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Não apenas o som avassalador da buzina do navio, mas também a âncora do mesmo pousando na terra submersa em água foram o que causaram o meu despertar na manhã do dia seguinte. Levantei da cama, mas não totalmente, só ao ponto de eu me sentar e ficar encarando meus próprios pés, já calçados, pela noite anterior. Eu pegava meu celular, do lado do travesseiro, e ligava a câmera frontal, olhando para o meu atual estado. Deixei o celular do meu lado e levei minhas mãos até a cabeça, amarrando meu cabelo, ao mesmo tempo em que, com os pés, eu puxava minha mochila para mais perto de mim. Ao terminar, abri a mochila, pegando a pasta e colocando-a na escova, que também já estava em minha mão, e indo até o espelho do banheiro, passei a escova sobre meus dentes. Terminando todo o processo de higiene bucal, peguei um pouco de água e joguei em meu rosto, tentando tirar parte do sono que ainda me impedia de despertar por completo. Voltando ao quarto, peguei a carteira, deixando algumas notas de ienes pelo sabão em pó usado na noite anterior, mesmo ninguém falando que seria cobrado. Apenas achei que seria abusar demais, mesmo pagando pela passagem. Guardei a carteira no bolso direito da calça, e me abaixei para pegar meu celular na cama, e minha mochila no chão, guardando o celular no bolso esquerdo da calça, e colocando a mochila sobre meu ombro direito. Com o cartão em mãos, abri a porta do quarto, passando por ela, e fechando-a logo em seguida. Fiquei parada por um tempo, observando o porto no qual o navio parou, parecia ter algo que não se encaixava.

- O navio parou, mas não teve nenhum aviso de que os passageiros já poderiam desembarcar!

- Os funcionários dão duas horas de prazo, até que todos os passageiros saiam! - E outra vez, Minashigo surgia de repente, dessa vez, de braços cruzados e encostado na parede, ao lado da porta do quarto em que eu estava.

- Você poderia parar com isso!

- Desculpa! Já estava aqui, faz um tempo!

- Como sabia que esse era o meu quarto?

- Eu tinha visto você vindo daqui, quando você estava indo para o salão de jantar! Sem falar que essa era a única porta que indicava ter alguém, desse lado do navio! - Minashigo descruzou os braços e apontou para uma pequena lâmpada apagada do lado da porta. - As outras portas do outro lado do navio estão com essa lâmpada apagada também, indicando que quem quer que estivesse dentro do quarto, já não está mais!

- Então você estava me esperando?

- Você não se esqueceu do que tinha me falado ontem, não é?

- Claro que não! Só achei que não fosse receber a resposta logo pela manhã! - Houve um silêncio entre nós, e Minashigo voltou a cruzar os braços, e suspirou pesadamente. - Avanti!

- Trezentos mil ienes foi o preço do pedido que você fez! - E com a fala, eu caí de joelhos, ainda tentando processar a informação.

- Stai scherzando! [Você está brincando!]

- Tem como decidir em qual língua você vai falar? Apesar de que isso não é um problema para mim, visto che parlo anche italiano! [já que eu também falo italiano!]

- É uma mania que eu tenho, por causa do meu pai! - Me levantei, batendo a sujeira que havia juntado nas pernas da minha calça. - Desculpa, mas não vai dar! Isso é muito dinheiro, e eu tenho medo de precisar dele nessa viagem, porque eu sei que vou precisar dele! - Mashiro sorriu, descruzou os braços outra vez, e se afastou da parede.

- Tudo bem! É direito do cliente decidir se quer algum serviço ou não!

- Obrigada do mesmo jeito!

Bocejei um pouco, ainda sonolenta pelo sono, e passei por Minashigo, descendo as escadas até desembarcar no porto. Diferente do Japão, o porto em que havia chegado na Rússia era coberto por inteiro, sem qualquer visão do lado de fora, e com várias lâmpadas ligadas para auxiliar na visão dos funcionários. Chegando no pátio principal do porto, onde haviam alguns estabelecimentos abertos e pessoas andando de um lado para o outro, olhei para o relógio que se encontrava no centro, ao mesmo tempo em que tirava o celular do bolso, verificando a hora. Como era de se esperar, eu precisaria atualizar o horário do aparelho, devido ao fuso-horário de seis horas entre os dois países. Enquanto meu celular dizia que eram sete e vinte da manhã, o relógio do pátio dizia que eram uma e vinte da madrugada. Não querendo mudar o relógio principal do celular, fiz o aplicativo criar um outro relógio, seguindo o fuso-horário da Rússia, e o próprio aplicativo fez o resto do serviço. Fui até uma placa gigantesca, onde diziam os horários, não só de navios, mas também dos ônibus que paravam e transitavam pelo porto. Com o celular ainda em mãos, procurei o tal dicionário virtual que tinha salvo, ao mesmo tempo em que ouvia passos atrás de mim.

- O próximo ônibus para o centro da cidade sairá em nove minutos, e sairá da parada de número quatro! - Ao me virar, era Minashigo quem estava atrás de mim, dizendo tais informações.

- Obrigada! Vai para o centro também?

- É para onde eu tenho que seguir! - Estava prestes a guardar o celular de volta no bolso, até ver o tal ônibus na quarta parada, já estacionado. Apontei para o mesmo, e Minashigo olhou na direção em que eu apontava, e aparentemente, o motorista já estava de prontidão.

- Então parece que somos dois!

Minashigo deu de ombros, ao mesmo tempo em que eu ia até o ônibus. Ao me afastar, pude ouvir seus passos atrás de mim. Subi no ônibus, tendo poucos passageiros no mesmo, e o motorista me recebia com um sorriso, dizendo algo que eu não entendia. Acenei para o mesmo, e dessa vez, usando o guia fácil do celular, apontei para um dos preços da passagem que estavam em uma folha de papel, colada na porta do ônibus. Apontei para o celular, indicando que pagaria por aplicativo, e o motorista acenou positivamente com a cabeça, deixando claro que entendia o que eu queria dizer. Puxou uma máquina que estava do lado do volante e digitou algo nela, e um código apareceu na mesma, e o motorista colocou a máquina para mais perto de mim. Com o celular, escaneei o código, e o equivalente a cem ienes foi retirado da minha conta para pagar a passagem. Um papel branco com algumas coisas escritas saiu da máquina, e o motorista o entregou para mim. Acenei positivamente com a cabeça, sorrindo em forma de agradecimento, e fui até uma dupla de cadeiras vagas, me sentando em um dos lugares, e colocando a mochila no outro.

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