CAPÍTULO 22

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Esther sorvia a infusão de ervas com umas gotas de limão enquanto examinava uns papéis e fotografias há muito tempo guardados. Observava as fotos de Ananya e sua companheira humana. Em várias fotos, elas pareciam muito felizes.

Tomou as últimas gotas de chá e levantou, indo até a pia na cozinha minúscula do apartamento que dividia com a doutora na parte dos fundos do laboratório e que também era um hospital moderno para atender cortes e fraturas de todos os tamanhos de quando os lobos chegavam da caça ou até mesmo de brigas entre si.

Por serem uma reserva autossuficiente que vivia em paz, o hospital era usado exclusivamente para pré-natal e obstetrícia. Mas também tinha os humanos e seus filhos, que, na falta de atendimento no hospital da cidade vizinha, faziam uso do Hospital Universitário e Maternidade Lobo Filho, ou simplesmente HUMLF, como era conhecido na reserva.

Ananya era diretora do hospital e laboratório onde passava a maior parte do tempo. Esther trabalhava como psicóloga já que tinha pós graduação na área. Barbara era clínica geral e neurocirurgiã. Nádia trabalhava na parte burocrática, mas, se fosse preciso, também era formada em enfermagem. O restante do quadro de funcionários era composto por médicos de dentro da reserva mesmo.

Após colocar a xícara limpa no armário, pegou o celular de cima do balcão, destravou, passou a vista rapidamente nas mensagens e fez a ligação.

― Anael Raj, preciso de um favor seu.

― Seu pedido é uma ordem. Do que necessita?

― Preciso de um notebook invisível para os sistemas, que não apareça na rede e que não possa ser rastreado ou ter a criptografia quebrada. Em resumo, um que se autodestrua se for acessado com uma senha errada. Tem um brinquedo desses? ― Examinava as mãos, apreciando a cor vermelho sangue do esmalte.

― Venha para cá. Aqui nós temos todos esses brinquedinhos para sua pesquisa. Tem uma sala privada onde pode ficar à vontade.

― Não quero que saibam o que estou buscando. Não se preocupe, assim que tiver minhas respostas, eu te envio tudo.

― Eu confio minha vida e de todos os meus descendentes nas suas mãos. No máximo em meia hora seu brinquedo chega aí no laboratório. Como está nossa doutora?

― Ainda dormindo. Acho que sua loba a deixou nocauteada para que ela não fizesse besteira.

― Minha sobrinha falou que ela ficou assim depois que a humana comentou que a mãe também tinha uma marca no peito e essa marca era um A. Aí ela saiu correndo já transformada, querendo fugir da reserva. Fomos eu e meu irmão que a pusemos para dormir.

― Eu soube. Na última vez que ela teve um surto assim, demorou quase dois meses para acordar. Espero que agora não seja preciso tanto tempo para ela voltar para a gente.

Desligou o celular e foi até o quarto onde Ananya dormia tranquila, sentou na cadeira ao lado da cama, puxou a coberta mais para cima, cobrindo seus braços para que ela não sentisse frio com aquela central de ar condicionado do hospital, que congelava até carvão mineral e que ziam fez questão de instalar um igual no apartamento delas.

― Não se preocupe, minha amiga, eu vou descobrir se aquela garota é filha da sua companheira Janaki e, quando isso acontecer, nós vamos arrancar a cabeça dela fora. Ela vai se arrepender de ter quebrado o laço e fazer você sofrer dessa forma.

Bateram na porta com insistência e Esther foi atender. Um rapaz com uma caixa nos braços aguardava ser convidado a entrar e Esther se afastou para o lado, liberando a porta para o jovem que usava uma farda onde se podia ler “Centro de Pesquisas Tecnológicas Avançadas”. O jovem entrou, instalou os programas e mostrou como deveriam ser usados. Em seguida foi embora e Esther ligou o computador, configurou com a senha que escolheu e começou sua pesquisa.

🏳️‍🌈NARA SHIVA A LOBA VOL. 01 SÉRIE AS LOBAS BRUXASOnde histórias criam vida. Descubra agora