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Sem fazer qualquer tipo de cerimônia, Ethan se levantou e foi até a cozinha, deixando Michael e eu ali na escada. Percebendo alguém que não conhecia presente na casa onde mora, Michael começou a se esfregar nas minhas pernas, e eu passei a mão em seu pelo, fazendo seu ronronar voltar outra vez e mostrando que eu tinha recebido sua confiança, até que o mesmo também se dirigiu para a cozinha. Meu tornozelo já não doía tanto, e na verdade a dor que eu senti ao me levantar da escada foi um desconforto tão pequeno que parecia que o mesmo fazia de tudo para chamar a atenção. Apesar do rápido descaso, meus ombros pareciam quase cair de meus braços, e só então que eu me lembrei de que ainda estava com a mochila nas costas. Eu coloquei a mão no rosto, envergonhada por mim mesma por ter me tocado apenas agora, me lembrando da minha queda no canal.

- (Droga! Só espero que a torta de maçã não tenha desmontada por inteira dentro da mochila!) - Eu tirei a mochila das costas, abrindo seu zíper e verificando seu conteúdo, que por sorte ou intervenção divina, estava tudo no lugar. Olhei para um relógio pendurado na porta que marcava quase meio-dia, me assustando com como o tempo passou tão rápido desde quando pisamos na Itália, e ficando ainda mais aflita ao lembrar do meu celular. Quando o peguei, haviam várias chamadas perdidas de minhas amigas, e muito mais vindas de minha mãe. Nisso, eu suspirei. - (Eu vou ter que dar sinal de vida, mais cedo ou mais tarde!) - E ao mesmo tempo em que eu me dirigia até a sala de jantar da casa dos Akitake, eu tentava iniciar uma chamada de áudio com a dona Misato, que atendeu quase que instantaneamente, quase estourando meus tímpanos e me forçando a afastar o telefone da orelha.

- AGORA QUE VOCÊ APARECE?!?! O QUE ACONTECEU COM O "Vou manter contato", SENHORITA ERINA?!?!

- Eu sei, eu sei! Perdão, de verdade! Mas teve um bom motivo!

- E qual seria?

- Encontrei o papai! - Houve um silêncio momentâneo que até mesmo me fez olhar para a tela do celular para garantir que a chamada não tivesse sido encerrada. - Mãe?

- De verdade?

- Mãe, eu não iria mentir sobre um assunto tão... - E outra vez, tive que afastar o celular do ouvido.

- ME DEIXA FALAR COM ELE!! AGORA!! ANDA, ERINA!!

- Não vai dar, mãe! Ele tá dormindo agora! Ele ficou preso em uma tumba bem escondida aqui na Itália! É um milagre que tenha conseguido ficar vivo! - Resolvi não falar de Mavlov, Leliel e todos esses assuntos sobre divindades. Se já é difícil para nós que presenciamos essas coisas acreditar em tais fatos, para alguém que sequer imagina tudo isso seria ainda mais difícil.

- Tudo bem, tudo bem! E já sabem quando vão voltar? - O silêncio acabou retornando, mas dessa vez, por minha parte. - Erina?

- Ainda não sei! Ele aparentemente não tem nenhum problema visível, mas quando ele acordar, vamos fazer alguns exames para ter certeza!

- Certo! Inclusive, suas amigas vieram aqui, dizendo que ligaram pra você e que também não conseguiram contato! Se elas voltarem, o que eu falo pra elas?

- Diz que eu estou bem... - Pensei nas melhores palavras para dizer naquela situação, não querendo alarmar ninguém com algo que poderia acabar não dando em nada. - E diz também para não me ligarem por enquanto! Até que meu pai esteja bem para voltar, vou dar toda atenção a ele!

- Tudo bem! Se cuidem!

- Você também, dona Misato! - E então, a ligação é encerrada do outro lado. Ainda na sala de jantar, eu me virei na direção da cozinha, a tempo de ver Ethan olhando pra mim com o mesmo brilho no olhar que Minashigo tinha ao olhar a fotografia de Mari. Rapidamente, Ethan voltou sua atenção para a frigideira que tinha em mãos, colocando o conteúdo da mesma em um prato, e eu me virei na direção da sala de visitas. - (Eu devo estar imaginando coisas! Ninguém se apaixona logo de cara!) - Fui até a sala, pegando minha mochila que eu havia deixado na escada e a deixando ao lado do sofá em que meu pai dormia, voltando para a sala de jantar em seguida, tirando e me sentando em uma das cadeiras mais próximas da cozinha. Pela visão periférica, percebi que Ethan estava inquieto, ou que talvez o silêncio entre ele e uma desconhecida em sua própria casa o incomodava.

- Que dia, não? - E apesar disso, Ethan ainda tentava quebrar o silêncio entre nós, sempre me trazendo um sentimento de conforto e segurança, mesmo que o que ele dissesse não fosse nada demais.

- Realmente! Não é todo dia que estamos juntos de um deus, encontrando uma tumba com um semideus adormecido e presenciando uma luta entre dois semideuses! - Normalmente eu me incomodaria com alguém rindo tão alto na presença de pessoas dormindo, mas a risada de Ethan tornava aquela conversa tão casual que tal ideia sequer passava pela minha cabeça.

- E o seu tornozelo?

- Já está bem melhor, obrigada!

- Esse cheiro é o que eu estou pensando? - E de repente, não só a sua voz como também o próprio Sajin estava de pé na sala de jantar, tirando uma das cadeiras para se sentar também.

- Se você está pensando que esse cheiro é do seu famoso risoto com caldo de limão, então você está certo!

- Então Luna saiu sem fazer o almoço?

- Sim! Mas não que isso seja um problema para nossa família, não é mesmo? - Em sincronia, Ethan e Sajin riam. Levando em conta todo o contexto por trás da família Akitake, a interação entre pai e filho até me trazia uma pontinha de inveja e admiração pelo relacionamento dos dois. E de repente, um barulho de algo caindo surgiu da sala de visitas.

- Pai?! - Eu havia o chamado alto sem gritar, e não tive resposta. Com a adrenalina surgindo de repente, saí da cadeira e cruzei o cômodo, chegando na sala de visitas e me assustando com o corpo de meu pai no chão. - P-Pai!! - Ele já tentava levantar, e eu me abaixei para ajudá-lo. - Consegue se sentar?

- Sim, filha, obrigado! Mas na verdade eu estava indo junto com Sajin! - O riso veio em mim sem qualquer aviso, me deixando aliviada por não ser nada grave.

- Já fazem dois meses que você não come algo, não é? - E assim como Sajin e Ethan, foi a vez de meu pai e eu rirmos em sincronia.

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