41

1 0 0
                                    

===

O pequeno cômodo continha uma chave já na porta, para que a mesma fosse trancada, ação essa que eu fiz ao entrar no banheiro da casa dos Akitake. Colocando minha mochila no chão, eu tirava a camisa verde social, a calça legging e a regata preta, deixando a mochila o mais aberto possível para por nela as roupas que já usava. Após vestir as outras peças de roupa, dobrei e guardei as peças restantes na mochila, fechando-a e já respirando fundo antes mesmo de sair daquele banheiro. Não sabia o que essa procura por meu pai poderia trazer, mas aquilo era algo que me havia feito cruzar cinco países entre o Japão e a Itália. Era algo que eu não poderia simplesmente desistir de uma hora pra outra. Com a mochila nas costas, girei a chave e abri a porta, saindo do cômodo. Antes de descer as escadas, reparei que um dos quartos do primeiro andar estava com a porta aberta, deixando escapar alguns sons de cordas que quebravam levemente o silêncio. Diferente do som que tocava no escritório de Sajin, aquele parecia ser algo ao vivo, como se alguém realmente estivesse tocando alguma coisa. Ao chegar mais perto, vi Minashigo e Ethan sentados em uma cama de solteiro, indicando que aquele poderia ser o quarto de Ethan. Minashigo estava de costas para a porta, e Ethan dedilhava as cordas do violão que ele pusera bem próximo do corpo, com os olhos fechados, e em uma naturalidade que fazia parecer que já tivesse nascido sabendo qual corda tocar para qual nota poder tirar. Sem perceber, me aproximei ainda mais, encostando as mãos na porta aberta e encostada na parede, até que sem querer, acabei chutando o batente de madeira da porta, soltando um leve grito no qual abafei-o logo em seguida, inutilmente. Ao olhar de volta para os dois, eles já haviam me notado ali.

- Tudo bem? - A pergunta havia vindo de Minashigo.

- Tudo, tudo! Eu não queria atrapalhar vocês! Foi sem querer!

- Não tem problema! Eu entrei aqui só pra pegar meu celular que eu havia deixado quando saí, e Minashigo insistiu que eu tocasse alguma coisa! - O olhar acusatório de Ethan pousava sobre Minashigo, que achava graça da situação.

- Chega a ser algo nostálgico pra mim! Meu ex tem um sonho de ser músico e ele também tem um violão! - De repente, o olhar julgador de Ethan passou de Minashigo para mim, sendo trocado por um olhar de surpresa.

- Ex?

- J-Já faz um tempo que terminamos e eu t-também nem sentia nada, sabe? - Eu coçava meu antebraço esquerdo ainda coberto pelo curativo de Yumi, enquanto desviava o olhar. (- Por que eu estou tão nervosa pra explicar algo tão simples?)

- Ah... Eu entendo!

Ethan levantava da cama, ao mesmo tempo em que deixava o instrumento sobre o colchão, e Minashigo se levantava também. Me salvando daquela situação, a porta do escritório de Sajin abriu, e o mesmo saía do cômodo com uma bengala na mão direita, junto de um outro homem que não estava no momento em que estávamos em seu escritório. O homem tinha uma barba branca cheia no rosto e cabelos que eram um pouco menores que os de Ethan, e também eram brancos. Vestia uma camisa de mangas longas dobradas até o cotovelo e gola rolê folgada, possuindo um branco encardido, dando impressão de que a peça não era lavada fazia semanas, juntamente de sua pele enrugada que transmitia uma sensação de que fazia muito tempo que não era limpa. Usava um colete por cima da camisa e uma calça, ambos marrons e flanelados, e os sapatos pretos nos pés pareciam um conjunto com a calça, devido a terra nos calçados. Por um momento, Sajin ameaçou cambalear, e o homem ao seu lado tentou ajudá-lo, mas Sajin recusou a ajuda ao estender a mão para o senhor.

- Você deveria deixar com que eu o ajudasse com as suas pernas. - De uma forma desconfortável, a voz do homem não transmitia sentimento algum, ao contrário da feição preocupada em seu rosto. Sua voz parecia estar vindo de um robô capaz de fazer expressões faciais humanas perfeitamente.

- Eu ainda aguento! Não se preocupe! - Ao olhar pra frente, Sajin nos encontrou na porta do quarto de Ethan, tendo um brilho nos olhos, mesmo com a expressão de preocupação no rosto. - Vocês ainda estão aqui! Que sorte, vocês não terem saído ainda!

- Tudo bem, pai? - Evidentemente preocupado, Ethan questionava Sajin, que acenou com a cabeça de forma positiva. Após a resposta, apontou para o senhor ao lado de seu pai. - Quem é ele?

- Meu nome é...

- Carter! Carter Elliott! - Sajin interrompia a apresentação do homem, e ambos trocaram olhares atentos, um para o outro.

- Não deveríamos mentir para pessoas com quem teremos que cooperar.

- Eu sei disso, mas não tem como você andar por aí livremente do jeito que você é e nem com o seu nome de verdade! Você vai precisar de descrição, se quiser ser ajudado! - Os dois discutiam em nossa frente, até que Sajin olhou para nós outra vez, lembrando que estávamos bem na sua frente. Sajin suspirou, deixando a bengala encostada na parede, e ele e o homem deram as mãos, ao mesmo tempo em que estendiam suas mãos até nós. - Venham! Será mais fácil de explicar se todos nós estivermos conectados!

A relutância de início foi iminente, mas parecia que não teria outro jeito. Um círculo foi formado entre o tal Carter, Sajin, Minashigo, Ethan e eu, e quando toquei na mão de Carter, um longo filme apareceu sobre nós, contando como teria sido o início de tudo até os dias atuais. Apesar do longo período presenciando todas aquelas informações, fisicamente mal havia se passado meio minuto, e Ethan foi o primeiro a sair do círculo, com uma expressão incrédula no rosto, olhando para Sajin.

- Aquela história que você me contava na infância, sobre um homem ter conseguido o poder de Deus e que optou recriá-lo ao invés de usar seu poder pra si mesmo... Era você? E esse... - O olhar de Ethan passava de Sajin para Carter. - Era o tal Mavlov?

- Poucas pessoas conhecem a veracidade dessa história! Sua mãe e Hideki são algumas delas! - O tom sério mas humorado de Sajin havia sumido, deixando apenas a seriedade em sua voz e rosto.

- E o que ele está fazendo aqui depois de todo esse tempo?

- Ele precisa de ajuda com uma possível ameaça recém despertada... - O olhar sério de Sajin foi de Ethan para mim. - E talvez seu pai esteja envolvido nisso, Erina!

- M-Meu pai? Mas por quê?

- Por mais que eu seja extremamente poderoso, existe um ponto entre essa e a cidade do leste no qual eu não consigo atravessar. É por isso que vou precisar da ajuda de vocês. - Eu soltei da mão de Carter ao ouvir suas palavras, e caí de joelhos, mirando o chão, não acreditando no que estava ouvindo.

HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora