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(- Que livro idiota! - Mari dizia, estressada, jogando o livro passatempo de traduções. Era véspera do meu aniversário, e mesmo com raiva, a garota ruiva de óculos estava mais animada que eu próprio.

- O que foi?

- Esse livro quer a tradução de "futebol", mas não tem "football" em nenhuma das alternativas!

- Me deixa ver esse livro! - Mari pegou o livro de volta, e o virou para mim, apontando para a questão que estava lhe tirando do sério. Ao ver a questão, entendi o problema. - É que "soccer" é a resposta correta! - E ao terminar a frase, Mari vira o livro, incrédula.

- Tenho certeza de que é football!

- As duas respostas estão certas, mas football é como futebol é chamado no inglês britânico! Esse livro deve ter se baseado no inglês norte-americano, por isso que a resposta certa é soccer! - Mari marcava a resposta correta, circulando-a com uma caneta vermelha.

- Até isso você sabe! Tem alguma coisa que você não aprendeu nesses livros?

- Eu não sei! Eu só sei que eu pego qualquer livro nessa biblioteca e leio! - Mari fechava o livro, deixando-o na mesa e pousando a cabeça sobre a mão direita que estava suspensa no ar, enquanto seu cotovelo direito estava na mesa. De repente, apontou para uma das janelas da biblioteca do orfanato com o dedo indicador da mão esquerda.

- Olha ali!

- O que? - Me virei na direção em que Mari apontava, e rapidamente, ela se levantou da cadeira, cruzando a mesa até mim, e tocando seus lábios em minha bochecha.)

Enquanto eu esperava Erina voltar do banheiro, tal lembrança surgiu em minha memória, ao observar um casal de pais lendo um livro de contos infantis para um pequeno bebê em seus braços, que adormeceu depois de algum tempo, e com um sorriso no rosto, a mulher havia beijado a bochecha de seu companheiro, e pousou a cabeça em seu ombro, e o homem pousou a cabeça sobre a cabeça de seu par, também sorrindo.

- Que felicidade radiante! - Me ouvindo falar, uma senhora que estava sentada ao meu lado olhou para mim, com uma das sobrancelhas levantadas, indagando dúvida em seu rosto. - YA yaponets! Prokhozhu s drugom! [Sou japonês! Estou de passagem com uma amiga!] - Expliquei-me para a senhora, que sorriu e assentiu com a resposta, voltando ao seu próprio silêncio. E de supetão, Erina surgiu.

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- Ainda temos mais dez minutos! Não quer ir no banheiro também?

- Quero sim! Antes que a minha bexiga exploda!

- Ok, né! Vai lá que eu espero aqui! - Minashigo se levantou e foi até os banheiros, e eu me sentei em seu lugar. Quando me sentei, uma senhora que já estava sentada olhou para mim, e eu sorri para ela, acenando ao mesmo tempo, e a senhora devolveu o sorriso. De repente, meu celular em meu bolso começou a tocar, e eu o peguei para atender. Quando olhei para a tela, era o número de Enma que me chamava. - Oi, Enma!

- Olá! Como estão as coisas?

- Bom, um dos ônibus que eu deveria pegar não está funcionando, mas tirando essa parte, está tudo bem sim! E como estão as coisas por aí?

- Estamos bem também! A Makoto conseguiu um emprego de meio período em um shopping e a Remi e eu estamos em um trabalho voluntário com animais, sempre revisando os horários para visitar a sua mãe!

- Eu sei que eu já falei isso, mas obrigada por tomarem conta da dona Misato por mim!

- Não se preocupe com isso! E o que você vai fazer? Tem alguma outra forma de você continuar a viagem?

- Tem sim! Vou de metrô! Inclusive, talvez seja mais rápido também!

- E sobre o fuso-horário?

- Agora são... - Olhei a tela do celular, ao mesmo tempo em que Minashigo voltava do banheiro. Faltavam cinco minutos para o trem sair. - Um pouco mais que sete e meia! Deve ser mais de uma hora e meia da tarde aí no Japão! - Minashigo sinalizou, mostrando que iria entrar no trem, e eu me levantei, seguindo-o com alguns passos de distância. - Enma, eu vou entrar no trem agora! Se cuidem aí!

- Você também, Erina!

E Enma encerrou a ligação do outro lado da linha. O vagão continha alguns bancos em fileira única, virados de costas para as janelas, mas também tinham bancos virados uns para os outros, lembrando os assentos do ônibus que havíamos acabado de desembarcar. Entrando no trem, Minashigo procurava algum lugar para se sentar, e eu tomei a frente, me sentando em um dos assentos de fileira, perto da porta. Vendo a minha ação, Minashigo se sentou ao meu lado, enquanto eu deixava a mochila em meu colo, e ele, a maleta em seu colo. Abri a mochila, pegando duas das cinco metades dos sanduíches ainda restantes, entregando uma das metades para Minashigo, que aceitou sem protestar ou questionar.

- Você parece estar com mais pressa do que eu! - Mastigando o sanduíche, Minashigo fez menção de pôr a mão na frente da boca para me responder, para falar algo, mas então, olhou para alguma coisa e apontou na tal direção, na qual eu me virei, observando várias pessoas entrando no vagão.

- São esses momentos que os passageiros costumam entrar no trem, para garantir seus assentos! - Por um momento, como se tivesse percebido apenas agora, Minashigo viu o curativo em meu braço. Com o indicador esquerdo, tocou o esparadrapo ao redor do meu braço, e por instinto, recuei o braço para mais perto de mim. - Você já estava com isso no braço?

- Desde o momento em que embarquei no porto, lá no Japão!

- Foi muito grave?

- Nada demais! Apenas caí de bicicleta, indo até o porto! - Segurei a metade do sanduíche com a boca e dei leves tapas no braço enfaixado com a mão direita, indicando que o mesmo estava ótimo. Após isso, peguei o sanduíche de volta de minha boca. - Já está ótimo! Agora, mudando de assunto! Quanto tempo leva para esse tem chegar na próxima cidade?

- Levando em conta as possíveis paradas dentro dessa mesma cidade, eu diria meia hora é o suficiente para chegar na próxima cidade! - Fiquei alguns momentos em silêncio, pensando, e então, respondi finalmente.

- Ele cruza o país todo, não é? - Com a pergunta, Minashigo me olhou, curioso.

- Não está pensando em...

- Estou sim! - Minashigo permaneceu em silêncio por alguns instantes, e então, assentiu, e o trem começou a se locomover.

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