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(- Ethan? Mari? Cadê vocês? - Era fim da tarde, ou começo da noite sendo melhor dizer, e eu já havia procurado os dois em todos os cômodos da casa, sobrando apenas o quarto dos pais de Ethan no qual eu me recusava a entrar sem permissão, permissão essa que me foi dada ao passar pela cozinha da casa e encontrar a mãe de Ethan tomando uma xícara de chá. A senhora havia sugerido o quarto e dito que eu poderia ir lá ver, então eu segui a sugestão que me foi dada. Chegando na porta do tal cômodo, eu a abri, e foi então que eu achei os dois guardando algo às pressas em uma caixa, se virando de imediato para mim, com nervosismo no rosto. - Fiquei chamando vocês pela casa toda! O que vocês estão fazendo aqui? - Os dois se entreolharam, gaguejando em seguida, e com a curiosidade tomando conta, eu me estiquei para ver melhor. - No que vocês estão mexendo? - E com a minha pergunta, Mari se levantou com frustração no rosto, olhando para Ethan.

- Eu te disse que devíamos ter feito isso na parte da manhã ou da tarde!

- É, mas agora não tem como esconder! - Antes mesmo que eu pudesse perguntar do que se tratava, Ethan levantou com uma caixa vermelha nas mãos, entregando a mesma para mim. - Era pra Mary te entregar isso amanhã, já que amanhã será seu aniversário e vocês voltam essa noite para o Japão! De qualquer forma, parabéns para os seus dezessete anos, Minashigo! - Eu não sabia o que responder naquela hora, mesmo procurando as melhores palavras para aquele momento, e quando eu finalmente havia as achado, não pude responder de imediato ao ouvirmos a mãe de Ethan nos chamando.

- O jantar está pronto! Venham ou vão se atrasar para irem embora!

- E o meu pai, mãe?

- Ele está cuidando de alguns carregamentos que estamos recebendo no restaurante! Não vai demorar muito pra ele vir também! Poderia vir me ajudar a arrumar a mesa, Mary?

- Posso sim! - Então Mari passou por mim, beijando minha bochecha no processo e descendo as escadas atrás de nós, e eu me virei para observá-la enquanto a mesma descia os degraus.

- Não vai abrir o presente? - Ethan perguntava, ao mesmo tempo em que se aproximava de mim.

- Você disse que isso era pra ser entregue a mim amanhã, então vou deixar pra abrir amanhã!

- Haha tudo bem! - Eu estava prestes a ir até as escadas, até que Ethan me parou no lugar, pousando a mão em meu ombro. - Eu só espero que não tenha pensado em nada de errado quando entrou aqui!

- O que? Não, é que... Sei lá! Vocês dois tem tanta energia que fica difícil de...

- É visível o quanto ela gosta de você, Minashigo! - Com isso, eu apenas suspirei, ainda olhando para os degraus da escada.

- Eu sei!)

Eu olhava na direção de um grupo de amigos presentes no metrô, que provavelmente voltavam de alguma festa ou qualquer outro tipo de evento, já que a animação presente no grupo era facilmente notável por qualquer um que visse, e olhando aquilo, me veio na memória uma das idas e vindas na casa de Ethan na minha adolescência, período esse em que o orfanato já permitia viagens com supervisão de adultos, e em várias dessas viagens eu tinha Mari como minha companhia, o que fortalecia ainda mais o sentimento que tínhamos um pelo outro.

- Isso já faz dez anos!

- Disse alguma coisa? - Erina ao meu lado me perguntava, levantando o fone da orelha direita.

- Não, não! Não é nada! Eu te atrapalhei em alguma coisa?

- Não também! Só estou falando com uma amiga, mas é por mensagem! Eu ia mandar mensagem para a minha mãe, mas ela deve estar ocupada com os afazeres de casa! - Erina bloqueou e guardou o celular no bolso, pegando e abrindo a mochila e tirando um dos Golubtsis, me entregando, mas recusei educadamente, e ela então o mordeu, tirando um pedaço e mastigando o mesmo, o engolindo em seguida. - Minashigo! Eu vou entender se não quiser falar sobre isso, mas você conhece mais alguém além desse seu amigo? Quero dizer, você é intérprete! Deve ter feito amizade com alguém em algum desses trabalhos!

- Na verdade não! Eu continuo tendo contato com os clientes, já que eles podem pedir pelos meus serviços futuramente, mas não tenho nenhum tipo de contato maior que isso!

- Então é só o seu amigo italiano mesmo? - E outra vez, Erina mordia o Golubtsi. Com a pergunta, Mari veio outra vez em minha memória, e involuntariamente, um sorriso surgiu em meu rosto.

- Erina! Tem alguma pessoa que você esteja de olho?

- Bom, eu saí de um namoro falho, já faz um pouco mais de duas semanas! Na verdade eu nunca me interessei por alguém, então não posso dizer que sei como é isso! Por quê?

- No orfanato onde morei, uma garota recém transferida de outro orfanato começou a ficar colada em mim e me seguia pra todo lugar que eu ia! Ao mesmo tempo que eu ficava na biblioteca do orfanato, ela também ficava lá, as vezes fazendo alguma coisa sozinha ou me pedindo ajuda com algo, mas sempre comigo! No fim, acabamos gostando um do outro e, bom, recentemente resolvemos nos casar!

- Olha só! Parabéns por isso!

- É... Só que teve um porém! Quase cinco meses atrás ela descobriu onde moravam os pais biológicos dela, e ela resolveu ir atrás pra tirar dúvidas pessoais, e desde então nunca mais deu notícia!

- Então era isso que fez você ficar tão focado no trabalho!

- Depois dos dois primeiros meses eu pensei em ir atrás, mas eu havia me atolado com tanto trabalho que tive que deixar isso de lado, e agora, também está acontecendo isso com o pai do meu amigo! - Olhei para o teto do metrô, e respirei fundo. - Erina! Lembra quando eu disse que eu tinha um motivo pra te seguir na sua viagem?

- Lembro!

- É que você... Me lembra ela! Assim como você, ela também é uma garota forte e de personalidade! - E antes mesmo que Erina pudesse responder qualquer coisa, o trem parou onde devíamos desembarcar.

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