50

1 0 0
                                    

===

Eu sabia que estava sendo egoísta com meu pai. Sabia que não cabia a mim tomar aquela decisão por ele e sabia que poderia continuar com a ideia de ser arqueóloga por conta própria. Mas sempre que eu lia seus relatos ou os ouvia de sua própria boca, eu me imaginava o auxiliando em cada uma delas, e também pensava em como seriam as nossas futuras explorações, juntos. E de repente, tudo isso morreu com o anúncio de sua aposentadoria, fazendo com que lágrimas caíssem de meus olhos, derretendo a mulher de vinte e dois anos que existia ali e trazendo de volta a garotinha de sete anos que chorava escondida no depósito do colégio. Enquanto eu chorava, alguém chegava perto de mim e se sentava ao meu lado, não soltando uma letra sequer de sua boca, e quando eu olhei para tal pessoa, o mesmo deu de ombros, não como um deboche, mas como se mostrasse que era alguém real e não apenas uma miragem. Eu joguei meus braços ao seu redor, procurando uma âncora para me firmar outra vez na realidade da situação, e o abraço de Ethan sobre mim foi o que evitou de que eu soltasse ainda mais lágrimas. Poderia ser qualquer um daquela casa ali comigo, mas ao mesmo tempo em que era Ethan, era também quem eu mais queria naquele momento. Depois daquele quase beijo, eu não me importava mais se era algo momentâneo, uma fase ou um amor de verdade. Depois daquilo e na minha atual situação, eu só queria Ethan comigo.

- Minashigo já deve ter te contado, mas eu queria ser músico! Meus pais me apoiaram sem pestanejar sobre as aulas de música e eu achei que iria conseguir realizar meu sonho, mas de repente veio essa piora do meu pai e eu fui obrigado a tomar conta da cozinha do restaurante! - E de repente, eu senti a mão de Ethan passando por meus cabelos, alisando e acariciando as minhas costas. - Eu sei que nossas situações são diferentes, mas elas podem ser as mesmas em um possível final, já que com a vinda dos problemas de saúde do meu velho, ficamos mais próximos do que já éramos, e é exatamente isso que seu pai está tentando fazer com essa aposentadoria! Agora, a única pessoa que precisa decidir o que será feito é você, Erina!

- Por que... Por que isso logo agora? - Sem aviso prévio, a mão de Ethan parou, ainda no meio das minhas costas.

- Nem seu pai e nem você tem culpa nisso! Poderia ter sido outra pessoa quem tivesse descoberto aquela tumba e...

- Não é isso que estou falando! - Ethan se soltou de mim ao perceber que eu também me soltava dele, e com as mãos livres, eu secava as parte úmidas do meu rosto pelas minhas lágrimas. - Eu... Nunca tinha sentido algo tão... Profundo! Algo que me fizesse querer tanto a companhia de alguém como agora! Ainda mais por alguém que eu acabei de conhecer! E mais do que isso! Eu também sinto que isso também está acontecendo com você! - Eu levantei minha cabeça e olhei em seus olhos, e sem se levantar, Ethan estremeceu um pouco para trás, aparentemente surpreso com o que eu estava falando. - Por favor! Me diga que eu não estou enganada! - A boca de Ethan estava aberta, como se fosse falar algo a qualquer momento, até que a mesma se fechou, e seu rosto tinha uma feição séria e decidida. Nisso, Ethan se levantou, ainda olhando pra mim.

- Quero que conheça um lugar! Vem comigo?

Ethan estendeu a mão até mim, e eu a segurei sem qualquer relutância, e ele me levantou do chão. Fomos até o carro que continuava estacionado em alguns metros de distância do portão da garagem, com Ethan se sentando no lugar do motorista e eu me sentando no assento ao seu lado. A locomoção havia sido feita em silêncio, sem qualquer palavra dita para que o mesmo fosse quebrado. Após alguns minutos de travessia, chegamos em uma praça relativamente deserta, com pouquíssimas pessoas presentes, e essas mesmas pessoas já se preparavam para irem embora. Sem falar qualquer coisa, Ethan saía do carro, e eu fiz o mesmo, e com as mãos nos bolsos da calça, Ethan caminhava até uma pequena casinha de madeira com bancos de pedra, já surrados por sabe-se lá quanto tempo desde a sua construção. Ethan se sentou no tal banco, e eu fiz o mesmo, e nós dois olhávamos o vasto verde que havia no local.

HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora