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Saímos da casa, trancando-a em seguida e voltando pelo mesmo corredor que havíamos passado para chegar na casa alugada, chegando na recepção onde Minashigo entregou as chaves para um homem na recepção e pagando pela nossa estadia temporária. Uma conversa entre os dois se iniciaram, e eu olhei o horário na tela de meu celular que indicava que, enquanto eram seis da manhã no Japão, devido ao fuso-horário entre países, já era uma da madrugada na Finlândia. Atenta outra vez, Minashigo estalou os dedos em minha direção enquanto ia até uma porta ao lado direito da saída principal da recepção, e eu apenas o segui. Passando pela porta, entramos em um estacionamento onde haviam alguns carros normais, e dois táxis, estando um deles vazio. Fomos na direção do que estava com o motorista dentro e, outra vez, Minashigo falava algo que eu não entendia, e como resposta, o taxista acenou positivamente com a cabeça, mexendo no painel perto do volante, ao mesmo tempo em que Minashigo abria uma das portas traseiras do veículo, indo mais fundo no banco traseiro para que eu pudesse entrar em seguida.

- O recepcionista disse que, se dermos sorte, podemos pegar o metrô que cruza essa e as outras duas cidades até a fronteira com a Suécia nos próximos sete minutos! - E enquanto Minashigo explicava, o taxista seguia seu curso até tal destino.

- "Se dermos sorte"?

- O trânsito na Finlândia é algo controlado! Devemos chegar logo de volta na rodoviária que havíamos parado!

- Já faz alguns minutos desde que o celular indicou ser uma da madrugada! Não deve ter tantos carros na ativa agora!

- E o seu braço? Como tá? - Com a pergunta, dei alguns leves tapas com as pontas dos dedos por cima do antebraço enfaixado.

- A crosta já se formou, mas prefiro deixar meu braço coberto por enquanto!

- Acho que até o final dessa jornada, seu braço já vai ter melhorado por completo! - Ainda olhando para meu antebraço, eu tinha percebido que o assunto havia se encerrado ali, e mesmo querendo continuar do jeito que estava, minha curiosidade falou mais alto.

- E falando nessa jornada... - Respirei fundo, tentando achar as melhores palavras para dizer aquilo sem parecer indelicada. - Eu entendo que você está em estado de urgência, mas não seria mais fácil pra você pegar um avião até a Itália pra ir ver logo esse seu amigo?

-  Sobre isso... - Evidentemente querendo fugir da pergunta, Minashigo olhava para a janela do carro, observando os poucos veículos e pedestres em movimento nessa hora da noite. Eu não sabia qual era a gravidade da situação, mas eu preferia que ao menos Minashigo dissesse que não queria falar sobre aquilo do que ficar em completo silêncio.

- Minashi... - E então, o carro parou em frente a rodoviária, com o painel do táxi indicando que haviam se passado apenas três minutos de viagem. Com o fim da corrida, Minashigo se adiantou em pagar o motorista e saiu do carro em seguida, fazendo com que eu saísse as pressas do veículo. Descendo as escadas da rodoviária, seguindo-o, vimos poucas pessoas já entrando no trem que estava parado com as portas abertas, e com o nosso objetivo em nossa frente, entramos também no vagão parcialmente preenchido, nos sentando em uma das fileiras de assentos, e ainda, o silêncio permanecia, até que eu preferi acabar com aquilo de vez. - Olha, do mesmo jeito que você se preocupa em atrapalhar a minha viagem, eu também me preocupo de estar te atrasando com seja lá qual seja o seu problema! Eu ainda estou preocupada com meu pai, mas parece que você está mais urgente do que eu, e é por isso que eu não vou ligar se você preferir voar até a Itália, mas eu ainda quero continuar esse meu caminho de cruzar os países! - Não de imediato, mas Minashigo finalmente me olhou nos olhos.

- Está decidida mesmo, não é? - Antes que eu pudesse responder, Minashigo suspirou, e um sorriso de culpa surgiu em seu rosto. - É incrível como certas coisas não mudam! Eu sempre tento me manter de pé sozinho, mas sempre acabo tendo que ter alguém pra me estender a mão, sempre que caio! - Meu corpo se mexeu sozinho, e eu só percebi o que tinha feito ao ouvir o som da palma da minha mão ao chocar com o rosto de Minashigo, fazendo o mesmo virar para o lado da janela.

- Você vai falar de uma vez ou prefere tomar outro tapa? - Minashigo levou a mão até a bochecha avermelhada, esfregando a palma da mão na superfície quente, e por causa disso eu esperei um pouco pela resposta, que não levou muito tempo para surgir.

- Aconteceu uma coisa na minha vida, já faz uns cinco meses, e isso estava me deixando maluco! Eu venho me enfiando em trabalhos um atrás do outro pra ocupar minha cabeça, mas nos últimos dois meses acabou ficando impossível de eu não pensar nisso, e foi daí que eu apelei para os antidepressivos! Eu só queria... Virar a página! É aquele tipo de situação que você espera o pior, depois de tanto tempo que aconteceu! - A última frase de Minashigo me atingiu como uma lança, e por instinto, eu desviei o olhar.

- Eu... Eu não te culpo! Estou chegando nesse mesmo ponto com meu pai!

- Mas você ainda tem esperança!

- É o que me resta! - Parando de esfregar a bochecha, Minashigo usava a mesma mão pra coçar a pele do rosto.

- Era um dia normal de trabalho quando o pai desse meu amigo simplesmente caiu do nada! Levaram ele para o hospital e o examinaram! Descobriram que ele tem uma doença que faz os órgãos do corpo falecerem de pouco em pouco, e ao que parece, a mãe dele também tinha isso, e pra piorar, ele não tem tanto sangue como uma pessoa normal, o que o prejudica ainda mais!

- Não tem tanto sangue?

- Ele não tem parte das pernas e do antebraço esquerdo, e por isso ele usa próteses robóticas! É um dos sobreviventes da Segunda Mafiakuza! É um homem honrado e bondoso que não se deixou cair pelas tristezas que passou, ou devo dizer, não o deixaram cair em um poço sem fundo! É como se fosse um pai pra mim, e é alguém que eu gostaria de ser, um dia!

- Então é isso!

- Desculpa não ter dito antes! Se eu soubesse que você iria me bater, eu...

- É o que você ganha por me deixar preocupada! - Olhei para o teto do vagão, que começou a se mover, e suspirei. - De qualquer forma, perdão pelo tapa!

- Haha tudo bem, eu merecia! Prometo que não faço mais isso!

- É bom mesmo! - Levantei a palma da mão, ameaçando outro tapa, e não conseguindo segurar, gargalhei, e Minashigo me acompanhou nas risadas.

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