- Agora sorriam!
E assim foi feito. O flash da câmera surgindo, junto da tentação de fechar os olhos no momento inapropriado, mas ainda assim, a foto com toda a turma havia sido tirada. Enma e Makoto me abraçavam forte, enquanto Remi havia ficado na minha frente, abaixada, fazendo careta, e Skaild tinha ficado junto dos garotos, no momento da foto. Fomos para o vestiário, dividido entre garotos e garotas, para tirarmos as becas. Enma me ajudava com a minha, e Makoto ajudava Remi, e após isso, os nossos papéis se inverteram, e Remi e eu ajudávamos Makoto e Enma com suas becas. Makoto usava um vestido preto, de mangas curtas e franzido, que cobria até a metade do pescoço, e seus pés calçavam saltos pretos e brilhantes. Remi usava uma camisa preta e sem mangas, com a gola em volta do pescoço, mas não o cobrindo-o, como o vestido de Makoto fazia, e vestia uma saia rodada branca, com bolinhas e a borda pintadas de preto, e sapatilhas pretas, também brilhantes. Inspirada em Remi, me vesti com uma camiseta de mangas curtas, listrada em preto e branco, junto de um macacão jeans escuro, com as pernas do macacão dobradas até a metade da canela, e meus tênis pretos de cadarços brancos em meus pés. Enma havia tentado algo mais livre do que normalmente se permitia, usando um vestido vermelho escuro de saia rodada, e também usava saltos na mesma cor do vestido. Saindo do vestiário, pude ver Skaild indo embora sozinho, sem sequer olhar para trás, até parar em baixo de uma árvore e dar meia-volta, ficando ali mesmo. Ao virar, ele percebeu que eu olhava para ele, e eu acenei, e ele não só retribuiu o gesto, como gesticulou para que eu fosse até ele. Ao me aproximar, pude ver uma certa insegurança em seu rosto, parecendo que queria dizer algo, mas não sabia por onde começar.
- Achei que estivesse indo embora, sozinho desse jeito, e sem me falar nada!
- Eu ia te mandar uma mensagem, mas então eu vi você já do lado de fora do vestiário! - Normalmente, Skaild pegaria minhas duas mãos, e as juntariam com as dele, fazendo-o se aproximar na ponta dos pés para me beijar, mas dessa vez ele apenas coçava a cabeça com a mão direita, ao mesmo tempo em que desviava o olhar. Talvez pela expressão de dúvida em meu rosto, mas quando ele olhou para mim, suspirou pesadamente. - Eu quero... Terminar! - E então, silêncio. Coloquei minhas mãos nos bolsos do macacão. Skaild me conhecia, e ele sabia que o meu silêncio era sinal de que eu queria que ele dissesse a sua explicação de sua decisão. - Eu me diverti bastante no tempo em que ficamos juntos, mas os rumos que queremos tomar são... Muito distantes, um do outro, e eu sinto que não vou poder acompanhar o seu ritmo, então eu escolhi ser verdadeiro e dar um ponto final nisso, de frente para você, sem ser por mensagem ou usando terceiros para isso... Tudo bem? - Tirei a mão direita do bolso, e Skaild virou o rosto, tentando escondê-lo. Skaild provavelmente pensou que, o fato de eu retirar minha mão do bolso, seria para desferir um tapa em seu rosto, mas ao olhar em minha direção outra vez, percebeu que eu apenas estava com a mão estendida até ele.
- Sem ressentimentos? - Skaild ainda estava parado, e eu dei um sorriso bobo, dando de ombros ao mesmo tempo.
- Tudo bem mesmo?
- Você criou coragem para falar isso na minha frente e de cara limpa, colocando todas as cartas na mesa! Não tenho nenhum motivo para tentar descontar algo que não existe em você! Na verdade eu tenho orgulho de você ter feito isso! - Ainda parado, Skaild engoliu o seco e se recompôs, arrumando a própria postura e aceitando o aperto de mão.
- Obrigado por não ter ficado com raiva de mim! - Nossas mãos se soltaram, e Skaild deu meia-volta novamente, indo embora dessa vez, acenando para trás. - Boa sorte no seu caminho!
- E pra você também, com a música!
Tirei o celular do bolso esquerdo do macacão, olhando para as horas na tela acesa. Olhei em volta, e nenhum sinal do meu grupo de amigas. Indo para o lado de fora, pude ver o grupo falando algo entre elas, até que Remi me viu e acenou para mim. Acenei de volta e me aproximei, e Enma e Makoto abriram espaço para que eu pudesse fazer parte do grupo.
- Nós estamos indo para um karaokê! Ideia da Remi! - Makoto apresentava Remi, como se estivesse em um programa de televisão, ao mesmo tempo em que Enma falava em minha direção. - Quer vir também?
- Desculpa, mas não vou poder!
- Vai ter um encontro com o Skaild, não é? - Remi dizia, puxando levemente a minha bochecha direita.
- Na verdade eu vou embora! Se eu deixar a dona Misato sozinha por muito tempo, ela provavelmente vai acabar dormindo com alguma coisa perigosa ligada na tomada! - As garotas riram, sabendo que, apesar de perigoso, aquilo era algo real. Puxei Makoto e Enma para um abraço, e Remi que estava mais afastada, também se juntou ao gesto. - Eu amo vocês! Divirtam-se no karaokê! - E então, nos soltamos.
- Mande um abraço pra sua mãe por nós!
- Mando sim! Pode deixar!
E eu respondia a fala de Enma, acenando para trás enquanto me afastava de minhas amigas. No meio do caminho, eu contava algumas notas de iene que ficaram no bolso do meio do macacão, e passei em uma barraquinha de sushi que ainda estava aberta. Entrando em casa, ainda na porta, eu tirava os tênis de meus pés, e ao fechar a porta atrás de mim, a luz da cozinha se acendeu, não involuntariamente, mas porque minha mãe tinha acendido-a. Ao olhar para trás, minha mãe estava quase escondida em um bolo de cobertura branca, no balcão da cozinha.
- Buonanotte, signora! Sabia que eu voltaria mais cedo, não é? - Como um vício, eu costumava soltar algumas frases no idioma de nascença de meu pai, dependendo da situação.
- Você não iria deixar sua mãe sozinha por tanto tempo! E como eu não pude ir na sua formatura, quis te dar algo como pedido de desculpas!
- Você já me dá mais do que o suficiente, mãe! - Fui até a cozinha, abrindo os braços e os fechando ao redor de minha mãe, em um abraço demorado. Ao término do abraço, mostrei a sacola com as bandejas de sushi. - Se eu soubesse que você teria comprado um bolo, acho que eu não teria trazido os sushis!
- Podemos comer os dois, não é mesmo? - Rimos, e minha mãe pegou alguns pratos e talheres. Cortou uma fatia do bolo e colocou em um dos pratos, me entregando-o com alguns dos talheres. - E as suas amigas?
- Foram no karaokê! Elas me convidaram, mas eu falei que iria voltar mais cedo, pra ficar com você! - Peguei um pedaço da fatia de bolo com o garfo e o coloquei na boca. O bolo era de morango.
- Achei que pelo menos o seu namorado viria com você!
- O Skaild terminou comigo! - E eu colocava outro pedaço de bolo na boca.
- O que? E você está tão calma assim?
- Eu já... Só um minuto! - Mastiguei rapidamente o bolo que ainda estava na minha boca, e o engoli. - Eu já ia terminar com ele, mas ele fez isso primeiro! Nós nunca daríamos certos juntos, e eu não tenho motivo pra ficar agitada com isso!
- Eu nunca concordei com esse namoro! Querer viver de música nos dias de hoje? Isso é pedir pra passar fome!
- Eu ainda acredito que ele possa ser bem sucedido com o sonho dele!
- E você? Você vai mesmo fazer o que disse que ia fazer? - Eu levava outro pedaço de bolo até a boca, mas com aquela pergunta, eu devolvi o pedaço e o garfo para o meu prato, e suspirei.
- O pessoal da faculdade me mandou passar amanhã lá para pegar algumas coisas! Vou ficar um tempo aqui, mas eu ainda vou atrás do meu pai na Itália! - Minha mãe se levantou e foi até mim, me abraçando. - Você... Não está mais brava?
- Você sabe que eu ainda continuo contra essa ideia, mas eu sei que não serei capaz de fazer você desistir dela! - Minha mãe se soltou de mim, pousando ambas as mãos em meus ombros. - Você vai ficar no Japão por quanto tempo?
- Acho que umas duas semanas! Também quero passar um tempo com as minhas amigas, antes de partir!
- Então precisa aproveitar bem essas duas semanas, minha filha! - Minha mãe me deu um beijo em minha testa e se afastou. Cortou mais uma fatia do bolo e colocou em outro prato, o dela, e se sentou do lado do balcão, o lado oposto ao meu. - Parabéns, Erina!
- Obrigada, mãe! - E como se fossemos um espelho uma da outra, cortávamos um pedaço da fatia do bolo com o garfo, colocando-o em nossas bocas.

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قصص عامةExplorações, registros, conhecimentos, comentários sobre tais coisas, eram coisas que Erina admirava no homem da sua vida, seu pai. Desde sempre, a garotinha do papai mostrava interesse na profissão do homem que cuidava da família, e em resposta, o...