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Após o jantar, eu voltava para o meu quarto, até que um dos funcionários do navio passou por mim, e eu aproveitei para perguntar sobre as máquinas que ficavam em baixo do salão de jantar. O marinheiro disse que elas normalmente são usadas pelos funcionários que trabalham no navio, mas que os clientes também poderiam usá-las, caso tivessem poucas peças de roupas para lavar. Agradeci pela informação e fui ao meu quarto, pegando as peças que eu pretendia lavar, e meu par de fones, caso fosse preciso para passar o tempo, e voltei até a entrada do salão de jantar, onde havia a escada que levava para as máquinas. Desci até o cômodo, vazio, e abri uma das máquinas, colocando as peças dentro. Havia um pequeno compartimento para sabão em pó na máquina, já abastecido, provavelmente para o próximo uso que seria feito da máquina. Liguei-a, e esperei... Esperei... Esperei... E foi então que eu me abençoei por ter tido a brilhante ideia de trazer os fones. Conectei-os ao celular, e dei play na última música que havia tocado, me deitando em um banco que havia perto das máquinas. Fiquei encarando aquele teto, ainda tentando digerir a informação de que eu estava apenas no começo da minha viagem até meu pai, e ainda teria que passar por vários lugares até chegar na Itália. Em meio aos pensamentos, pela minha visão periférica, percebi alguém nas escadas, olhando em minha direção. Com o susto e a adrenalina surgindo, me levantei rapidamente, e então pude ver melhor de que era o homem loiro da sala de jantar.

- Você me assustou!

- Meu atual chefe foi dormir, e eu resolvi aproveitar para andar pelo navio, e foi então que eu te vi vindo para cá!

- Minashigo Nijimura, não é?

- Apenas Minashigo já está bom!

- Desculpa ter te ignorado no salão de jantar! Fazia tanto tempo que eu não via meu tio Tony, que eu simplesmente esqueci de tudo ao meu redor!

- Não tem problema! Não posso dizer que eu te entendo, mas imagino o quão bom deve ter sido! - Aquelas palavras martelaram na minha cabeça por alguns instantes. Pareciam que escondiam algo maior do que o realmente tinha sido dito. - Do Japão para a Itália... Vai ser uma viagem longa!

- Na verdade, o maior desafio era cruzar a distância entre o Japão e a Rússia! O restante eu poderei fazer de ônibus, ou com os meios de locomoção dos locais! - A máquina apitou, e eu tirei a roupa de dentro, passando para a secadora ao lado.

- Pelo visto, você se programou bem!

- Meu pai que planejou todo esse trajeto! Ele adorava fazer esses tipos de viagens, pois qualquer coisa que lhe chamasse a atenção, já seria motivo para uma investigação!

- Seu pai é detetive?

- Arqueólogo... - Sem o visto comigo dessa vez, mostrei uma versão do documentário salvo virtualmente em meu celular. - Como eu!

- Erina B. Shinka! Do que é esse "B" abreviado?

- Bucciarati! É o sobrenome do meu pai!

- Então você é metade japonesa e metade italiana? - Minashigo se escorou na guarda da escada. Parecia querer prestar mais atenção do que já estava.

- Pai italiano e mãe japonesa! É difícil de acreditar nesse tipo de coisa depois que... Você deve saber!

- E o que seu pai está fazendo na Itália agora? Ele falou alguma coisa? - Não respondi de imediato. Acabei virando o rosto para a secadora em minha frente. Aquela era uma pergunta que eu também queria ter a resposta. - Acho que perguntei o que não devia! Des...

- Já fazem dois meses que ele não entra em contato com a minha mãe, ou comigo! Estou indo para lá para investigar o que aconteceu! - Ao me virar, a expressão de curiosidade sumiu dos olhos de Minashigo, dando lugar para algo que parecia algum tipo de admiração por tal situação.

- Sabe, não digo que queria estar na sua pele, mas eu a invejo por já ter rumo para tomar, depois que descer desse navio! Ao chegar na Rússia eu provavelmente vou ter que ir para algum prédio da companhia em que eu trabalho, para esperar o próximo serviço! - Minashigo se virou, ainda ficando apoiado nas barras da escada, e aquelas palavras haviam levado uma ideia para minha cabeça. Uma ideia que talvez não seria fácil de executar, mas que poderia me ajudar em minha jornada.

- Quanto cobram pelos seus serviços de tradutor?

- Depende do trajeto para qual me contratam! Mas por que a per... - A velocidade de raciocínio de Minashigo foi mais rápido que a pergunta que saía de sua boca, e ele se virou, com uma expressão de surpresa e dúvida no rosto. - Não está pensando em...

- Já pensei!

- Achei que já tivesse planejado tudo para a sua viagem!

- E planejei! Inclusive, até tenho um dicionário virtual e um guia para perguntas e respostas rápidas, salvos no meu celular! Mas tendo um tradutor comigo, provavelmente minha viagem iria acelerar de ritmo!

- ... Por quais países você pretende passar, depois da Rússia, até chegar na Itália?

- Finlândia, Suécia, Noruega, Reino Unido e França!

- Que trajeto gigantesco! É insano, só de pensar!

- Deve ser algo de família! - Dei de ombros, ao mesmo tempo em que respondia.

- Não será nada barato!

- Talvez isso me dê algum desconto, como deram com a passagem do navio! - Dizia, mostrando outra vez o visto no celular. Minashigo parecia querer falar algo mais, mas apenas suspirou pesadamente, e subiu as escadas.

- Eu vou falar com a companhia, e te respondo amanhã, quando desembarcamos!

- Tudo bem! Boa noite!

- Pra você também!

E Minashigo sumiu ao subir os últimos degrais que faltavam na escada, e a secadora deu o sinal de que as roupas já poderiam ser retiradas da máquina. Peguei as peças, uma por uma, e fui dobrando-as naquele cômodo, coloquei-as sobre o braço direito e fechei a máquina com o braço esquerdo. Subi as escadas, com as roupas já em mãos, e segui o caminho de volta para o meu quarto, olhando para os lados para evitar de alguém acabar aparecendo de surpresa outra vez. Abri a porta do quarto e passei por ela, fechando-a logo em seguida. Coloquei as peças limpas na mochila e verifiquei os sanduíches de atum, que por algum milagre, não tinham vazado em nenhum momento. Deitei-me na cama e peguei o celular uma última vez, olhando as mensagens de minha mãe e de minhas amigas. Respondi com um "obrigado" pelas mensagens de apoio que havia recebido, e bloqueei o celular em minha mão. Sem mesmo tirar as botas dos pés, fechei os olhos, e não levou muito tempo até que o sono chegasse.

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