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Antes mesmo que eu pudesse dizer algo, o trem havia parado, juntamente do som alarmante do freio sendo acionado, e as portas dos vagões se abriam. Os passageiros saíam dos vagões, enquanto Minashigo e eu ainda ficávamos sentados nos mesmos assentos, até que Minashigo tomou a iniciativa e se levantou, e eu fui atrás. Subimos as escadas que levavam para alguma rodoviária na Finlândia, e a sensação de já ter passado por aquilo surgiu em mim. Olhando bem, o sistema de metrô da Rússia e da Finlândia se pareciam muito, e Minashigo não pareceu negar a ideia de ter o mesmo sistema de locomoção nos outros países, o que me trouxe a suspeita de que esse modelo de transporte havia sido adotado mundialmente, e meu foco nos estudos impediu que eu percebesse algo desse tipo sendo fabricado no subterrâneo da cidade em que moro. Na rodoviária, olhávamos para várias direções naquele lugar, e ao mesmo tempo em que Minashigo encontrava seu alvo, eu encontrava o meu.
- O ônibus para a fronteira está ali! - Minashigo cutucava meu ombro com a mão esquerda para chamar minha atenção, ao mesmo tempo em que apontava para o ônibus com a mão direita.
- Você pode ver quando ele irá sair? Minha bexiga está me matando!
- Tudo bem! Mas e se ele estiver saindo agora? - Fiquei alguns momentos esfregando a ponta dos dedos em meu couro cabeludo, até que uma ideia surgiu em minha cabeça.
- Me empresta o seu celular! - Com uma expressão confusa no rosto, Minashigo tira o celular do bolso, o desbloqueia e me entrega. - Vou deixar meu número nele e você me avisa! Se o ônibus estiver saindo agora, eu volto do banheiro na mesma hora! - Coloquei cada um dos dígitos, salvando meu contato no celular de Minashigo e devolvendo o aparelho logo em seguida, enquanto o mesmo guardava o dispositivo no bolso outra vez.
- Certo! Vou ver com o motorista se ele vai sair agora!
- E eu vou ao banheiro! JÁ VOLTO!!
Eu gritava, ao mesmo tempo que eu ia na direção do banheiro, sem querer chamando a atenção de todos aqueles que estavam ao nosso redor, não me importando com aquilo. Chegando ao banheiro que se encontrava vazio, fui em uma das pias, me encarando no espelho enquanto abria a torneira e pegava um pouco de água para jogar em meu rosto. Apesar do problema principal ser minha bexiga, sentia que precisava tirar a incômoda sensação de sono que a viagem de metrô havia deixado em mim. Indo até uma das cabines, meu celular tocou com uma mensagem de um número no qual eu não possuía registro, o que não levou tanto tempo até que as peças se encaixassem para que eu entendesse de que a mensagem vinha do número de Minashigo. Ao abrir o recado, Minashigo dizia que o ônibus iria sair em seis minutos, o que era tempo suficiente para que eu pudesse me aliviar. Digitei um "certo" como resposta e o enviei, guardando o celular no bolso da blusa ao mesmo tempo em que tirava a mochila de minhas costas e a deixava no chão, e em seguida, abaixava as peças de roupa que usava da cintura pra baixo até a metade das canelas, e me sentei na privada da cabine, que estava tão gelada que fez com que eu colocasse um esforço maior do que eu havia notado, fazendo com que minha bexiga se esvaziasse quase que no mesmo instante. Me secando e me vestindo outra vez, ao mesmo tempo em que recolhia a minha mochila do chão, fui novamente até a pia para lavar minhas mãos dessa vez, me apressando o quanto eu podia para não perder o ônibus para a fronteira com a Suécia. Chegando no ônibus, faltavam apenas poucas pessoas para entrar, e Minashigo estava me esperando do lado das portas do veículo, mas ao ver que eu me aproximava, tratou de entrar no ônibus, falando algo que eu não entendia para o motorista, ao mesmo tempo em que pagava a sua passagem e ia mais ao fundo no veículo. Quando subi no ônibus, o motorista já estava com a máquina pronta para que eu pudesse pagar pela passagem, me fazendo pensar que Minashigo já havia adiantado todo o trabalho de ter que pedir a passagem em um idioma que eu não tinha conhecimento. Tirei o celular do bolso e apontei a câmera do mesmo na tela da máquina, pagando a passagem e indo mais para dentro do ônibus, encontrando onde Minashigo havia se sentado e indo até ele, me sentando ao seu lado.
- E então?
- Estou bem melhor agora!
- Você é valente mesmo! Eu não teria coragem de usar uma privada de banheiro público aqui na Finlândia! Deve ser um gelo!
- Eu acabei nem pensando nisso na hora, mas realmente, foi um choque quando aconteceu! Acho que eu estava tão apertada que a possibilidade disso acontecer nem passou pela minha cabeça! - E outra vez, eu passava meus dedos entre meus cabelos, meio sem jeito pelo o que aconteceu, e Minashigo ria da situação, ao mesmo em que o ônibus começava a viagem. O silêncio se instalou, e minha curiosidade veio, trazendo mais uma vez o assunto que tinha surgido no metrô. - Você tinha dito que pensou em ir atrás dessa mulher que você falou, não é? - Surpreso, Minashigo olhou para mim, e mesmo que eu estivesse encarando o teto do ônibus, pude perceber de canto de olho que ele respondia com a cabeça, afirmando. - Mas então você sabe pra onde ela foi?
- Os pais dela moram na cidade do sudoeste do estado em que nós saímos do Japão!
- Logo nessa cidade!
- Eu sei! Aquelas guerras entre famílias que ocorriam naquela cidade foi a primeira coisa em que pensei quando ela disse onde seus pais moravam! - Abaixei a cabeça, e talvez por instinto, mas o punho de Minashigo se fechou, juntamente de seus olhos, e então foi a vez de Minashigo levar o rosto pra cima. - Mas eu a conheço desde sempre! Tenho certeza de que nada de ruim aconteceu com ela e de que ela também deve estar muito ocupada! Eu acredito de verdade nela! - Eu não sabia como responder aquilo, e nisso, eu apenas observava o céu da madrugada que ainda pairava.

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Fiction généraleExplorações, registros, conhecimentos, comentários sobre tais coisas, eram coisas que Erina admirava no homem da sua vida, seu pai. Desde sempre, a garotinha do papai mostrava interesse na profissão do homem que cuidava da família, e em resposta, o...