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(- Papai! O que fez você querer trabalhar com arqueologia? - Meu pai parava as anotações que fazia, para responder a pequena Erina que estava sentada perto de si, brincando com o coelho de pelúcia de pelo amarelo.

- Talvez eu tenha tido alguma influência dos filmes e séries de exploração que costumavam aparecer na televisão, mas eu também gostava de história! Imagina você estar em algum lugar de vários anos de existência, onde você encontra várias informações sobre o povo que vivia ali, e também tendo que desarmar tipos de armadilhas que o local guarda, e caso falhasse... - Meu pai pegava uma bolinha de papel na mesa, e a fez rolar até cair no chão. - A tal armadilha se ativasse!

- Você já se deparou com alguma armadilha em algum dos seus trabalhos?

- Para a minha sorte não haha!

- Nhá! Que chato! - Eu desviava o olhar, fazendo um nó nas orelhas de Olaf.

- Sabe, Erina... Houve uma guerra, na época minha adolescência! Não nos foi dado nenhum tipo de informação, apenas que os japoneses tinham virado nossos inimigos da noite para o dia!

- Mas você se casou com a mamãe que é japonesa!

- Sim, mas isso foi depois dessa guerra! Eu a conheci em um intercâmbio que eu fiz, vindo para o Japão, até que eu comecei a morar aqui e comecei a passar mais tempo com ela! Mas então... Outra dessa mesma guerra aconteceu e alguns homens foram chamados! Eu tive a sorte de ter sido uma das poucas exceções, mas outra vez, quase não tinha informação sobre isso tudo! - Meu pai batia a ponta do lápis na madeira da mesa, marcando a mesma com pontinhos pretos do grafite do lápis. - Pensando nisso tudo, resolvi virar arqueólogo! Eu tinha uma pequena esperança de poder descobrir o que havia acontecido!

- E você conseguiu descobrir algo? - Não teve uma resposta de imediato, e então, seu rosto sério que estava presente por todo o assunto até então, deixou desabrochar um sorriso alegre e confiante.

- Ainda não! Mas eu sinto que, cedo ou tarde, irei descobrir alguma coisa! - Sua mão direita largou o lápis na mesa e pousou sobre a minha cabeça, balançando e bagunçando meus cabelos, e eu não pude evitar de sorrir com aquilo.)

As nuvens escuras descarregavam fortes rajadas de chuva e eventuais trovões pelo caminho. Talvez prevendo o temporal que iria surgir, mas o ônibus continha poucos passageiros que, assim como Minashigo e eu, estavam sendo levados da Rússia para a Finlândia. Não era surpresa de que a chuva viria, mas a surpresa era a força na qual a chuva surgiu. Falando em Minashigo, eu podia ver por canto de olho que ele aparentava estar conversando com alguém por mensagens, alternando entre digitar algo no celular e fechar os olhos, encostando a cabeça no banco e guardando o telefone no bolso. Por outro lado, eu não tirava meus olhos da estrada em que o ônibus estava, olhando tanto para os outros veículos que também passavam pela mesma rua, quanto para o céu enegrecido que descarregava toda a água acumulada, ao mesmo tempo em que ficava com os fones em meus ouvidos, aproveitando o pouco de carga que ainda tinha em meu celular. Com o silêncio de uma faixa para a outra, pude perceber Minashigo esticando os braços e pernas, devido ao tempo que a viagem estava tomando.

- Esse ônibus fez poucas paradas pelo caminho! Não deve demorar para chegar na primeira cidade da Finlândia!

- Tomara! Preciso urgente recarregar a bateria do meu celular! - Apesar da minha resposta, eu ainda continuava olhando para fora do ônibus.

- Você vem olhando bastante para esse tempo de chuva! - E pela primeira vez desde quando havíamos entrado no ônibus, eu olhei para Minashigo.

- Não gosto de chuvas! É como se algo de ruim sempre acontecesse quando a chuva cai! - Eu dizia enquanto abria minha mochila, tirando a marmita de plástico com os Golubtsis, fechando a minha mochila em seguida e deixando-a em meu colo, enquanto deixava a marmita no assento ao meu lado.

- E o que te faz pensar assim? - Fiquei em silêncio por um tempo, até suspirar pesadamente, começando a resposta.

- Um dia depois da minha formatura, caiu uma chuva forte como essa! Não aconteceu nada aos arredores do lugar onde moro, mas um dos postes de energia que tinha na rua da casa de uma das minhas amigas acabou caindo com a tempestade! A chuva passou no dia seguinte e tiraram o poste que havia caindo, substituindo-o por um novo! Apesar de tudo ter sido resolvido rapidamente, eu imagino o susto que essa minha amiga passou, e no dia seguinte, ela mesma tinha me dito como tudo aquilo a havia pego de surpresa! - E outra vez, o silêncio se instalou entre nós, até Minashigo quebrá-lo.

- Você não costuma perguntar muito sobre os outros, não é? Você nem tocou no assunto sobre os antidepressivos que eu pedi pra você jogar fora!

- Eu sei que você tinha algum motivo pra usar aquilo sem supervisão médica! E se você não quis dizer nada naquele momento, então pensei em não insistir nisso!

- Mesmo que isso tenha sido motivo da sua jornada ter recebido uma pausa?

- Eu sabia que essa viagem acabaria tendo pausas não previstas, e eu assumi a responsabilidade de qualquer problema que acontecesse com você nessa jornada, no momento em que deixei com que você viesse comigo! Eu convivi boa parte da minha vida apenas com a minha mãe, e pude perceber bem que a vida pode nos trazer vários inconvenientes, mas a vida é isso, não é? Coisas ruins aparecem no nosso caminho, e temos que saber como lidar com elas! - Minashigo sorriu, rindo em seguida.

- Falando assim, até me sinto horrível por ter apelado para antidepressivos!

- Mas foi a maneira com que você achou para passar pelo seu problema, seja ele qual for! E você mesmo está assumindo que foi um erro, então qual o problema disso? - De repente, os olhos de Minashigo brilharam em minha direção, e outra vez, um sorriso surgiu em seu rosto.

- Acho que eu fiz bem em ter pedido para vir com você nessa viagem! - Minashigo então pousou outra vez a cabeça no banco, e eu voltei a olhar a escuridão do céu pela janela, e ambos estávamos sorrindo com tudo aquilo.

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