32

1 0 0
                                    

===

Já havia passado algum tempo desde que o bondinho havia iniciado seu trajeto, e o que Minashigo havia dito estava certo, os locais por qual passávamos eram de uma beleza encantadora que nos impedia de se preocupar com qualquer outra coisa além de perder a oportunidade de ver cada estrutura daquela e não conseguir ver nunca mais, fazendo até mesmo o olhar para as horas ser obsoleto. Apesar da ótima vista, a vontade de anotar outra vez surgiu, e foi o que eu fiz, levando em conta de que, desde quando aquela viagem havia começado, eu havia feito anotações apenas uma vez. Eu fixava a minha mente em algo sobre a viagem e anotava sobre aquilo, tentando registrar o máximo de detalhes possíveis, e quando vi que estava perfeito para mim, salvei e guardei o celular no bolso, olhando outra vez para a vista na janela. Já haviam se passado quase cinco horas desde quando havíamos subido no bonde, o que me fez pegar meu mapa, e ao olhá-lo, reconsiderei pegar um navio para o Reino Unido, uma ideia que eu poderia seguir sem qualquer problema, caso estivesse viajando sozinha, o que não era o caso. Guardei outra vez o celular no bolso e respirei fundo, sabendo que seria mais difícil de falar com Minashigo depois do que aconteceu na rodoviária. Com o cotovelo, o cutuquei, chamando sua atenção.

- O que foi?

- Estava pensando em pegar um navio direto para a França, ao invés de passar pelo Reino Unido! Assim não vamos precisar cruzar o mar duas vezes!

- Por mim, tudo bem! Eu espero que tenha algum navio para a França, mas é uma ótima ideia! - Minashigo me deu um sorriso tímido, como se estivesse envergonhado, e eu coloquei a mão direita em meu rosto, deitando a cabeça no vidro da janela enquanto respirava de forma pesada pela culpa. - O que foi, Erina?

- Desculpa por aquela hora! Eu sei que você só estava tentando não deixar essa viagem mais tensa do que já é, e eu acabei explodindo do nada! Desculpa mesmo! - A resposta não veio de imediato. Talvez Minashigo estivesse pensando no que dizer, ou talvez minha explosão realmente havia me tornado a culpada pelo clima ruim que estava naquele momento.

- Você me lembra de quando eu era criança e adolescente! Sempre levando as coisas com seriedade no momento em que foca em algo, até que alguém sempre me dizia que não é pecado algum por um pouco de cor em algo branco ou preto ou cinza! Levei um tempo até entender que tem como se divertir em algo que também deve ser levado de forma séria! - Quando tirei a mão do rosto e olhei outra vez para Minashigo, o mesmo encarava a aliança em seu dedo, e eu já havia entendido quem era a pessoa que havia dito aquilo para ele.

- Agora eu entendo vocês dois terem decidido se casar! - Eu deitei minha cabeça no encosto do assento, rindo de nervoso. - Eu sou muito chata!

- Não diga isso! O que te faz pensar que você é chata?

- Minha mãe pega no meu pé por eu não saber cozinhar direito! Minhas amigas pegam no meu pé por eu preferir calças e botas ao invés de vestidos e saltos e meu ex terminou comigo dizendo que não teria como seguirmos juntos por causa das coisas que cada um de nós queríamos! Talvez seja por isso que eu esteja indo atrás do meu pai, já que ele é o único que me traz algum tipo de conforto total!

- Mas são seus gostos, não é? É praticamente impossível que todos sigam um padrão, sem falar que sempre vai ter algo em que não somos bons! Isso não é um tipo de problema, não é? É por termos gostos e habilidades diferentes que faz com que cada um de nós sejamos únicos, não é mesmo? - Eu tirei minha cabeça do encosto e virei meu olhar para a janela mais uma vez, vendo o reflexo de Minashigo pelo vidro, me encarando.

- Alguém já falou que você escolhe bem as palavras que usa? - Pelo vidro, eu via Minashigo parar de olhar para mim, virando seu rosto na direção da janela também, com um semblante pensativo no rosto.

- Sim! Mas já faz um bom tempo desde a última vez que ouvi isso!

A leveza em sua voz entregava sobre quem aquela frase se tratava, e eu sorri instintivamente por aquele momento. O silêncio surgiu mais uma vez, e o bonde fez uma parada para alguns carros cruzarem, e no momento em que eu virei meu olhar para uma torre de relógio que havia nos arredores, aquela mesma figura de preto estava no topo da torre, de braços cruzado e aparentando olhar diretamente para nós. De repente, o bonde seguiu seu caminho outra vez, com um baque forte de início, balançando tanto Minashigo quanto eu ao mesmo tempo, e quando eu olhei de volta para a torre, a tal figura já não estava mais lá. O bonde havia chegado no porto onde fez outra parada, na qual havíamos descido dessa vez, e ao irmos comprar as passagens, Minashigo aparentava estar ofegante, já fazia algum tempo.

- Tudo bem, Minashigo?

- Tudo! Eu só não estava esperando aquele baque no bonde! - Minashigo falava enquanto olhava os horários dos navios, alternando para a tela do celular em mãos. - Tem um navio que vai para a França nos próximos vinte minutos!

- Perfeito! Podemos ver as passagens! - Além do celular, eu também retirava o visto de arqueóloga iniciante, já pensando no possível desconto da passagem. Ao chegar para o homem no atendimento, Minashigo voltou com seus serviços de linguagem estrangeira, me pedindo o visto no meio do diálogo para apresentá-lo ao responsável por vender as passagens.

- Quartos separados ou o mesmo quarto?

- O que sair mais barato!

Eu ri com uma certa vergonha, mas Minashigo também riu, tirando o clima embaraçoso que havia ficado, e após alguns bips e cliques, as passagens haviam sido geradas e pagas. Fomos até o navio, e após passar pelo guarda na ponte entre o porto e o navio, fomos indicados para que fôssemos até o quarto de número quatro ainda no térreo, e ao entrarmos, Minashigo se jogou na cama mais próxima da porta, e eu fui até a cama presente na outra extremidade do quarto, me sentando no colchão e colocando a mochila no chão, tirando o peso das minhas costas.

HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora