede coberta por um saco plástico de construção, assim como todo o piso do apartamento abandonado, levando um cigarro que Ashley havia deixado por aqui até a boca. O acendi com um isqueiro, e assim que traguei pela primeira vez, senti todos os meus músculos relaxarem do trabalho que tinha me dado prender aquele homem na cadeira.

Lake KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora