5

0 0 0
                                    

Chegando ao porto, o clima parecia estar fechado, mas então percebi que as nuvens negras no céu eram, na verdade, nuvens de fumaça produzidas por alguns dos navios que já desembarcavam, e naquele momento eu torcia para o atendente do aeroporto não ter se enganado sobre o horário do navio que eu deveria pegar. Achei as travas usadas para guardar as bicicletas alugadas, e guardei a bicicleta que eu usava em uma das travas vazias. No porto havia um espaço de tamanho médio, com janelas e uma grande porta de metal, e pelas roupas da mulher que lá estava serem parecidas com a dos outros funcionários no porto, deduzi que poderia ser onde se compravam as passagens. Me aproximei do local, e ao chegar mais perto, a moça percebeu, se preparando para me atender.

- Olá! Boa tarde! Em que posso ajudar?

- O navio para a Rússia ainda está disponível?

- Deixe-me ver! - A mulher buscava algo no computador em sua frente, e a única coisa que quebrava o silêncio entre nós eram os sons das teclas sendo pressionadas. - Está sim! Ele sairá nos próximos trinta e três minutos! Gostaria de embarcar nele?

- Sim, por favor!

- Temos três quartos na ala normal e sete quartos na primeira classe! Qual gostaria de comprar?

- Vou ficar com um normal!

- São quarenta mil ienes!

- (Santa divinità! Eu esperava que fosse caro, mas não imaginava que seria desse jeito!) Eu não tenho todo esse dinheiro comigo! Vocês aceitam pagamento via aplicativo?

- Aceitamos! Inclusive, todo pagamento por aplicativo recebe um desconto de dez por cento, o que fará com que você pague... - E outra vez, o som das teclas surgia entre nós. - Trinta e seis mil ienes!

- Moça! Eu não gosto de abusar de possíveis benefícios... - Eu pegava, em um dos bolsos da calça, minha carteira, e tirava dela o visto de arqueóloga iniciante. - Mas eu ganhei isso ao terminar a faculdade! - Mostrei o visto para a atendente, que o pegou de minha mão. - Queria saber se ele poderia me dar algum desconto! O pessoal da faculdade disse para levar ele comigo, sempre que eu fosse sair do país! - Outra vez, o som de teclas retornava.

- Com esse visto, sua passagem terá um desconto de vinte e cinco por cento, mas o desconto dado pela compra via aplicativo terá de ser removido! A compra final será de trinta mil ienes!

- Sem problemas! Irei pagar! - Eu mantive a calma, mas internamente eu pulava de alegria pela enorme quantia que havia economizado.

- Aponte a câmera do seu celular para esse código na tela do computador! Lembre-se de estar no aplicativo que irá usar para concluir o pagamento!

- Só um minuto! - Peguei o celular, abrindo o aplicativo e apontando-o na direção da tela do computador, e após alguns segundos, um som surgiu de meu celular e do computador, ao mesmo tempo em que uma máquina de xerox cuspia uma folha, tal folha que a atendente pegou e me entregou, devolvendo meu visto junto da folha. - Obrigada!

- Eu que agradeço! Faça uma boa viagem!

- Obrigada de novo! - Me afastei da atendente, acenando para ela, e ela acenou de volta. Indo até o porto, olhei as horas no celular, faltava vinte e oito para o barco sair. Chegando na entrada, um homem me barrou, e rapidamente eu entreguei a passagem para ele, que o rasgou ao meio e carimbou os dois lados da folha dividida, me entregando uma das metades, junto de um cartão.

- Quarto trinta e sete, terceiro andar! - E o homem abriu espaço para que eu pudesse passar.

- Obrigada!

Passei pela ponte que ligava o porto ao navio. Ao embarcar, a primeira coisa que estava na minha frente eram justamente as escadas que levavam para os andares superiores. Aparentemente, os quartos eram divididos entre térreo, primeiro, segundo e terceiro andar, havendo um quarto andar com uma escada própria, aparentemente sendo a primeira classe. Haviam outros dois cômodos separados dos quartos, o mais a frente do navio aparentava ser onde o capitão e os marinheiros comandavam o barco, e o outro cômodo aparentava ser uma cozinha junto de um salão de jantar, deixando a entender que os banheiros eram, ou entre os andares, ou nos quartos. Perto da escada, uma das portas tinham os números zero e um pendurados, deixando claro que aquele era um dos quartos alugados. Subi as escadas, e chegando no primeiro andar, a primeira porta tinha dois números um pendurada, me fazendo perceber que eu teria que subir aquele e o próximo andar para chegar no meu quarto. Chegando no terceiro andar, vi que haviam apenas cinco portas, a primeira numerada com trinta e um, e a última, trinta e cinco. Olhando mais para frente, pude ver que o corredor fazia uma curva, e na direção oposta, a mesma curva existia, demonstrando que os outros quartos estavam do outro lado do navio. Fui pelo corredor, dando a volta nos quartos, até achar a porta de trinta e sete, que tinha uma tranca com entrada para algo fino, onde passei o cartão que foi me dado pelo homem no porto, imaginando que o cartão seria para isso, e com "bip", a porta abriu. Passei pela porta, e ao fechá-la, ela se trancou automaticamente, deixando claro que, para abri-la outra vez, seria necessário usar o cartão novamente. Tirei enfim a mochila de minhas costas, colocando-a do lado da cama que havia no quarto, um quarto bem simples por sinal, mas completo. Uma cama, uma TV, utensílios de cozinha, uma cafeteira elétrica e uma torradeira, e é claro, um banheiro. Apesar de ter pego um quarto na ala normal, e ele ser bem completo e organizado, imaginava como poderia ser um quarto na primeira classe, mas pelo preço pago nesse quarto, a minha preferência foi a de ficar apenas na imaginação. Deitei na cama e peguei outra vez o celular, digitei que não havia conseguido pegar o avião mas consegui embarcar em um navio com o mesmo destino, e enviei para minha mãe, copiando a mensagem e mandando também para o grupo que estava com minhas amigas. Mesmo com as respostas, deixei o celular de lado. Todo o caminho até chegar naquele navio, apesar de rápido, havia me deixado exausta, e naquele momento, o que eu mais queria era descansar meus olhos.

HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora