Não sei dizer ao certo qual era o motivo. Se era por causa do meu tempo fazendo os registros em meu celular, ou das conversas com Minashigo no ônibus, ou do tempo passado em silêncio, ou até mesmo, de todas essas coisas em conjunto. O que eu sabia, mesmo sem ter percebido, era que as três horas de uma cidade para a outra em um ônibus haviam passado em uma velocidade da qual não me lembrava de ter presenciado em outra situação da minha vida. Os passageiros desciam do veículo, criando-se uma fila na direção da porta dupla, e eu também me levantei para passar pela mesma. Peguei minha mochila, colocando sobre meu ombro outra vez, e olhando de canto de olho, Minashigo parecia não querer levantar por agora, e enquanto isso, o mesmo digitava alguma coisa em seu celular, não ligando para o resto em sua volta. Em fila, as pessoas saíam do ônibus, e não levou tanto tempo até chegar a minha vez de desembarcar do veículo. Já no pátio, desconectei o fone do celular, o guardando no bolso da calça dessa vez, e ao olhar para o relógio do aparelho, o horário indicava ser dez e meia da manhã no Japão, enquanto na Rússia ainda eram quatro e meia da madrugada. Pensei em ligar para minha mãe, para saber como estavam as coisas por lá, mesmo pensando que poderia ser algum tipo de preocupação exagerada. Havia deixado o Japão fazia apenas um dia, mas eu também havia dito que eu manteria contato. Alguns momentos depois, já decidida, procurei o contato de minha mãe, e iniciei uma tentativa de chamada de voz. O som de espera tocou duas vezes, até que na terceira, o outro lado finalmente atendeu.
- Erina, minha filha! Como vai? Tudo bem com você?
- Oi, mãe! Estou ligando pra saber como vão as coisas por aí!
- Nada fora do normal! Suas amigas me ajudaram com os afazeres da casa, e até mesmo o Skaild apareceu, no fim da tarde! Como você tinha dito que não tinha nenhum problema com ele, ele passou para te ver, mas você já tinha saído!
- Nossa! Isso foi bem... Inesperado! Ele disse mais alguma coisa?
- Ele te desejou boa sorte na sua viagem!
- Entendo! Mãe, eu acabei de chegar na cidade do sul, do estado do sudeste! Vou pegar o ônibus que vai me levar daqui para a cidade do sudoeste!
- Não teve nenhum problema com você?
- Com exceção da queda de bicicleta e do avião que eu perdi, tudo está indo da forma que foi planejada!
- Ainda bem! - Ao fundo da ligação, pude ouvir algo chiando, provavelmente alguma das panelas já no fogo. - Erina, vou ter que desligar! Se cuida, garota! Te amo!
- Também te amo, mãe! Se cuida você também! - E a ligação se encerrou, e eu bloqueei a tela do celular, guardando-o no bolso da calça. Chegando até as informações do pátio, Minashigo já estava de pé, em frente as placas, parecendo prestar mais atenção nos horários de ônibus do que querer saber para onde ficava o aeroporto. Me aproximei, e talvez por reconhecer meus passos, Minashigo sequer se virou ao sorrir, sabendo que era eu quem chegava perto.
- Seu ônibus vai sair daqui quinze minutos!
- Obrigada! Já sabe como ir para o aeroporto? - Minashigo não respondeu de imediato. Suspirou, e se virou para mim.
- Eu estava pensando! Tudo bem se eu fosse com você? Eu sei que você está indo atrás do seu pai, mas eu quero visitar o amigo do qual eu tinha dito, e ele vive na cidade central do estado norte da Itália, que é um dos seus destinos! Ele pode ter alguma informação para ajudar na sua busca! - Caí a cabeça para a direita, apoiando a cabeça com a mão direita e apoiando o cotovelo direito com a mão esquerda, ainda encarando Minashigo. - Eu prometo que não vou atrapalhar! Eu só achei que... Seria legal... Ter esse tipo de experiência também!
- Finalmente falou o que realmente queria! - Suspirei, ajeitando a cabeça e soltando os braços. - Sabe onde fica o banheiro? - Minashigo apontou para algumas portas, perto de um estacionamento para carros e motos, na parte de trás do pátio. - Vou lavar meu rosto e já volto!
Minashigo concordou com a cabeça, e eu fui até o banheiro. Ao entrar, a onda de azar surgiu outra vez, e sem perceber, meus fones caíram de meu bolso, e eu só havia percebido isso quando senti minhas botas esmagarem os autofalantes do fone. Já frustrada e irritada, fui até uma pia e lavei o rosto, como eu tinha dito que faria, e com algumas folhas de papel ao lado do espelho que estava pendurado em cima da pia, sequei meu rosto. O frio bateu do nada, me forçando a tirar a mochila das costas, e tirar dela uma blusa cinza e um cachecol vermelho escuro, os vestindo em mim. Saindo do banheiro, olhei para o banco onde Minashigo tinha se sentado, e ele não estava mais lá. Tirei o celular do bolso e verifiquei as horas. Ainda faltavam onze minutos para o próximo ônibus, e aquele que havia insistido em me seguir nessa viagem, havia sumido. Olhando em volta, pude vê-lo na entrada de uma das poucas lojas abertas naquele horário, e apesar de querer apenas esperá-lo voltar da loja, reparei que a loja vendia eletrônicos e acessórios no geral, e lembrando da perda do meu fone, suspirei, indo na direção da loja. Ao chegar na entrada, Minashigo percebeu a minha presença, surpreso.
- Eu não esqueci do ônibus! Só estava dando uma olhada!
- Tudo bem! Foi bom te encontrar aqui! Eu acabei... Meu fone estragou, sem motivo nenhum! - Olhei por cima do ombro de Minashigo, e pude ver uma prateleira com alguns fones. Fui até ela, pegando um fone branco, de arco, e o apontei para Minashigo. - Quanto deve custar, na conversão?
- Uns oitocentos ienes!
- Vou... - E por um instante, o frio parecia entrar sobre as peças da minha roupa. - Vou levar!
- Por que não vai em alguma lanchonete tomar ou comer alguma coisa quente? Com certeza tem alguma aberta por aqui!
- Tudo bem! Só vou pagar e já vou!
- Pode ir na frente! Deixa que eu pago o seu fone! - Pensei em protestar, mas Minashigo adiantou o complemento da resposta. - Aí você me compra algo para comer também!
- Certo! Eu aceito! - Rimos, e eu entreguei o fone para Minashigo, e nisso, voltei para o pátio do local.

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Fiction généraleExplorações, registros, conhecimentos, comentários sobre tais coisas, eram coisas que Erina admirava no homem da sua vida, seu pai. Desde sempre, a garotinha do papai mostrava interesse na profissão do homem que cuidava da família, e em resposta, o...