- Erina? - Eu ouvia minha mãe me chamando, mas como de costume, minha atenção estava virada para um dos velhos cadernos de anotações que meu pai havia deixado. - Erina, onde você está? - Nos últimos dias, eu passava tanto tempo no escritório de meu pai que simplesmente não lembrava que o tempo era contínuo e não esperava qualquer um que fosse, e com isso, eu perdia várias horas enfiada entre várias daquelas anotações, e então, a porta atrás de mim se abriu, e eu pude ouvir um suspiro de alívio. - Eu já deveria saber que você estaria aqui! Deveríamos colocar sua cama nesse cômodo, já que você quase não sai daqui! - Deixei o pequeno caderno no campo de visão de minha mãe e apontei para algumas palavras nas folhas.
- Você já leu algum desses cadernos?
- Você sabe que eu sou ocupada, então não poss...
- O Taj Mahal, a Grande Muralha da China, Machu Picchu e até mesmo as Pirâmides de Gizé... Meu pai tem anotações de tantos lugares que ele visitou, sem falar dos artefatos! As Garrafas de Bruxa na Europa e Estados Unidos, o Lagarto Ubaid no Iraque e até mesmo a Bíblia do Diabo na Sué...
- Seu pai ama seu trabalho como arqueólogo... - E então, minha mãe se encostou no batente da porta, cabisbaixa. - Eu só queria que ele desse algum sinal de vida!
- Já fazem... Dois meses, não é? - Minha mãe não respondeu, nem mesmo olhou para mim, e eu fechei o caderno em minhas mãos, colocando-o sobre a mesa em minha frente. - Ele deve estar bem! Deve ter pegado algum trabalho de última hora e está sem tempo para...
- Dois meses, Erina! Dois! Seu pai sempre pegava trabalhos de no máximo duas semanas e, vez ou outra, o estendia, mas sempre entrava em contato conosco! Mas e agora?
- ... Você não confia nele?
- Eu estou preocupada! Esse sumiço dele me preocupa, e ver você querendo seguir os mesmos passos que ele... Me deixa ainda mais aflita! - Pensei em responder, mas minha mãe levantou a cabeça e olhou para mim. - A Makoto está te esperando na sala! Não a deixe esperando!
- Ela já está aqui? - Enquanto minha mãe saía do cômodo, eu pegava meu celular para ver as horas. - Eu perdi a noção do tempo de novo! - Com meu celular em mãos, saí do cômodo, fechando a porta atrás de mim e descendo as escadas que ficava entre a cozinha e a sala, e ao descer o último degrau, pude notar o olhar de julgamento de Makoto sobre mim, olhar esse que eu ignorei. - Estou pronta!
- Desse jeito? - Eu havia ignorado seu olhar mortífero, mas com as palavras de Makoto, não pude deixar de perceber o encardido que estava sobre minhas roupas, graças à poeira que se acumulou no escritório de meu pai. - Se quiser, pode subir para se trocar! Eu espero!
- Tudo bem!
Subi as escadas atrás de mim, passando pela porta do escritório e chegando ao último andar da casa, onde ficavam os quartos de meus pais e o meu. Abri a porta de meu quarto e passei por ela, e ao olhar no espelho, toda minha roupa aparentava ser um conjunto. Minha regata branca, minhas meias cinzas e minha calça jeans azul estavam todas cobertas por um marrom claro, dando a impressão de que eu havia tomado um banho de café com leite. Tirei as peças, menos as peças íntimas que ainda continuam intactas da poeira e abri o armário, pegando de dentro dele um par preto de meias, uma calça jeans também preta e uma camiseta roxo escuro, e as vesti. Desci as escadas até chegar na metade dela, onde ficavam o escritório de meu pai, e também o banheiro, onde entrei e despejei um pouco de água em minhas mãos, passando o líquido em meu rosto e em meus braços. Desci as escadas enquanto batia meu cabelo, tentando tirar a poeira do mesmo. Não era uma garota vaidosa, mas também não queria parecer uma porca sobre duas patas. Chegando no térreo, o olhar julgador de Makoto estava sobre mim outra vez, mas depois de alguns instantes, um sorriso brotou de seu rosto, e a mesma se levantava do sofá.
- Agora sim você está decente! - Makoto foi até a entrada da casa e colocou sua sapatilha de volta em seus pés, pronta para ir, enquanto eu ia até a cozinha dar um beijo de despedida em minha mãe. - Prometo que trago ela ainda hoje, Senhora Shinka!
- Divirtam-se vocês duas! - Minha mãe dizia, enquanto eu também ia até a entrada da casa e me decidia entre os coturnos, botas, sapatos e tênis. Acabei optando pelos tênis, os pegando e os calçando.
- Pode deixar! - Makoto e eu falávamos juntas, ao mesmo tempo em que também saíamos da casa. Chegando na calçada, Makoto olhava dentro de sua bolsa, procurando alguma coisa, enquanto eu fazia uma rápida parada na caixa de cartas e encomendas, esperando encontrar algo, nem que fosse algum tipo de vazio, e foi justamente o que eu havia encontrado.
- Nada!
- Na verdade o entregador trouxe algumas contas, e ele aproveitou que eu estava entrando e me pediu para entregá-las para sua mãe!
- Entendi! - Coloquei minhas mãos sobre os bolsos frontais da calça, encontrando meu celular e minha carteira neles. - Não esqueci nada! Podemos ir!
- Seria mais fácil se você levasse uma bolsa!
- Você sabe que eu... - Meu raciocínio tinha sido interrompido ao ver Makoto tirando um espelho e um batom da bolsa, o passando em seus lábios. - Não acostumo com isso! - Makoto percebeu a expressão em meu olhar, e ao terminar o retoque, guardou os itens de volta na bolsa.
- Estava apenas hidratando!
- Com um batom vermelho desse?
- E o que você entende de maquiagem?
- Os batons de hidratação que eu conheço costumam ser brancos ou transparentes! Mas você tem razão! Eu não entendo nada de maquiagem, e não faço questão! - A expressão no rosto de Makoto mudou para algo como se tivesse percebido o que havia falado, e antes mesmo de falar, eu já podia ver o pedido de perdão nos seus olhos.
- Desculpa pelo o que eu...
- Deixa pra lá, Makoto! É melhor nós irmos, ou iremos nos atrasar ainda mais.
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قصص عامةExplorações, registros, conhecimentos, comentários sobre tais coisas, eram coisas que Erina admirava no homem da sua vida, seu pai. Desde sempre, a garotinha do papai mostrava interesse na profissão do homem que cuidava da família, e em resposta, o...