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Ao contrário das vezes anteriores, a rodoviária mais próxima da divisa não ficava tão longe, do mesmo modo que a divisa entre os dois países não exigia uma viagem de três horas para que a troca de países fosse executada. Chegando na rodoviária, uma estranheza tomou conta de mim. Nem de longe aquela rodoviária parecia com as outras nas quais sempre pegávamos o metrô, e era como se fosse uma miniatura das outras. Poucos lugares para se sentar e esperar, com poucos espaços para estabelecimentos, e o que eu já devia imaginar, é que não havia nenhuma escada levando para o subterrâneo, para que pudéssemos pegar o trem. Descemos do ônibus, e Minashigo captou a estranheza em meu rosto, tocando meu ombro e apontando para um bondinho parado, o que me fez entender de imediato que aquele local era apenas o início da jornada para aqueles que chegavam a Itália. Subimos no bondinho, e após alguns minutos de espera, junto de outros passageiros subindo no veículo, o mesmo começou seu trajeto para sabe-se lá onde.

- Não entendi o porquê desse ponto perto da fronteira, mas longe do resto das outras cidades! - Eu dizia, tirando a mochila das minhas costas, colocando a mesma no chão do veículo em movimento.

- No nosso caso não faz diferença, mas parando pra pensar, com certeza tem pessoas que iriam preferir parar mais perto da fronteira e andar da própria maneira do que esperar uma viagem muito longa, só pra estar mais perto da civilização o mais rápido possível!

- Esse bonde é que nem o da Noruega? - Eu perguntava enquanto abria a mochila, retirando dela a marmita de plástico contendo os croissants de Minashigo e os meus pedaços de torta de maçã.

- Como assim? Fala sobre ele cruzar o país todo? - Eu abria a marmita, estendendo-a até sua frente, deixando-o pegar um de seus croissants. - Obrigado! - E em seguida, eu pegava um dos pedaços da torta de maçã.

- Isso! A gente podia usar ele pra chegar na cidade central do estado central! - Eu mordia a fatia em minha mão ao término da frase, e Minashigo cobria a boca para falar, ainda mastigando a comida.

- É provável! E também possa levar menos tempo, já que só queremos chegar até tal parte da Itália ao invés de cruzá-la por completo! - E antes que eu falasse qualquer coisa, eu engolia o alimento já mastigado em minha boca.

- Então está decidido! Agora são... - Eu pegava meu celular, ascendendo a tela do aparelho em minha mão. - Um pouco mais que cinco e meia da manhã! Deve levar o que? Umas duas horas e meia de viagem?

- Pode por mais uns vinte minutos nessa conta! Serão quatro paradas que o bondinho vai fazer entre as trocas de cidades, cada pausa tendo cinco minutos para as pessoas embarcarem e vice-versa!

- Igual na Noruega!

- Exato!

Concordei com a cabeça, deixando claro que a ideia havia finalmente sido decidida de forma definitiva, e mais uma vez, o silêncio retornou. Não havia nenhum distanciamento para evitar algum tipo de conversa ou sequer a existência de uma sensação desagradável no ar que nos fizesse esperar uma brecha melhor para nos falarmos, mas o silêncio em si era por estarmos nos alimentando. Eu havia terminado primeiro de comer, e enquanto isso, eu olhava ao nosso redor. Assim como Minashigo e eu, as outras pessoas no bondinho não fugiam do normal, tendo seus rostos em seus celulares ou lendo algo em jornais e livros, concentrados apenas naquilo que estava na sua frente. Em paralelo, haviam algumas crianças brincando com o vidro embaçado das janelas, nublado pelo vento gélido do frio presente, desenhando formas que tentavam se assemelhar com pessoas, animais ou seja lá o que a criatividade trazia até a mente daquelas crianças, tentando deixar suas brincadeiras internas ainda mais divertidas. Eu apenas reparei que Minashigo havia terminado de comer quando o mesmo esfregou as palmas das mãos, uma na outra, tentando tirar os farelos presentes na pele.

- Quanto tempo faz que você conhece Gotcha? Desde a infância? Adolescência?

- Infância! Minha mãe tem os CDs em mídia física, o que só isso já é uma raridade, e eu ouvia eles no computador da casa! Um tempo depois eu aprendi a copiar as músicas do CD para o computador e assim eu coloquei toda a discografia da banda no celular!

- Acho que eu não sou o único prodígio aqui!

- Ha ha mas no meu caso foi algo mais prático! Eu não tenho uma biblioteca particular na minha casa! - Minashigo riu por um instante, procurando algo nos bolsos logo em seguida, até tirar uma pequena foto de um dos bolsos, me entregando tal retrato.

- Essa é a Mari!

Eu observava a foto que me havia sido entregue. A única característica que Minashigo havia dito até então sobre Mari eram seus cabelos ruivos, que continuavam sendo os mesmos registrados na foto. A mulher usava um óculos de armação igualmente vermelha, quase que se misturando com os cabelos que parte estavam na frente do torso, parte atrás. Não saberia dizer ao certo sobre o clima no momento em que a foto tinha sido tirada, mas Mari usava uma blusa aberta rosa por cima de um suéter cinza claro, e as golas da camisa branca passavam sobre a gola do suéter, estando levantadas, cobrindo parte do pescoço. Ela fazia um "V" com o dedo indicador e do meio da mão esquerda, levando-os para perto do rosto, sorrindo no processo, com os olhos fechados. Não conhecia nada de Mari além das poucas coisas que Minashigo havia contado, mas ela naquela foto era o suficiente para confirmar sobre a alegria espontânea na qual Minashigo tinha falado anteriormente, me fazendo entender suas quase lágrimas quando o flagrei olhando para tal foto. Devolvi a foto para Minashigo, claramente com expectativas altas para saber minha opinião.

- Foi você quem tirou essa foto?

- Foi! Por quê?

- Só um palpite! Ela é muito bonita!

- Essa foi a última foto que eu consegui tirar dela, antes da minha antiga câmera polaroid praticamente morrer! Nós temos outras fotos em nossos celulares mas... É sempre legal quando fazemos o mesmo de sempre, mas de formas diferentes! - Olhando o brilho nos olhos de Minashigo, não quis responder e quebrar aquele encanto. Em contrapartida, o bondinho fez sua primeira parada.

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