CAPÍTULO 40

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          O carro deslizava suavemente sobre as pedras que formavam a estrada dentro da reserva. Estrada essa que dava acesso a ruas secundárias e passava na frente das casas dos lobos que ali moravam. Mesmo que morassem na mesma rua, a distância de uma casa para outra era muito grande. Elas tinham um espaço em comum e eram sempre ladeadas por roseiras. Umas tinham lagoas como parte da paisagem, outras tinham o rio como quintal. Em outras, no entanto, o quintal era a própria floresta. Mesmo vivendo do que produziam, os homens lobos eram modernos e intelectuais, para quem o bem mais valioso que possuíam, além da liberdade, era a própria família, fosse ela sanguínea ou construída por laços de amizade ou adoção. Sandy e Amkaly admiravam as árvores enquanto ouviam as histórias que Nara contava.

― Meu pai pediu para A.D. ir até a nossa casa para vocês conversarem, mas, desde já, mandou dizer que você será nossa hóspede até resolver se vai completar o laço e passar a morar com ele ou se quer morar só com seu filho. Você que decide.

― Eu estou nervosa, pode isso? Depois de tantos anos, eu vou ver uma pessoa que eu só vi poucas vezes em sonhos e que me deu um filho lindo. ― Sandy olhava para Nara visivelmente inquieta.

― Sei que é complicado. Para mim, foi natural. Eu fui dormir uma criança pura e inocente e, quando acordei, minha loba estava aos pulos. Daí ouvi Amkaly me chamando e fui ao seu encontro. Era como se a vida toda eu estivesse dormindo ao lado dela e mesmo que nosso laço não seja completo acordar ao lado dela foi normal. ― Só agora Nara teve consciência do que acabara de dizer. Realmente, toda a sua forma de pensar havia mudado no momento em que ouviu o chamado da ruiva.

― Já pra mim, está complicado até para aceitar que são lobos, mesmo eu me sentindo bem ao lado dela não me sinto pronta para completar o laço, uma coisa ou uma força que não deixa, como se ainda não fosse o momento. 

― Seu pai um dia quando eu falei da minha transa com o pai do Alex, ele falou que tem lobos que não completam o laço e vivem bem assim talvez esse seja seu caso.

Sandy falava com Amkaly, mas as palavras atingiram a Nara ela sabia que isso seria um problema, ela queria ser uma loba laçada, com filhos e uma companheira que a completasse, viver sem ser laçada não estava nos seus planos, e esperava que nos dá loba vermelha também não ficou observando a loba que estava igual criança.

Amkaly, puxava o braço da nutricionista para que ela observasse uma família de marrecos que surgiu entre as árvores, deslizando nas águas da lagoa.

Nara parou o carro e ficaram olhando a lagoa. No outro lado da margem, tinha uma praia de areia branquinha como neve e o sol se pondo entre duas árvores imensas formava um cenário de quadro de arte tamanha a beleza. A brisa do local ergueu um cheiro de igarapé com uma mistura de vitória régia, plantas aquáticas típicas da Amazônia. Aquele cheiro fez doer o peito de Sandy. Uma dor de saudade, de perda de algo importante, a qual não sabia explicar. Nara, porém, com seu sentido apurado, sentiu o que se passava com a mulher e deu-lhe um tempo.

― Olha, ali ao lado daquele arbusto tem uma descida segura. Pode ir por ali e ficar o tempo que quiser perto da água. Se quiser se banhar, fique perto da margem. As lagoas da reserva costumam ser fundas.

― Obrigada, mas não precisa. É que eu tenho um verdadeiro fascínio por águas. Meu signo é escorpião, meu elemento é água. Ela me atrai. Não é à toa que abri as pernas para um homem na beira do rio sem nem o conhecer.

― Mesmo assim, vá buscar sua paz. Não estamos muito longe. Enquanto isso, eu vou correr na floresta com essa loba ruiva. Quando estiver pronta, é só chamar.

🏳️‍🌈NARA SHIVA A LOBA VOL. 01 SÉRIE AS LOBAS BRUXASOnde histórias criam vida. Descubra agora