CAPÍTULO 71 COTIDIANO

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Nara despertou do sono com um sobressalto e a sensação de estar sendo sufocada por algo muito pesado. Lutou, desesperada, buscando um pouco de ar sem encontrar e, a cada movimento que fazia, sua garanta fechava. Sentiu um começo de pânico tomar conta do seu corpo e rapidamente colocou em prática o exercício que vinha praticando junto a Esther, que nada mais era do que deixar a mente vazia, sem pensamento algum, oca e a partir daí começar a enxergar de olhos fechados cada órgão do seu corpo, sentir sua ligação com outra parte e assim fazer uma varredura de todos os membros que se ligam e interligam, ao mesmo tempo encontrando o que estava funcionando de forma errada e corrigir com a mente. Foi isso que fez.

Quando Nara abriu os olhos, não foi surpresa confirmar o que a estava sufocando. Encontrou Amkaly usando seu rosto como o travesseiro preferido dela, deixando Nara sufocada, sem espaço para respirar. Com certa dificuldade, Nara virou a cabeça para o lado em busca de ar, o pulmão trabalhando pesadamente para receber o oxigênio necessário para a troca gasosa. Amkaly estava toda, literalmente, em cima dela e ainda tinha braços, tronco, tudo ao mesmo tempo sobre ela, que conseguiu se desvencilhar do agarramento, já respirando normalmente.

Nara admirou o corpo da ruiva que dormia tranquilamente, toda largada em cima da cama, reivindicando cada centímetro do colchão como sua propriedade e deixando somente um espaço ínfimo que, a qualquer movimento de Nara ou dela, jogaria Nara no chão, motivo pelo qual um dia, já cansada da falta de espaço e depois de várias quedas, Nara afastou a cama e colocou ao lado da parede, fazendo daquele o seu cantinho entre Amkaly, a dona da cama toda, e a parede. Nara não estava reclamando. Ela até gostava de tudo isso e da possessividade de Amkaly quando a prendia em seus braços. Se Nara se mexesse durante o sono, ela acordava; se Nara precisasse ir ao banheiro, executava uma série de números de contorcionismo para sair sem acordar sua ruivinha, que naquele momento falava coisas desconexas.

Às vezes, Amkaly falava dormindo. Nada muito sério, nada comparado com os sonhos que ela tinha antes de os irmãos estarem em casa e em segurança. Estavam todas tendo aula na academia que estava sendo construída ali em Salem. Por enquanto, todas as aulas eram administradas por Esther, mas elas aguardavam a chegada de mais duas bruxas antigas vindas de Lancashire para ajudar.

As coisas estavam mais calmas desde que o cientista maluco foi preso. De todos os prisioneiros, só ficou ele. Esther apagou as memórias dos outros e eles foram devolvidos para a sociedade com a memória 75% destruída. Os outros 25% diziam respeito à família.

A reserva estava passando por várias mudanças. Os moradores iriam abrir para a entrada de humanos e assim tirariam a curiosidade sobre o que acontecia ali; estavam sendo construídas pousadas, parques aquáticos, trilhas ecológicas, campings, áreas para yoga, centros preparatórios de jardinagem e hortaliças, vilas rústicas para casais em lua de mel do outro lado do rio e quatro pontes estavam sendo erguidas para passeios dentro da florestas. Tudo isso funcionaria para os turistas na época do verão. No inverno, a reserva estaria fechada e seria só dos moradores. A criançada estaria com quase dois anos, todos andando e falando, e as gêmeas, irmãs de Nara, dando os primeiros passos.

Nara foi puxada dos pensamentos por um cheiro caraterístico de excitação, mas Amkaly continuava dormindo. Nara ficou observando enquanto o cheiro dançava nas suas narinas. Amkaly estava falando coisas que faria com ela como se estivesse sonhando que estava fazendo amor. Sua voz saía enrolada, mas com uma sensualidade que arrepiou a pele de Nara e soltou as amarras de seu pensamento, que, sem que ela pudesse controlar, circulou por cima do corpo deitado a seu lado como uma máquina fotográfica. O escrutínio iniciou pela cabeleira vermelha espalhada no lençol, desceu para o rosto perfeito com poucas sardas, cílios longos, nariz pequeno e boca de lábios grossos que convidava a beijos. Nara sentiu seu corpo estremecer levemente ao lembrar do gosto da boca de Amkaly, dos movimentos lentos da língua e dos gemidos roucos que ela dava quando estava fazendo amor e beijando ao mesmo tempo. Tudo isso aguçou a libido de Nara Shiva e o cheiro da sua própria excitação encheu o quarto, acordando de vez Amkaly, que puxou seu corpo para sentar junto à cabeceira da cama, com os cabelos espalhados e olhando para Nara com aquele olhar e um sorriso cínico.

― Bom dia pra você também, minha lobinha. Seu cheiro é um perfume maravilhoso.

― Ele só está assim porque você atiçou com o que estava pensando em fazer comigo. Estava sonhando?

Nara se ajeitou ao lado dela na cama, aproveitando que agora tinha espaço.

― Sim. Estávamos transando na lagoa e, no melhor do sonho, eu acordei com um tesão dos diabos. Será sempre assim com nós duas?

― Somos lobas e humanas, mas a nossa força vital é de lupino. Antes de qualquer coisa, somos lobas parceiras. Meu cio ou minha excitação sempre vai chamar por você, assim como a sua me chamará. Mesmo que eu transe com outra pessoa, não me dará o prazer que sinto com você e vice versa. É aí que nos diferenciamos dos humanos. Nossa união, quando aceita e laçada, é para sempre inquebrável. Somos monogâmicas, mas podemos acrescentar mais uma pessoa na relação para procriar sem afetar a nossa relação. Continuamos sendo parceiras e únicas, minha fidelidade será sempre pra você. ― O olhar de Amkaly ao ouvir a explicação parecia o de uma criança fazendo descobertas simples e nem mesmo Nara sabia que vê-la olhá-la, admirando e absorvendo cada palavra que saía da sua boca, lhe daria uma sensação de preenchimento no peito que não julgou ser capaz de sentir e nem explicar.

― Acho estranho esse lance de sermos parceiras e aceitar outra pessoa na relação. Não sei se tenho estrutura para ver alguém tocando seu corpo, te dando prazer, e ver você beijando outra boca que não seja a minha. ― Os olhos de Amkaly demonstravam incômodo enquanto ela passava a mão na cama, tirando uma dobra inexistente.

― Sem beijos ou intimidades mais profundas, essas pessoas entram na relação só pelo ato sexual em si. O amor e o respeito continuam com o casal laçado, não divide a mesma cama e, na hora do sexo, o outro parceiro está presente, abraçando, beijando e fazendo os carinhos que toda foda pede. Mas isso não quer dizer que nós duas vamos querer alguém com a gente, eu também sou muito possessiva. ― Nara estava sendo sincera, não se sentia bem em ter outra pessoa na relação, e foi natural as duas se beijarem. Amkaly sentou automaticamente no meio das pernas da parceira.
― Já que está tão animadinha, que tal me mostrar tudo isso na banheira enquanto tomamos banho? ― Nara esperou só o tempo de Amkaly sair do meio das suas pernas para que pudesse também se levantar. Tirar a roupa não foi problema, ambas dormiam nuas. — Temos que nos superar... ― Nara falava enquanto caminhava para o banheiro com Amkaly nos braços, entre um beijo e outro.

― Não estou entendo, amor... Nos superar como? ― Amkaly distribuía beijos no pescoço de Nara enquanto fazia carinho nos seios dela.

― Temos que nos superar no orgasmo... Porque temos pouco tempo, a reunião para a celebração na fogueira está marcada para 3h da tarde.

― Até lá, já nos superamos, amor. Eu já acordei quase gozando, agora cabe a você realizar meu sonho. ― Seus carinhos estavam fazendo a magia acontecer entre as pernas de Nara.

As duas entraram de qualquer jeito no banheiro com a banheira repleta de água com sais de banhos e incensos espalhados estrategicamente dentro do ambiente, liberando cheiro de lavanda, e velas ornamentais feitas de mel de abelha, deixando o ambiente com aroma exótico. Nara colocou Amkaly de pé ao lado da banheira e se sentou em uma posição perfeita para o que estava pensando. Lendo o pensamento de Nara, Amkaly se aproximou e passou uma perna por sobre o ombro direito dela, ficando toda aberta, como uma flor noturna desabrochando ao sentir a brisa da noite.

Ao sentir o aroma daquela rosa proibida, os lábios de Nara se abriram involuntariamente em um sorriso devasso e, como uma abelha em busca do néctar, ela circulou com a boca aquela rosa cujo mel se espalhava. Levantou o rosto o suficiente para ver a ruiva de olhos fechados, uma imagem linda que ela não tinha tempo de apreciar no momento. Amkaly sorriu, selvagem, quando Nara pediu:

― Segure forte em qualquer coisa. ― Pois seu banquete estava servido e, como um soldado que volta da guerra com fome e sentindo falta da comida feita por quem ama, Nara também estava faminta e, nesse momento, o que menos importava era o pouco tempo que tinham. Ela iria aproveitar cada canto daquela variedade de sabores.

🏳️‍🌈NARA SHIVA A LOBA VOL. 01 SÉRIE AS LOBAS BRUXASOnde histórias criam vida. Descubra agora