Eu havia deitado para descansar de toda a emoção e correria que o dia tinha sido, e o resultado tinha sido exatamente o contrário do que eu imaginava. Uma hora e meia depois, eu acordei, com a minha cabeça latejando de dor, e levando em conta toda a corrida feita até aquele momento, eu sequer notei o quão salgado de suor as minhas roupas estavam. Não teve jeito. Tive que me despir e ir para de baixo do chuveiro, e ao olhar os frascos de shampoo e condicionador que estavam no cômodo que me veio na memória, que eu não havia trazido sequer um sabonete. A água caía sobre meu corpo, enquanto eu impedia a mesma de molhar o curativo feito por Yumi, e com o braço esquerdo livre, eu passava a barra de sabonete sobre as partes do meu corpo que não estavam sobre a água. O banho não havia demorado muito, pois o receio de minha mãe surgir do nada para puxar minha orelha e me tirar de baixo do chuveiro sempre aparecia, independente de onde eu estava. No próprio quarto haviam toalhas para o passageiro se enxugar, e outra vez eu refletia sobre o que poderia ter na primeira classe, levando em conta as coisas que tinham na ala normal. Enrolada na toalha, tirei uma calça legging preta, e uma camisa de botão com mangas longas, em um vermelho escuro, além de peças de roupas íntimas e um par amarelo de meias, me fazendo rir ao imaginar minhas amigas, me repreendendo pela escolha das peças usadas. Com a roupa no corpo e as mangas da camisa dobradas, passando dos cotovelos, peguei a camisa verde que havia usado, e com uma dor no coração, a passei sobre minhas botas para limpá-las, me amaldiçoando por não ter trazido sequer outro par de calçados para usar. Calcei as botas e olhei em meu celular, faltando dez minutos para as oito da noite, resolvi sair do quarto, e me apoiei nas barras de proteção ao redor do navio, e fiquei olhando a imensidão azul de água, que cobria tudo até onde a visão humana alcançava. Por um momento, alguém cutucou meu ombro direito, e ao me virar, era um dos funcionários do navio, com um sexto de roupas em suas mãos.
- Moça, você deveria descer e ir aos fundos do navio! Daqui a pouco irão servir as mesas para o jantar!
- Obrigada por me avisar! Já estarei indo!
O marinheiro sorriu, e seguiu seu caminho outra vez. Fiquei mais um tempo nas barras, e depois fui até a parte de trás do navio. Ao chegar, havia um corredor que levava justamente ao salão de jantar, mas também havia uma escada em espiral que levava para a parte de baixo. Minha curiosidade falou mais alto, e eu desci as escadas, não totalmente, pois ao chegar na metade delas, pude ver que a parte de baixo guardava algumas máquinas de lavar e secar roupas, talvez de uso dos marinheiros ou até mesmo podendo ser usadas pelo passageiros.
- (Me surpreende esse navio conseguir velejar por aí com tanta coisa!)
Dei meia-volta e retornei ao piso de cima, indo de vez ao salão e vendo algumas mesas já prontas, apesar de nenhuma comida ter sido servida. Sentei-me em uma das mesas do canto, fazendo um círculo com a ponta do dedo indicador direto sobre o lençol da mesa, enquanto apoiava minha cabeça sobre a minha mão esquerda. De repente, um senhor de cartola e barba cheia chamou a minha atenção.
- Darf ich hier sitzen?
- Oi?! - Eu estava dormindo ou estava ficando maluca? Aquilo com certeza não estava sendo dito em japonês.
- É alemão! O senhor está perguntando se não tem problema, ele se sentar ao seu lado! - E atrás do senhor, um homem loiro de cabelo bagunçado explicava a fala do senhor.
- Ata, Obrigada! Não tem problema algum! Pode ficar a vontade! - Nisso, o homem sorriu e cutucou o senhor.
- Sie sagte, kein Problem! [Ela disse que não tem problema!]
- Vielen Dank! - E então, o senhor se sentou.
- P-Por nada! - Respondi, mesmo sabendo que o homem não havia entendido nada.
- Ele agradeceu!
- E-Eu imaginei! Eu tenho conhecimento de inglês e italiano, mas alemão é uma língua que eu achei que nunca passaria pela minha vida! - Dei um sorriso sem graça, e o homem riu com aquilo.
- Sou tradutor e intérprete! Trabalho viajando com pessoas que visitam outros locais, auxiliando na tradução de línguas em que os clientes não têm domínio! - O homem estendeu a mão para um cumprimento. - Minashigo Nijimura! - Me levantei e aceitei o aperto de mão.
- Me chamo...
- Erina? - Uma voz me chamava ao fundo. Uma voz que eu conhecia. Quando me virei, o rosto daquele que me chamava, me surpreendeu ainda mais do que sua voz. - Mama mia! É você mesmo, Erina!
- Tio Tony! - Tony era o irmão mais novo de meu pai, que seguiu seu sonho de ser cozinheiro. Meu pai contava histórias sobre Tony e seu amor pela culinária. Lembro até hoje da história em que acharam Tony desacordado na cozinha, com várias manchas vermelhas pelo corpo... Que na verdade eram de molho de tomate. - Não sabia que estava trabalhando no Japão!
- Estou fazendo o mesmo que o meu irmão, mas usando a culinária para isso! Mas e você, garota? O que faz aqui? - Tirei o visto do bolso da camisa, ao mesmo tempo em que Tony se aproximava, tendo uma bandeja com vários pratos de espaguete em sua mão, e Tony sorriu ao ver o documento. - Seguindo os passos do pai, não é?
- Literalmente! Estou indo para a Itália, atrás dele!
- La nostra gloriosa patria! Não seria mais fácil pegar um avião direto para a Itália?
- Não tenho tanto dinheiro para uma viagem desse porte, sem falar que a rota que estou usando foi feita justamente pelo meu pai - Tony me encarou por um tempo, até que pousou a mão direita sobre meu ombro esquerdo.
- Tomy teria muito orgulho de ouvir isso! E tenho certeza de que ele terá, quando te ver! - Tony levou a mão do meu ombro até a bandeja e pegou um dos pratos, colocando no local onde eu estava sentada. - Agora preciso voltar ao trabalho! Buon appetito, Erina!
- Obrigada! Foi bom te ver de novo, Tio Tony! - E ele seguiu em frente, enquanto eu me sentava de volta na mesa.

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Ficción GeneralExplorações, registros, conhecimentos, comentários sobre tais coisas, eram coisas que Erina admirava no homem da sua vida, seu pai. Desde sempre, a garotinha do papai mostrava interesse na profissão do homem que cuidava da família, e em resposta, o...