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(- Você pegou muito! - Minha mãe tirava o bolo de arroz de minhas mãos, tirando parte do arroz, diminuindo a quantia, enquanto eu pegava outro monte de arroz. - Agora pegou pouco! - E outra vez, ela pegava o montante da minha mão, juntando com o que havia sobrado do primeiro monte.

- Não tem jeito mesmo! Eu não sirvo pra cozinhar!

- Você aprende com o tempo! É tudo uma questão de prática!

- Por que não usamos uma forma?

- Deus, onde foi que eu errei em ter uma filha tão preguiçosa assim?

- Praticidade, mãe! Esse é o verdadeiro nome! - Distraída e sorrindo, eu olhava as estrelas pela janela da cozinha, contando cada pontinho brilhante no céu, mesmo sabendo que era impossível contar tudo. - E imaginar que, com o passar do tempo, até as estrelas mudam de lugar!

- Erina... Você já se questionou alguma vez sobre esse seu sonho de ser arqueóloga? - E lentamente, o sorriso em meu rosto foi se desfazendo.

- Todo trabalho tem seus prós e contras! Acho que no final, depende de como você coloca tudo na balança! - Olhei para a minha mãe de canto de olho, a observando limpar as mãos com um pano seco, e em seguida, pousando a mão esquerda em minha cabeça, bagunçando meus cabelos, rindo.

- Cabeça dura igual ao seu pai! - E ouvindo tal resposta, não pude deixar de rir também.)

Após duas horas de viagem, o trem havia chegado, e como sempre, esperávamos os passageiros saírem para então sairmos também, e com mais calma do que a vez anterior, subíamos as escadas até a rodoviária e pegamos o ônibus que cruza a fronteira entre a Suécia e a Noruega. Com o modelo excêntrico de ônibus com pares de assentos virados uns para os outros, eu me sentei em um par virado para o fundo do ônibus, e apesar de Minashigo ter ficado no par de bancos do lado oposto ao meu, preferiu se sentar de costas para a janela, olhando alguma coisa no celular. Com o veículo em movimento, eu olhava o céu recém claro com a chegada do sol da manhã pela janela do ônibus, alternando apenas uma vez para a tela do celular para ver o atual horário no qual era um pouco mais de oito da manhã, sendo três da tarde no Japão, e sentindo uma certa falta do céu noturno, eu passava a ponta do indicador esquerdo no vidro da janela, sem perceber o longo suspiro que eu soltava enquanto lembrava de uma das noites na cozinha com a minha mãe, acompanhada de um céu enegrecido mas estrelado.

- Você não disse quase nada desde que entramos no trem! - Me endireitando no banco ao mesmo tempo que Minashigo, mas sem tirar os olhos da janela, eu sorria, fechando meus olhos parcialmente.

- É irônico, não? Eu amo o céu da noite, mas morro de medo quando chove, sendo que nas duas ocasiões, o céu está escuro!

- Mas a chuva também pode aparecer durante o dia e nem sempre escurece quando chove!

- Eu sei mas é que... - Balancei a cabeça, perdendo de vez o ponto que eu queria provar na conversa. - Deixa pra lá! Não sei o que eu queria dizer com isso! - Eu abria um dos zíperes da mochila, tirando um elástico preto, enrolando meu cabelo.

- No céu noturno nós não sabemos quando vai chover, diferente do céu da manhã e da tarde! Talvez tenha sido isso? - Eu dei de ombros ao terminar de amarrar o cabelo.

- Acho que sim! Não sei dizer se era exatamente isso! - Olhei para Minashigo que também olhava em minha direção, apesar de que no mesmo instante, ele virou o rosto para a janela também.

- Parece algo figurativo! Quero dizer, durante o dia se o céu escurecer é porque a chuva vai vir, e enquanto de noite fica aquela dúvida se a chuva virá ou não! Acho que era isso que você estava tentando dizer quando falou de ironia!

- Deve ser! Acho que eu nunca pensei por esse lado! Agora eu vou morrer de medo do céu noturno haha! - Apesar das risadas, acabei deixando transparecer um certo nervosismo na voz.

- Você parece ter um medo anormal da chuva! - Com a fala de Minashigo, minhas risadas cessaram, e ao olhar o vago reflexo de mim mesma no vidro da janela, percebi o desconforto em meu rosto ao lembrar daquele fim de tarde no colégio. Nisso, Minashigo virou para mim outra vez. - Esquece! Acho que toquei em um assunto que eu não dev...

- Eu tinha sete anos quando aconteceu! Estava tendo uma chuva forte e alguns alunos estavam indo embora mais cedo porque estavam sendo buscados pelos pais! No meu caso eu fiquei até tocar o sinal para ir embora, e ao chegar na saída do prédio, minha mãe estava no corredor do banheiro, conversando com uma das moças do barzinho que tinha no colégio, e quando ela me viu, eu acabei olhando para um cachorro que passava na frente do colégio, e de repente, um raio caiu no animal! Eu me assustei de forma em que eu larguei a minha mochila e corri para dentro do prédio, ignorando os gritos da minha mãe, e entrei na primeira sala com a porta aberta que eu vi e me tranquei no cômodo! Eu havia passado pelos senhores da limpeza antes de me trancar na salinha que eu estava, então por causa disso o cômodo em que eu estava era justamente o depósito da repartição de limpeza do prédio, mas aquele quarto minúsculo estava tão escuro que o que eu via eram as silhuetas que as vassouras e esfregões formavam, e pra piorar, sempre que um raio caía, essas coisas pareciam ficar cada vez mais perto de mim! Eu estava tão apavorada, pensando que aquelas formas eram algo que a chuva tivesse trazido para me buscar por algum motivo, que meus gritos não saíam, e foi só no terceiro raio que eu finalmente consegui gritar, e de imediato, a porta atrás de mim se abriu, e sem que eu tivesse tempo de me virar, minha mãe me abraçava pra me confortar, estando mais desesperada do que eu! Na hora de ir embora, alguns orientadores secavam o cachorro que eu tinha visto, dizendo que ele era um cão de guarda do colégio que havia escapado e que quase tinha sido acertado por um raio!

- Então... O cachorro não tinha se machucado ou... Morrido?

- Não... Mas quem disse que a pequena Erina daquela época tinha entendido que aquilo tinha sido um mal entendido? - Me virei de novo para Minashigo, dando de ombros, com um sorriso forçado em meu rosto, mostrando um claro desconforto.

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