- Passaporte? Ok! Identificação? Ok! Visto de arqueóloga iniciante? Ok! Água? Ok! Roupas limpas? Ok! Escova de dentes e pasta? Ok! Dinheiro? Ok! Lanche? Ok, mas espero que o recheio de atum dos sanduíches não vaze na mochila! - Eu verificava minhas coisas, e por um momento, olhei para Olaf em cima do meu travesseiro, um coelho de pelúcia com pelo amarelo que, com o tempo, aparentava estar ficando verde. - Eu já estou crescida! Não deveria ficar andando por aí com bichos de pelúcia! - Olaf era algo sem qualquer tipo de vida, mas naquele momento, seus olhos aparentavam implorar para que ele fosse levado comigo em minha jornada. - Nada disso! Alguém terá que fazer companhia para minha mãe, e eu espero que vocês dois se deem bem, porque eu não sei quando irei... - E antes que eu pudesse terminar a frase, ouvi batidas em minha porta. - Pode entrar!
- Erina? Eu ouvi você saindo mais cedo hoje!
- Eu passei no banco para retirar parte do dinheiro e transferir o restante para uma conta de aplicativo no celular! Nem consigo acreditar no quão valorizado ele ficou nesses dezesseis anos!
- Já arrumou tudo?
- Sim! Tenho tudo certo! Vou precisar pegar um ônibus que vai me levar da cidade do sudeste para a cidade do leste, onde fica o aeroporto, e pegar um voo para a... - E antes do fim da frase, minha mãe me abraçou bem forte, de maneira que eu não conseguia mais respirar. - M-Mãe... N-Não con... sigo... Res...
- Desculpa, filha! Não tive intenção! É que... Ficar sozinha nessa casa... Mande mensagens para a sua mãe, e isso é uma ordem, Erina!
- Eu já ia fazer isso! Não se preocupe! E você não vai ficar sozinha! - Me soltei de minha mãe e fui até a minha cama, pegando Olaf e colocando-o na frente dela. - É bom que vocês se entendam, porque serão apenas vocês dois sobre o mesmo teto... Ou quase isso! - Minha mãe segurava Olaf nas mãos, com dúvida em seu olhar, e eu aproveitei para pegar minha mochila, colocando-a sobre meu ombro direito. - A Remi mandou mensagem, perguntado se ela e as outras garotas poderiam vir aqui de vez em quando, para te fazer companhia! Eu falei que por mim estava tudo bem! - E ainda com Olaf nas mãos, minha mãe voltou a me abraçar, com os braços em volta de meu pescoço, não tocando em minha mochila, o que me deu uma pitada de medo dos sanduíches vazarem, um movimento da parte dela que parecia ser instintivo.
- Parecia que tinha sido ontem que eu te via rabiscando em folhas, alguns formatos aleatórios, tentando formar alguma coisa que sonhava em descobrir ao lado do seu pai! Você cresceu tão rápido e está tão linda, mesmo não colocando nenhum tipo de maquiagem e se vestindo... Dessa forma! - Me afastei um pouco do abraço e a encarei com uma expressão de "É sério?" no olhar, devido ao comentário. - Independente da roupa que vista, ou do objetivo que você tenha, você sempre será a minha filhinha que eu tanto amo!
- Eu também te amo, mãe! - Voltei a abraçá-la, e a beijei na bochecha, e então eu passei por ela, descendo as escadas. - SE CUIDA, MÃE!! E CUIDE BEM DO OLAF!!
- SÓ SE ELE NÃO APRONTAR NADA!! SE CUIDE TAMBÉM, ERINA!!
Chegando no térreo da casa, fui até a porta da frente, me sentei e comecei a calçar meu par de botas pretas sobre minhas meias vermelhas, amarrando os cadarços de forma que fizessem as botas ficarem firmes em meus pés, mas que não as apertassem tanto. Passei pela porta e tive o primeiro sinal de que a sorte estava do meu lado quando um ônibus circular estava parado no ponto, alguns metros de minha casa. Acenei para ele, e o motorista apertou a buzina, indicando que tinha me visto e que estava me esperando. Corri até o ônibus e entrei, dando quarenta ienes ao motorista para pagar a passagem, e me sentei em algum dos bancos vagos. Ao me sentar, tirei do bolso da minha camisa social verde escuro, a qual usava como se fosse uma jaqueta por cima de uma regata preta, um par de fones que conectei ao celular, abrindo o aplicativo de música e selecionando alguma faixa, mas antes mesmo que eu pudesse dar play, o circular já havia chegado na rodoviária. Descendo do circular, o ônibus que levava até a cidade do leste já estava presente, e eu subi no mesmo, ao mesmo tempo em que eu entregava cem ienes para o motorista. O ônibus não demorou muito para sair, apenas mais alguns passageiros subiram depois de mim, e o ônibus deu início ao caminho até a cidade vizinha. Com a pouca quantidade de passageiros no ônibus, aproveitei e coloquei minha mochila no banco ao lado da janela, e fiquei sentada no banco ao lado do corredor, e enfim dei play em alguma música no celular, e com isso, acabei cochilando. Com um piscar de olhos, o ônibus chegou na rodoviária da cidade do leste, e eu esperei todos descerem para que eu também pudesse descer, e ao descer, algo me chamou a atenção. Algumas bicicletas estavam paradas na frente de uma loja de conveniência, e cada uma delas tinham o que parecia ser um cronômetro no guidão, junto de alguns buraquinhos para por moedas e notas de iene, cem ienes para ser mais exato. Fiquei curiosa com aquilo e resolvi experimentar. Antes de por os cem ienes, tirei os fones de meus ouvidos e os guardei outra vez no bolso da camisa, e então coloquei o dinheiro no dispositivo da bicicleta. Por mágica, a bicicleta, que estava trancada no suporte parafusado ao chão, havia se soltado, e junto do tal dispositivo, havia um mapa indicando vários lugares em que a bicicleta poderia ser guardada, e um deles era justamente o aeroporto. Subi na seleta e comecei a pedalar, e ao mesmo tempo em que o vento batia em meu rosto e balançava meus cabelos, meu celular tocou. Quando o peguei, era uma mensagem de Makoto, que havia me mandado uma foto com ela, Enma, Remi, minha mãe e até mesmo Olaf na mesa de jantar, com um "Boa sorte!" escrito na legenda. Mandei de volta um emoji de coração, agradecendo pelo afeto, guardei o celular no bolso outra vez, e continuei seguindo meu caminho.
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General FictionExplorações, registros, conhecimentos, comentários sobre tais coisas, eram coisas que Erina admirava no homem da sua vida, seu pai. Desde sempre, a garotinha do papai mostrava interesse na profissão do homem que cuidava da família, e em resposta, o...