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O silêncio no lado de fora do navio era quase absoluto, sendo quebrado apenas por passos de funcionários que andavam pra lá e pra cá pelos corredores, e obviamente, pela água do mar batendo no casco do barco que seguia seu rumo, em pequenas ondas das quais me faziam ter menos forças para continuar com os olhos abertos ao observar aquele movimento do lado de fora do quarto. Já eram mais ou menos oito da noite no Japão, quando Minashigo e eu subimos a bordo do navio, indo até o quarto que alugamos. Enquanto Minashigo afundava a cara no travesseiro da cama que estava deitado, eu mandava mensagens de boa noite para minha mãe e minhas amigas, não esperando resposta de volta tão rápido por pensar que elas poderiam estar ocupadas com alguma outra coisa, ou pela possibilidade de não ter sinal no meio do mar. Eu havia deixado o celular ao meu lado, e no mesmo instante em que eu me virei para Minashigo, o mesmo levantou a cabeça, direcionando o rosto em minha direção, e o "Posso tomar banho primeiro?" saiu de nossas bocas ao mesmo tempo, sendo decidido assim no jokenpô onde eu fui a campeã. Com a derrota, Minashigo deixou o quarto dizendo que daria uma volta pelo barco, pedindo para que o avisasse quando eu tivesse terminado o banho, e eu acenei positivamente com a cabeça, deixando claro que eu havia entendido o recado, e então Minashigo se virou e passou pela porta, me deixando sozinha no cômodo. Ao contrário de Minashigo, eu ainda seguia o horário do meu país natal, o que fez com que o meu banho fosse o mais rápido possível, pois sabia que o sono também chegaria em algum breve momento. Ao deixar o chuveiro, abri minha mochila, retirando peças íntimas de roupa e a camisa verde da qual estava comigo no início da viagem. Apesar de eu me abençoar em segredo por ter decidido lavar minhas roupas no outro navio, a temperatura que a viagem pelo mar me oferecia acabou me obrigando a deixar minha legging e minha regata preta na mochila já fechada, mantendo quase as mesmas roupas que já estava usando antes de entrarmos no quarto. Já vestida, peguei o celular e avisei Minashigo que já estava pronta, e não levou muito tempo até o mesmo retornar ao quarto. No momento em que ele entrou, eu saí, indo até as barras que ficam ao redor do navio, me escorando nelas, estando exatamente do mesmo jeito em que estou agora. Com o tempo tendo passado, não levou muito tempo até Minashigo abrir a porta do quarto, indicando que já havia terminado o banho e que eu poderia voltar para o quarto. Ao fechar a porta, Minashigo havia deitado outra vez na mesma cama de antes, virado para cima dessa vez.

- Pensando bem, acho que devíamos ter pego quartos separados mesmo!

- É, mas não foi eu quem quis economizar! - Não consegui evitar de rir, e Minashigo rindo junto não me ajudou a impedir a risada de vir. Me sentei na cama vaga, abrindo outra vez a mochila e tirando de lá a marmita de plástico, tirando dela os Lefses que ainda sobravam, entregando alguns para Minashigo. - Obrigado!

- Se dormirmos agora, acha que o navio chega na França quando acordarmos? Porque eu *bocejo* já estou quase dormindo sentada aqui!

- Haha provavelmente sim! Foi por isso que eu já escovei os dentes, depois de terminar o banho!

- Mas se você for comer agora, não vai ter que escovar de novo? - Eu perguntava, apontando um Lefse em sua direção, enquanto ele mastigada o pedaço do seu Lefse que havia cortado com a boca. Minashigo mastigou rápido e engoliu, com uma expressão surpresa e boba no rosto.

- Eu... Talvez!

E dessa vez, foi eu quem começou a rir da atual situação, enquanto terminávamos de comer. Após o jantar, revezamos o banheiro mais uma vez, com Minashigo indo primeiro dessa vez, por ter terminado o jantar primeiro. Com a higiene bucal finalizada, só restava arrumar os lençóis da cama e dormir. Ao me deitar, olhei na direção de Minashigo, que estava deitado com as costas viradas para mim, de frente para a parede, passando a ponta do polegar na mesma, fazendo algum desenho que apenas ele próprio saberia dizer o que era. Eu me deitei na cama, me cobrindo logo em seguida com os lençóis, e apesar do sono já ter chegado e se estabelecido, eu fiquei encarando o teto daquele quarto por alguns míseros segundos, até que a voz de Minashigo quebrou o silêncio do momento em que tinha apenas o som do mar tocando de fundo.

- Você tem algum irmão ou irmã, Erina?

- Não! Sou filha única!

- E não te incomoda dormir no mesmo quarto com alguém que você conheceu faz menos de uma semana? - Não respondi de imediato percebendo que, apesar da conversa que se iniciou entre nós, nem Minashigo ou eu havia se virado, mantendo assim as posições em que estávamos deitados, como se cada um estivesse em seu próprio mundo, nos comunicando apenas por algum tipo de ligação.

- Eu já te contei muita coisa sobre mim e vice-versa! Seria babaca demais se você tentasse se aproveitar de mim nessa situação! E vice-versa também! - E Minashigo riu, mas sua risada era mais uma confirmação de que havia entendido a minha resposta e ficado satisfeito com ela.

- Sabe, no orfanato em que eu cresci, todo quarto sempre tinham dez crianças dividindo o mesmo cômodo e sempre tinha alguém pra tentar incomodar o sono de todo mundo! - De repente, Minashigo parou o polegar na parede, e o silêncio surgiu por um curto período, até que Minashigo guardou o dedo na mão, levando o punho para baixo da coberta. - E isso tudo mudou quando a Mari apareceu! Ninguém queria incomodar a linda garotinha ruiva de óculos com a sua alegria espontânea que havia acabado de chegar! - Apesar de ainda olhar para cima, a forma suave na qual Minashigo havia acabado de falar entregava o carinho que ele tinha, não só por aquela memória, mas também deixando claro o afeto por aquele nome.

- Então o nome dela é Mari?

- É o apelido no qual ela deixa apenas alguns chamá-la! - Eu esperei mais um pouco, até que Minashigo se virou para cima também, mas virando o rosto em minha direção, e eu imitei seu gesto. - Boa noite, Erina!

- Boa noite, Minashigo! - Sem qualquer cerimônia e com sincronia, fechávamos nossos olhos, nos entregando ao sono já presente.

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