Capítulo especial: o guerreiro

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  Nataniel Kawami sempre leu sobre os grandes feitos de seus antepassados, principalmente seu tio Saleos, que honrou o sobrenome da família, lutando ao lado de Aron. O homem, atualmente, com trinta anos, recebia as graças de seu próprio ato heroico, após quase doze anos do fim da missão, ele se dedicou a abrir os portões de Lup e derrubar os muros do Reino, que, mesmo com as mudanças, continuava precisando de ajuda para aceitar as diferenças. Com isso, a população cresceu e os acordos entre as quatro nações foram intensificados, além disso, Lup se tornou uma ponte entre Tier e Vultor. Ademais, a fortuna gerada por Nataniel fez o Reino expandir, o litoral de Lup era o ponto de encontro para os visitantes, assim as três nações se ligaram em Lup definitivamente.

  Sendo agora um Lorde de Lup, Nataniel cuidava dos interesses do Reino. O homem sabia que faltava pouco para sua condecoração de primeiro-ministro, porém, convenceu o conselho das quatro nações que precisava de mais tempo antes de assumir uma responsabilidade dessa magnitude, entretanto, o real motivo para não aceitar de imediato era sua família. 

  A porta de seu escritório foi aberta por um menininho animado, ele era moreno, seus cabelos pretos e olhos castanhos, iguais os da mãe. Nataniel sorriu e afastou-se da mesa, sentindo os braços de seu primogênito agarrar suas pernas.

— Papai, papai! — ele dizia, sorridente. — Mamãe disse para eu te chamar.

— Jacob, vem cá — Nataniel o segurou no colo, deixando o escritório. — Onde a mamãe está?

— Na sala de descanso — contou Jacob, segurando o pescoço do pai, apesar de ter os olhos de Sofia, o menino possuía os traços semelhantes aos de Nataniel, ele era a mistura perfeita dos dois. 

  Quando Nataniel chegou na sala de descanso, encontrou Sofia com seu filho mais novo nos braços, o pequeno Philip completara seis meses, diferente de Jacob, o bebê nasceu com os olhos azuis do pai, e seus traços eram semelhantes aos de Sofia, outra mistura perfeita dos dois.

 — Mamãe, eu busquei o papai — Jacob pulou do colo de Nataniel, correndo para perto da mulher, que abaixou e encheu o rosto de seu filho mais velho de beijos, o garoto riu. Nataniel, que observava a cena em silêncio, teve uma leve recordação de sua mãe, que era amorosa igual sua esposa era com seus filhos.

— Obrigada, querido. — ela voltou a sentar-se na cadeira e ajeitou Philip em seus braços, os anos pareciam não passar para Sofia, segundo seu marido, ela era a mesma garota que ele conheceu na vila de Sunko no dia do festival, olhar para ela era como a primeira vez.  — Nate?

— Sim, querida — aproximou-se Nataniel, encantado com a beleza dela.

— Você prometeu que não ficaria o dia inteiro no escritório, lembra? — questionou ela, ninando Philip, que se remexeu em seu colo, inquieto. — E me pediu para te tirar de lá antes do almoço. 

— Perdoe-me, estava revendo um acordo, o que vamos fazer hoje mesmo? — perguntou ele, sentando na cadeira ao lado dela. Sofia o encarou por alguns segundos e depois sorriu, sem perceber, Nataniel inclinou-se para beijá-la.

— Eca. — reclamou Jacob, colocou o ursinho de pano da frente de seus olhos para não ver o romance entre os pais. 

— Ei, mocinho — Nataniel pegou Jacob antes que o espertinho fugisse, seu filho tentou escapar, mas recebeu uma chuva de cosquinha, a risada de Jacob preencheu o ambiente, e serviu de uma dose de felicidade para o coração de seus pais. 

— Nós vamos começar o retrato, o artista chega de tarde — comunicou Sofia, seus olhos focaram em Philip, ele não estava bem naquele dia, isso a preocupava. — Depois temos o jantar com nossa família. 

— Eu me esqueci completamente.

— Sei disso, querido — ela sorriu.  — Você está trabalhando muito, devia descansar esses dias. 

— Vou descansar, amanhã ficarei em casa e talvez o resto da semana, não quero que os meninos ou você sintam a minha falta. — confessou ele, deixando Jacob correr solto pela sala.

— Os meninos e eu estamos bem e sabemos o quanto você nos ama — Sofia apertou a mão dele, Nataniel sorriu.  — Mas, me preocupo com a sua saúde. Você vai passar a semana inteira em casa.

— Sim, senhora. — ele a fez uma reverência, ela riu.

— Mamãe, mamãe! — Jacob chamou a atenção de Sofia, a mulher olhou na direção dele rapidamente.

— O que foi, filho? — questionou.

— Posso brincar com o Hades? Por favor, mamãe! — ele segurou as pernas dela, ela riu.

— Nós vamos juntos — ela se levantou, e a tutora de Philip se aproximou dela, curvada.  — Pode leva-lo para o berço, por favor.  — a mulher pegou o bebê com cuidado e assentiu, levando-o. Sofia segurou na mão de Jacob e Nataniel os seguiu.

— Mamãe, é verdade que o Hades veio do céu? — perguntou o menino, curioso.

— Sim, ele foi um presente — relembrou ela, Jacob sorriu. — Nós temos que cuidar dele.

— Eu sempre vou cuidar do Hades! — falou o menino, animado.

  Após deixarem a mansão, avistaram o imenso jardim, nele, havia um lago e mais para frente, uma construção semelhante a um Castelo, inteira feita de pedra apenas para o dragão, Hades notou a presença deles e saiu da construção, sobrevoou o jardim e pousou na frente deles, Sofia se aproximou dele e segurou o que conseguiu da cabeça do dragão, que fechou os olhos, sentindo o abraço dela.

Depois, Sofia segurou Jacob no colo, que, imitando a sua mãe, abraçou a cabeça de Hades, o dragão também fechou os olhos. Nataniel passou a mão no topo da cabeça do dragão, ele amava tanto Hades que mandou construir um Castelo de pedra para que o dragão ficasse confortável, jamais aquela família poderia ficar sem ele.

  Jacob tratou de correr para o lago e, consequentemente, seus pais e Hades o seguiu.

 Horas mais tarde, Nataniel recebia seu tio e sua irmã na entrada principal da mansão. 

— Cadê meus sobrinhos? — Dália questionou, ignorando seu irmão. Adentrou a mansão, rumo aos aposentos dos meninos. Nataniel fez uma careta, chateado. Saleos riu e abraçou seu filho do coração.

— Não liga pra ela — O velho deu de ombros, vendo a sobrinha correr pela mansão.  — Como você está? E a Sofia?

— Estou bem, Sofia também. Ainda bem que está aqui, tio, faz tempo que não volta para a cidade-capital. — ele dizia enquanto os dois andavam pelo hall principal da mansão, Saleos continuou olhando o chão, estava mais velho e fraco, seu corpo não era mais como antes e tinha dificuldades para viajar, porém, não queria preocupar seu sobrinho.

— Estou aposentado, me deixa em paz — reclamou.

— Já te convidei para viver conosco, mas o senhor nunca aceita.

— Eu quero ter o meu lugar, aqui é a sua casa, não a minha.

— A minha casa é a sua casa, mas o senhor quem decide. — Nataniel não quis continuar com o assunto, afinal, sabia que não poderia fazer seu tio mudar de ideia. O velho sorriu, vendo seu sobrinho cada dia mais maduro, então um furação chamado Jacob correu na direção deles.

— Vovô Saleos! — berrou o menino, abraçando as pernas do velho. Saleos abaixou-se, pegando Jacob no colo.

  Nataniel sorriu, vendo seu tio e seu filho tão próximos.
Logo, seus olhos azuis perceberam Dália com Philip nos braços enquanto Sofia estava ao lado dela, conversando.

 Por alguns instantes, Nataniel ficou parado, observando sua família, nisso, ele sentiu duas presenças reconfortantes ao seu lado, o guerreiro sorriu, acreditando que, entre vivos e aqueles que já partiram, todos que amava estavam ali, naquele momento. 

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