Ethan se ajoelhou ao meu lado, estendendo a mão direita em minha direção, e eu a segurei, e ele me levantou em resposta. Entre as visões compartilhadas, pudemos ver a real aparência de Carter... Ou Mavlov. Aquela aparência envelhecida diante de nós era um mero disfarce para ocultar a figura alaranjada como o sol que estava na nossa presença. Senti uma leve tontura, me fazendo soltar da mão de Ethan para por a mão na cabeça, e soltá-la logo depois de alguns instantes, deixando minha mão cair ao lado do meu corpo.
- Tudo bem? - Era uma pergunta que eu esperava vir de Minashigo, mas que viera de Ethan. Talvez tentando se colocar no meu lugar, mas era visível a preocupação na sua fala e olhar.
- Tudo! É só... Foi muita informação pra tão pouco tempo! - Olhei de Ethan para Mavlov, tentando retornar a seriedade do momento. - Vai precisar de todos nós?
- Eu queria que Sajin fosse junto, mas ele se recusa a recuperar seu corpo real.
- As vezes é preciso muita coragem pra se manter fiel ao que se acredita! - Sajin virou seu olhar para nós três. - Tenho certeza de que eles te ajudarão com essa situação! Afinal... Um deles é meu filho, e apesar de não ser, o outro é alguém que eu pude ver crescer também! E essa garota veio de muito longe por causa de alguém especial! Nem sempre os aliados mais importantes são os mais poderosos!
- Certo. - Mavlov se moveu alguns passos para frente, fechando ainda mais o grupo, deixando Sajin de fora. - Podemos ir? - E outra vez, o ser estendeu as mãos, e formamos um círculo mais uma vez. Quando todos nós estávamos com as mãos juntas, fomos para um local completamente diferente de onde estávamos, tendo um grande campo de grama e árvores atrás de nós, e uma estrada bem longe. - Chegamos.
- Não sinto nada de diferente aqui! - Como se lesse a mente de Ethan e a minha, Minashigo falava por nós três.
- É algum tipo de repelente mágico. Um poder que repele outro tipo de poder. Eu sou poder puro, ao contrário de vocês, e é por isso que eu não consigo passar sozinho.
- Nos mostre até onde consegue ir! - Mavlov concordou com a cabeça ao ouvir minha sugestão, e andou com a palma da mão direita na sua frente, evitando de colidir com algo que não conseguisse ver, até que parou até certo ponto. - Esse é o seu limite? - A figura disfarçada de homem concordou, e uma ideia surgiu em minha mente. - Deixa eu tentar uma coisa!
Fui até Mavlov e pousei minha mão direita sobre a sua, como uma segunda pele, e o forcei a atravessar a barreira invisível daquele jeito. O que parecia ser uma ideia infantil acabou dando resultado. A parte do corpo de Mavlov que estava encostada em mim conseguiu passar pela barreira sem dificuldade alguma, mas ainda tinha sua outra metade. Vendo que a ideia estava dando resultado, Ethan veio até nós, colando seu corpo no lado oposto de Mavlov, fazendo o criador de tudo conseguir passar... Até certa parte. Forçávamos Mavlov o máximo que podíamos, mas estava difícil de colocá-lo por inteiro dentro da barreira invisível, até que Minashigo começou a nos empurrar com todas as suas forças. Com exceção de Mavlov, todos nós gritávamos, como se isso pudesse aumentar a nossa força em conjunto, até que fomos ao chão de repente. Minashigo e eu nos levantamos primeiro, e Ethan logo em seguida. Mavlov foi o último, porém a surpresa em seu rosto escancarava o sucesso de nossa ideia.
- Funcionou. Eu entrei.
- Mas ainda parece um lugar vazio! - Minashigo olhava ao redor, como se procurasse algo.
- No pouco tempo em que estive dentro do local, sua aparência parecia ser subterrânea. Se esse for o caso, deve ter alguma entrada escondida nesse lugar.
- (Vamos lá, Erina! É agora que você precisa usar o que aprendeu!) - Me virei para Mavlov. - Consegue escanear essa área de dentro da barreira? - Mavlov concordou. - Faça uma varredura no local! Procure qualquer tipo de rachadura escondida, mesmo que micro! Deve ter um padrão de linhas que possa estar escondendo algum tipo de porta! - Mavlov assentiu e levitou alguns centímetros do chão, fechando os olhos e limpando toda a terra solta em formato de poeira do local, revelando duas portas coladas uma na outra, quase imperceptíveis, aparentando ter três metros de altura e um metro de largura, e em cada uma delas, havia uma frase talhada na pedra que as formava, se interligando. - Não achou mais nada além da porta?
- Nada.
- Eu duvido que essas frases estejam aí de bobeira!
- Eu pensei a mesma coisa! - Acrescentei por cima da fala de Minashigo, e nós quatro já havíamos entendido que aquelas frases eram um tipo de charada.
- "As vezes pendendo para um lado, as vezes, para outro! De um lado, toda a bondade e paciência que podem abrir caminhos luminosos e certeiros, desde que se espere o tempo necessário! Do outro lado, a maldade e ira que rompem barreiras para uma estrada duvidosa e de dor, levando rapidamente até a incerteza! Como tudo em excesso, ambos os lados oferecem o seu melhor e pior, mas se juntos da forma correta, o resultado exato poderá ser alcançado! O que sou?" - A frase tomava forma enquanto era dita por Ethan, fazendo todos nós pensarmos.
- Seria uma gangorra?
- Qual é, Mina...
- Não, Ethan! Minashigo não está completamente errado! A charada fala de algo que pode estar tanto de um lado quanto do outro... Ou nos dois ao mesmo tempo! A charada fala tanto do bem quanto do mau! É como se julgasse alguma coisa!
- Dois lados de algo que julga? Tipo a balança da justiça?
- Isso! Mas não a balança em si, mas o que ela representa!
- Então a resposta seria justiça? - Ficamos em silêncio com a fala de Minashigo, esperando algo acontecer... E nada. Como um estalo, a solução veio em minha mente.
- Não a justiça, mas o que ela trás quando ela acontece! - Me afastei da porta no chão, e todos fizeram o mesmo. - A resposta é equilíbrio! - E como nos filmes de tumbas mágicas, aquelas enormes portas se abriam, derrubando ainda mais poeira na passagem aberta.

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Ficção GeralExplorações, registros, conhecimentos, comentários sobre tais coisas, eram coisas que Erina admirava no homem da sua vida, seu pai. Desde sempre, a garotinha do papai mostrava interesse na profissão do homem que cuidava da família, e em resposta, o...