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Apesar da ameaça de Leliel e Askin ter acabado e me trazido uma sensação de alívio, essa sensação rapidamente se dissipou ao lembrar que meu pai finalmente havia aparecido depois de dois meses... Aparentemente não tendo saído dessa tumba. De início pelo excesso de acontecimentos aparecendo um atrás do outro, eu não havia conseguido racionar direito, mas com o respiro em meio ao caos que algo lógico veio em minha mente. Me virei para meu pai que também virou para mim, percebendo meu movimento.

- Como você conseguiu ficar vivo nesse lugar durante esses dois meses? Era pra você ter morrido de fome ou de sede!

- O poder de Swinton o protegeu! - A resposta veio de Minashigo. Sua voz tinha um tom mais sério do que de costume, como se outra pessoa falasse por ele. - Ele foi aconselhado a ficar na tumba para proteção, já que Leliel e Askin sabiam quem ele era! Ele poderia morrer se saísse daqui!

- Tá, mas eles poderiam ter ido atrás da minha mãe! De mim, como fizeram! E se... - O abraço de meu pai acabou me interrompendo, não pela surpresa, mas por eu não ter forças para continuar a frase.

- E eu estou tão aliviado de saber que não aconteceu nada com nenhuma de vocês duas! Eu não saberia o que fazer se vocês tivessem sofrido algo por minha causa!

- Quando foi que você virou um animal de circo, pulando pra lá e pra cá e tendo tanta habilidade com armas corpo-a-corpo? - Apesar da ironia, a voz de Ethan deixava transparecer uma curiosidade ainda maior.

- Eu poderia dizer que foi pelas partidas de queimada que Mari me obrigava a participar na escola, e que os meus treinos improvisados de Kendô também teriam influência, mas eu estaria mentindo até pra mim mesmo! Igual foi com Mavlov na sua casa, quando peguei os braços de Swinton, foi como se tivesse passado meses em que ele teria me treinado pra usar seu poder, mas aqui, foi algo instantâneo! Provavelmente foi a mesma coisa com Askin!

- Foi diferente. - E como um corte seco, a voz de Mavlov intervia na explicação. - Askin era apenas uma criança quando foi manipulado por Leliel, e por causa disso ele teve um crescimento precoce de seu corpo. Isso deve tê-lo enfraquecido e te ajudado a derrotá-lo mais facilmente. - Houve um silêncio, e eu apertei ainda mais a camisa de meu pai em nosso abraço.

- Eles esperaram dois meses pra conseguirem entrar nesse local!

- Pra seres que existem desde a criação de tudo, dois meses não são nada para os angélous! - Instintivamente, um sentimento de fúria surgiu em mim, e eu soltei de meu pai, me virando na direção de Minashigo.

- Da pra parar de falar desse jeito? Você já está parecendo essas... Coisas!

- Eu só estou dizendo que...

- E até quando vai ficar com essa espada e escudo nas mãos? Achei que tivesse os usado só pra parar Leliel! - Por um momento, Minashigo desviou o olhar, até que o mesmo me encarou de volta, decidido.

- Eu sinto que não tem ninguém melhor que eu pra guardar esse poder!

- Então é isso! Você vai mesmo virar um outro Askin!

- EU NUNCA SERIA COMO ALGUÉM QUE MATOU A MARI A SANGUE FRIO!!!! - Minashigo apontou a lâmina em minha direção, e eu me afastei no mesmo instante, ao mesmo tempo em que Ethan ficava entre nós.

- JÁ CHEGA!!! Coloque juízo na sua cabeça, Minashigo! O que acha que a Mari pensaria ao ver você agindo desse jeito?

- Olha só quem fala! Você só se preocupa agora com seu pai por ele ter caído duro do nada! - As mãos de Ethan que estavam abertas até então se fecharam, dando a entender que a raiva também estava tomando conta dele. Percebendo o que disse, o semblante sério no rosto de Minashigo se dissipou levando vergonha até seu rosto. - Foi mal! Eu não devia ter dito isso! - Como se quase outro conflito não estivesse preste a acontecer, Mavlov caminhava até nós, se abaixando até meu pai.

- Apesar do poder de Swinton ter te protegido, ele não te livrou da paranoia de ser morto a qualquer momento por Leliel. - Eu olhava outra vez para meu pai, e só então percebi a escuridão ao redor de seus olhos. Nesses dois meses escondidos, parecia que meu pai havia dormido umas duas horas por noite. Talvez menos. - Venham todos, por favor.

Mavlov estendeu a mão para meu pai, que a pegou sem muita demora, e foi então que entendemos o que Mavlov queria fazer. Meu pai estendeu a mão em minha direção, e eu a segurei, estendendo a outra mão para Ethan que a pegou. Com relutância, Ethan ofereceu a mão para Minashigo, que transformou as armas em luvas, e só então pegou nas mãos de Ethan e Mavlov. Com o círculo formado, Mavlov nos levou para a casa dos Akitake, no andar de cima de onde havíamos partido anteriormente. Perdendo o equilíbrio na chegada, meu pai acabou caindo, e Ethan e Minashigo o seguraram, percebendo que o senhor não tinha forças para ficar de pé.

- Não temos quarto de visitas! Vamos ter que colocá-lo em um dos sofás da sala de visitas! - Diante da situação, apenas concordamos, e Ethan junto de Minashigo levaram meu pai para o térreo da casa, indo até a sala de visitas e deitando meu pai no maior sofá do cômodo. - Desculpa não ter um lugar melhor pra por ele!

- Tudo bem! Já é melhor do que aquela tumba de pedra!

- Eu agradeço a ajuda de vocês em deter Leliel e Askin de uma vez por todas... - Apesar de não pedir, nos viramos todos para Mavlov, que ia em direção de Minashigo. - Mas ainda preciso que mais uma coisa seja feita. E dessa vez apenas você poderá me ajudar, Minashigo. - Mavlov colocou a mão esquerda sobre o ombro de Minashigo, e pela primeira vez desde então, sorriu. - Até breve! - E então, Mavlov e Minashigo sumiram, ao mesmo tempo em que Ethan e eu ouvíamos pés pesados descendo as escadas. Ao nos virarmos, era Sajin que vinha até nós.

- Vocês foram rápidos! - Ninguém respondeu, e Sajin olhou para meu pai no sofá, que acordou de supetão, sorrindo.

- Olá, Sajin! - E com o canto da boca, Sajin soltou um leve riso.

- Oi, Tomy! Infelizmente por hoje, o restaurante está fechado!

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