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(- Você é o tal do Minashigo, não é?

- Sim! E quem é você? Eu nunca te vi por aqui!

- Eu vim de outro orfanato, que se juntou com esse! Sou Rosemary, apesar de algumas pessoas me chamarem de Rose, e outras, de Mary!

- Mari?

- Mary!

- D-Desculpa! Como você sabia meu nome?

- Eu estava caminhando por aqui, e ouvi outras crianças falando do "Minashigo esquisito" que não sai da biblioteca!

- Eu... Não tenho amigos aqui, então eu passo meu tempo livre aqui, na biblioteca, sempre lendo!

- Entendi!)

E a primeira conversa que tive com Mari veio em minha mente, ao pegar uma boneca branca e azul, com roupas de bailarina, que era um dos produtos da loja. A boneca tinha um visual muito parecido com a boneca que Mari tinha na mão, quando nos conhecemos. A diferença era que a de Mari tinha a cor laranja no lugar do azul da boneca da loja. Estando com a boneca em minhas mãos, também me fez lembrar de quando a garota de cabelos amarrados e ruivos puxou a cadeira do lado oposto da mesa onde eu me sentava, se sentando e arrumando os óculos que deslizavam sobre seu rosto. E então, a pergunta que mudaria a minha vida surgiu de sua boca.

(- Posso ser sua amiga?

- O-Oi?

- Na verdade, o orfanato que eu morava teve que ser fechado, e poucas das crianças que viviam lá comigo vieram para cá! - Ainda me lembro do momento em que deixei o livro que lia na mesa, não lembrando qual livro era, e passei a fitar o rosto da garota que estava sentada na minha frente. - E eu não te achei esquisito! Você parece legal! - Ainda com a boneca na mão direita sobre a mesa, apoiou o cotovelo esquerdo também na mesa, e com o antebraço levantado, apoiou a cabeça sobre a mão esquerda. - Eu deixo você me chamar de Mari, se quiser!

- Mas o certo não é Mary?

- Pode ser um apelido nosso! E então eu te chamo de Shigo!

- E-Ei! - Rimos involuntariamente, e a minha resposta veio, de forma descontraída. - Tá bom!)

- Vinte e um anos passam tão rápido!

Coloquei a boneca de volta ao lugar do qual eu a havia pego. Eu já havia pago o fone de Erina, e outras coisas que eu havia resolvido comprar, e foi bem de repente que a boneca tinha chamado a minha atenção. Sorri e acenei para o vendedor, enquanto saía, e do lado de fora, olhei para o relógio do centro do pátio. Faltavam quatro minutos para o ônibus sair. Olhei em volta, e não encontrei Erina em nenhum dos estabelecimentos abertos, o que me fez pensar que Erina já estivesse dentro do ônibus. Fui até o ônibus que sairia da cidade do sul e iria para a cidade do sudoeste, e ao subir, sorri para o motorista, olhando de relance para os bancos, encontrando Erina sentada ao lado da janela, do lado direito do ônibus, encarando algo do lado de fora pelo vidro em sua frente, com o cotovelo esquerdo apoiado na janela, e a mão suspensa no ar, apoiando a cabeça. O veículo tinha alguns assentos virados uns para os outros, fazendo com que alguns passageiros ficassem cara a cara com outras pessoas. Erina estava sozinha, talvez ninguém quisesse se sentar ao seu lado, ou talvez seu jeito espaçoso impedia tal ação. Sentada em um assento, com os pés no assento em sua frente e a mochila no assento ao lado, Erina cobria quase quatro lugares ao mesmo tempo. Me voltei para o motorista, que não dissera nada desde o momento em que eu subi no veículo.

- Bilet v Yugo-Zapadnyy gorod, pozhaluysta! [Uma passagem para a cidade do sudoeste, por favor!]

Como no outro ônibus, o motorista digitou algo na máquina ao lado do volante, e depois alguns bips, o mesmo levou a pequena máquina até mim, e eu apontei a câmera do celular na tela. Após um tempo, o pagamento foi confirmado, e eu entrei ainda mais no ônibus, indo até Erina.

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Carro ia, carro voltava, e algumas vezes, algumas pessoas em alguma coisa em duas rodas, seja uma moto ou uma bicicleta, passavam pela rua que, apesar de ter tráfego, não estava congestionado. Eu olhava tal movimento pela janela do ônibus, o que acabava dando a impressão de que o tempo estava passando de forma mais lenta do que o normal. Estando sem os fones, ouvia alguns dos passageiros agindo em seus próprios mundos, ligando para outras pessoas, ou resmungando algo sozinho, ou lendo, ou simplesmente respirando. Desviei o olhar para a parte da frente do ônibus, e pude ver Minashigo vindo até a minha direção, me acalmando um pouco. Sorri e acenei para ele com a mão direita, e ele fez o mesmo, segurando uma maleta na mão que usava para acenar, maleta na qual eu sequer havia percebido que estava com ele nesse tempo todo. Fiz menção de tirar a mochila, mas Minashigo se apressou, me impedindo.

- Tudo bem! Eu sento aqui! - E se sentou no assento livre, de frente para a minha mochila. Ao mesmo tempo em que se sentava, também me entregava algo. - Seus fones novos!

- Obrigada! De verdade! - Coloquei os fones entre a parede do ônibus e eu, e levantando um pouco a minha mochila, peguei uma sacola, entregando-a para Minashigo. - Espero que goste de pirogis! Eu comi e me surpreendi! Tem recheio de queijo!

- Prefiro com recheio de repolho, mas obrigado mesmo assim!

- Era o que tinha! - De trás da mochila, peguei duas latas com chá, levando uma até Minashigo, que a pegou. - Latas térmicas! Nem sabia que isso era possível!

Minashigo riu, e antes que ele pudesse abrir a lata, o ônibus ligou e estremeceu. O barulho irritante de que o veiculo estava dando ré surgiu, e de pouco em pouco, em um ritmo lento, o ônibus entrava na rua que seguiria para a próxima cidade, se juntando com outros veículos que já circulavam, e ao estar na rua, começou a seguir em frente pelo caminho que levava para a cidade seguinte.

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