Comíamos normalmente enquanto Ethan tirava outro cochilo sobre a mesa da padaria, até que o furgão passou pela rua em que estávamos. Minashigo e eu nos olhamos, e como se tivéssemos lido os pensamentos um do outro, aceleramos o ritmo da nossa refeição, acordando Ethan no momento em que voltaríamos para sua casa, já que Minashigo fez questão de pagar o café do amigo. Não tanto quanto antes, mas Ethan continuava sonolento, e por isso preferiu o banco de trás outra vez, e dessa vez me sentei na frente, junto de Minashigo, lançando um olhar feio em sua direção para manter sua boca fechada. Quando o carro começou seu movimento, Ethan bocejou, se despreguiçando no banco de trás, como se tirasse o restante do sono que pairava sobre si mesmo.
- Erina, não é? - Meu nome em sua voz me pegou desprevenida. Eu apenas virei para o banco traseiro, concordando com a cabeça. - Minashigo me contou sobre a sua viagem! Tenho certeza de que seu pai deve estar por perto! - Ethan não me conhecia, e mesmo assim fez questão de dizer aquelas palavras de conforto. Sem muito o que dizer, eu apenas disse...
- Obrigada! - E um sorriso de canto de boca surgiu em seu rosto, florescendo ainda mais a juventude que sua aparência mostrava ter.
- Inclusive, eu não disse antes, mas vocês não serão as únicas visitas de hoje! Mais cedo apareceu um velho amigo do meu pai!
- O Senhor Hideki? - Minashigo perguntava, não tirando os olhos da rua.
- Isso! Mas ele também estava com mais alguém que ele disse que havia sido aluno dele no Japão! O homem que estava com ele parecia ser mais jovem que eu, até ele dizer que além de mais velho, ele também já é casado! Hideki não disse muito sobre o homem, mas disse que ele era alguém que ele queria que meu pai conhecesse, e que isso poderia ser bom para os negócios da família!
- Não é difícil de ver o Senhor Hideki alegre, mas essa animação toda poder significar alguma coisa! - O tom casual em que os dois conversavam trazia uma calma da qual eu não queria quebrar, me fazendo ficar em silêncio em boa parte da conversa, até que chegamos na casa de Ethan, onde Minashigo entrou e deixou o carro na garagem da casa. - Chegamos! - Com o carro parado, descemos do veículo, indo até a porta da frente até que a mesma abriu, e uma mulher passou por de trás dela, abraçando Ethan.
- Garoto, onde foi que você se meteu, hein? - A mulher balançava Ethan para frente e para trás, até que finalmente ela reparou em nós. - Minashigo! Quanto tempo!
- Pois é haha! - A mulher parou de abraçar Ethan para abraçar Minashigo, e depois de um tempo, ela parou e olhou em minha direção.
- E você?
- S-Só estou acompanhando o Minashigo! - A mulher passou seu olhar de mim para Minashigo, analisando-o, até que se soltou do garoto.
- Meu nome é Luna! Entrem!
- E meu pai, mãe? - Luna parou no meio do caminho, repreendendo Ethan pelo olhar e não respondendo de imediato. - Tudo bem! A Erina já sabe, e ela também tem problemas pra resolver com o pai dela! - De repente, o olhar severo de Luna amoleceu, deixando um semblante compreensível no rosto.
- Você sabe! Levam alguns minutos para as partes robóticas do seu pai funcionarem como devem! Até lá, ele não vai poder sair do escritório dele! Ainda mais que ele está lá com Hideki e aquele outro homem!
- ... Tudo bem!
E outra vez, Luna caminhou para dentro da casa. A moradia era bem simples. A casa tinha o térreo e um andar. No térreo, aparentemente tinha uma sala de visitas, uma sala com TV, uma cozinha, uma sala de jantar, a garagem e um quartinho que servia de depósito. Não saberia dizer o que teria no andar de cima, mas poderia chutar que era onde estavam os quartos de Ethan e seus pais, o tal escritório de seu pai e também o banheiro. Seguimos Luna até a cozinha, onde ela vestiu um avental em seu corpo.
- E então? Já comeram alguma coisa?
- Sim, mãe! Eu levei eles na padaria que eu costumo ir!
- Certo! - Com uma colher de madeira na mão, a mulher apontava para Minashigo e eu. - Vocês não estão com calor, não? Com essas blusas e esse cachecol!
Talvez por estarmos na cozinha, mas não havíamos percebido a temperatura ter aumentado até aquilo ser dito. Minashigo tirou sua blusa, guardando-a em sua maleta, e eu fiz o mesmo com minha blusa e meu cachecol. De repente, Ethan passou por nós, indo até as escadas que levavam para o primeiro andar, mas parou no começo delas.
- Meu pai vai ficar chateado se eu ficar escondendo você aqui, Minashigo!
- Mas ele já não está com gente lá?
- Essas manutenções são sempre um saco pra ele! Ver alguém conhecido vai ajudar um pouco! - Sem como ter forma de protestar, Minashigo levantou os ombros, indo na direção do amigo.
- Eu vou ficar aqui e... - Antes que eu pudesse terminar, um par de mãos pousou em meus ombros.
- Pode ir mocinha! Não tem nenhum problema!
- T-Tudo bem!
- Erina, não é?
- Sim!
- Muito bem, Erina! Fique a vontade! - Luna soltou de meus ombros, e eu fui até Minashigo e Ethan. Ethan ia na frente, com o rosto normal, enquanto Minashigo claramente achava graça da situação.
- Eu vou ser expulsa se eu bater no Minashigo? - E mesmo sem intenção alguma de arrancar risos, Ethan gargalhou.
- Vá em frente!
Eu obviamente não iria fazer aquilo, mas ver como Ethan dava tanta liberdade para alguém que mal conhecia, ainda mais dentro da casa onde vive, me fez pensar sobre o que tanto Minashigo havia dito de mim para Ethan. Eu me perguntava se aquele era seu jeito de agir normalmente, ou se ele estivesse fazendo algum tipo de exceção por causa da minha atual situação. Ethan sabia por Minashigo da minha situação com meu pai, e vendo como ele age sempre que seu pai é citado, demonstra o afeto que ele tem pelo homem que o criou, e por consequência, me fazendo lembrar de mim mesma quando criança, quando eu idolatrava o homem que pra mim, era invencível.
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General FictionExplorações, registros, conhecimentos, comentários sobre tais coisas, eram coisas que Erina admirava no homem da sua vida, seu pai. Desde sempre, a garotinha do papai mostrava interesse na profissão do homem que cuidava da família, e em resposta, o...