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Se na cidade do sudeste eu estava com sorte, aqui na cidade do leste a minha sorte havia acabado. Tive que dar a volta em alguns quarteirões porque, justamente na rua mais próxima do aeroporto, houve alguns problemas de esgoto que já estavam sendo solucionados, mas até que tudo estivesse terminado, ninguém poderia passar por aquela rua. Distraída, olhei para o celular pare ver as horas, e ao terminar, precisei mudar a minha rota, pois estava quase passando por cima de uma gata branca que estava atravessando a rua, e como resultado, me desequilibrei e fui ao chão, ralando meu antebraço esquerdo.

- Isso só pode ser brincadeira! E eu não trouxe nenhum kit de primeiros socorros! - Olhei o braço, e apesar de não ter sido nada grave, ainda ardia e sangrava. - Não tem jeito! Vou ter que limpar lá no aero...

- ELISSAAAAA!!! - Uma voz gritava tal nome, e a felina de pelo branco parecia reagir ao nome sendo chamado. De repente, uma mulher de cabelos roxos, rosto sereno e uma postura fina surgiu, e a gata foi até ela. - Eu vi o que aconteceu! Sinto muito! Ultimamente a Elissa vem estando rebelde nos últimos dias!

- Não tem... - Eu me levantava do chão, levantando a bicicleta junto comigo, mas o machucado ardeu de maneira que fez com que eu interrompesse a minha resposta.

- Eu posso... Ver como esse machucado está? - Ainda ardendo, balancei positivamente a cabeça, e a mulher examinou meu ferimento. - Não foi nada grave, mas você deveria limpar esse machucado! Você tem... - Enquanto a mulher falava, comecei a desdobrar a manga da camisa social para esconder o ferimento, mas a moça me impediu. - Espera! Não faça isso! Além de sujar sua blusa, pode acabar piorando o estado do machucado! Eu tenho uma estufa aqui perto! Na verdade é bem aqui... - A mulher apontou para o portão, quase na nossa frente. - E eu tenho alguns itens para machucados assim! Posso cuidar dele por você, já que a sua queda foi, parcialmente, minha culpa! - Olhei para a mulher, depois para a gata em seus braços, e outra vez para a mulher, e suspirei pesadamente. Queria começar a minha viagem até meu pai o quanto antes, mas a moça em minha frente parecia querer me ajudar de qualquer maneira.

- Tudo bem! Eu tenho alguns minutos antes do próximo voo!

- Não vai demorar muito, eu prometo! - A mulher foi até o portão da tal estufa e o abriu, revelando o esperado... Uma casa com paredes e tetos de vidro que facilitavam a entrada da luz solar até as plantas, plantas essas que eram bem variadas. Rosas, girassóis, margaridas e o que mais daria para imaginar de floricultura. Remi foi a primeira pessoa que me veio na mente ao ver todas aquelas flores tão bem cuidadas. - Pode deixar a bicicleta perto do portão!

- Eu tenho uma amiga que iria amar conhecer esse lugar!

- Eu fico grata pelo elogio!

- Você deve gostar bastante do que faz!

- Na verdade eu não ligo tanto para jardinagem, mas ter tantas flores juntas assim... Elas criam uma atmosfera tão linda e calma, e é justamente o que eu amo nisso tudo! Essa atmosfera! - De uma prateleira, a mulher pegava uma pequena maleta branca que deixava explícito de que era para primeiros socorros. - Mesmo eu tomando cuidado com os meus afazeres aqui na estufa, meu marido me aconselhou ter um kit desses, para caso de algum problema assim acontecer! - Da própria bolsa, a moça tirou algo como se fosse um spray, e espirrou o líquido do recipiente nas próprias mãos, aparentemente água. Abriu a maleta em seguida, pegando um pouco de algodão e um pequeno vidro que parecia conter algo como um soro fisiológico, e o passou no algodão. - Isso pode arder um pouco!

- Tudo bem! - Levei meu lábio inferior para dentro da boca o quanto eu podia, e a mulher passou o algodão no meu ferimento, me fazendo soltar alguns gemidos com o contato do algodão no machucado.

- Nunca te vi por aqui! Para onde está indo? - Antes mesmo que eu pudesse responder, a mulher que separava o algodão usado para descarte e pegava parte da gaze para secar o ferimento, já havia emendado a resposta da própria pergunta. - Deixa pra lá! Eu não devia ficar perguntando esse tipo de...

- Estou indo para a Itália, encontrar uma pessoa! - Ao ver que a moça iria passar a gaze em meu braço, voltei a morder meu lábio inferior, apesar do choque do segundo toque ter sido menor do que o primeiro.

- ... Entendo! Deve ser alguém muito importante para você fazer uma viagem tão grande! - Pude ver pelo olhar da mulher que alguma memória parecia estar passando em sua mente.

- Você disse que seu marido que te aconselhou do kit, não é? - E após a minha pergunta, a mulher sorriu, ao mesmo tempo em que passava o resto da gaze pare enfaixar meu braço.

- Ele cuida tanto de mim, desde quando nos conhecemos! Teve uma situação em específico que ele quase perdeu a vida para me proteger, e para nossa sorte, deu tudo certo, e nos casamos! Ele me ajudou na criação dessa estufa e sempre me deu todo o apoio que eu preciso! Minha vida mudou tanto depois dele, e ele sempre me diz o mesmo sobre mim! - E com uma última volta, o curativo estava finalizado. - Prontinho! Agora essa ferida não vai te trazer nenhum outro problema!

- Nem sei como agradecer! Obrigada, mesmo!

-Boa sorte na sua viagem, senhorita...

- Shinka! Erina Shinka! E você?

- Abarai! Yumi Abarai!

- Obrigada de novo, senhora Abarai!

- Por favor, pode me chamar apenas de Yumi!

- Então me chame de Erina ao invés de senhorita Shinka! - Rimos juntas, e eu fui até minha bicicleta, voltando para o meu caminho outra vez. - Até a próxima, Yumi!

- Eu digo o mesmo!

E com um pouco de pressa e adrenalina correndo em meu sangue, pedalei o mais rápido que podia até o aeroporto... O que se tornou inútil ao ver o avião que eu deveria ter pego, já voando nesse imenso céu azul. Desci da bicicleta e a guardei na trava que era idêntica a trava na qual eu a havia tirado, perto da rodoviária. Fui até um dos atendentes e perguntei qual seria o próximo voo para Rússia, e para a minha infelicidade, o atendente respondeu dizendo que o próximo voo ocorreria nas próximas nove horas. Para piorar a minha situação, o pôr-do-sol já estava presente, e eu não queria arriscar esperar as nove horas no aeroporto. Em um primeiro momento, pensei com pesar em minha mente, em voltar e pedir abrigo para Yumi, para que eu pudesse voltar no dia seguinte, mas o atendente surgiu com uma alternativa, ou eu deveria dizer, com uma salvação. Ele falou que existia um porto aqui perto com frotas para vários países, e que o navio que iria sair para a Rússia iria deixar o porto nos próximos quarenta minutos, e também disse que, se eu fosse de bicicleta, eu chegaria em cinco minutos, e que não teria nenhum problema para embarcar. Agradeci pela informação e voltei até as bicicletas, e ao olhar o mapa de uma delas, vi que também tinha outro local para guardá-las no tal porto. Coloquei outra vez os cem ienes, desbloqueando uma das bicicletas, e subi na mesma, indo até o porto no qual havia sido descrito pelo atendente do aeroporto.

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