Alessa, Nos Caminhos Da Loucura E Do Destino ( Concluído)

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Alessa

– Amém!

Levantei do balcão da capela fazendo o sinal da cruz agradecendo por Deus e Nossa Senhora cuidarem de mim, fiquei extremamente abalada com a carta de Catarina, minha amiga se perdeu por culpa da maldade humana. A voz tinha razão, ela não voltou mas não por vontade própria e sim pela maldade provocada contra ela.

Catarina vai permanecer nas minhas orações sempre já que não posso salvá-la, não poderia fazer muito já que sou uma órfã, pelo que entendi na carta ela foi vendida para um homem muito poderoso portanto seria muito difícil tirá-la da mão dele. Sei que existem situações que são impossíveis para nós humanos mas para Deus nada é impossível, e sei que Ele irá libertá-la de todo mal.

Algumas irmãs me cumprimentam pelo caminho até meu destino, e eu apenas retribuo com aceno, não ouso conversar ou puxar assunto, fiquei conhecida pelo que aconteceu comigo quando era criança, até hoje carrego as marcas das Chagas pelo exorcismo que passei. Mesmo assim ainda as forças do mal estão em minha mente falando coisas, querendo que cometa erros como se não tivesse que prestar contas a Deus de cada um deles.

A voz começa a falar no meu ouvido de forma alta, rezo sem parar inclusive passo noites acordada pedindo para que Deus afastasse de mim todo o mal, em algumas ocasiões dá certo, em outras a voz continua falando em meus ouvidos de maneira incessante. Ela não aceita que me torne freira, disse que perderia muito, que sou bonita e poderia ter o homem que quisesse mas isso é uma bobagem impensável, meu lugar é aqui e não há outro lugar além daqui para viver.

Passo pelos padres sem dizer nada, os outros são bons para mim mas como sei que o padre Miguel está no meio deles prefiro o silêncio e não cumprimentar ninguém. Meu terço está em minhas mãos enquanto continuo meu caminho de repente escuto padre Miguel me chamar, sei que vai começar com as acusações infindáveis e as humilhações sem sentido. Com o tempo passei a me acostumar com tudo o que ele fala e faz, ele não tem como decidir se vou ser freira ou não porque a decisão não é dele.

Acredito que isso incomode muito a ele por isso que quando tem um tempo sempre me incomoda, fico em silêncio de cabeça baixa e ele acaba indo embora quando percebi que não vou atacá-lo e nem retrucar. Falta pouco para finalmente me tornar freira, não vou deixar as armadilhas do Diabo me desviarem do caminho da fé.

– Está pensando que é melhor que nós? Passou sem cumprimentar o padre Caetano e os outros, Madre Rita deixou você muito mimada!

– Me desculpe, padre Miguel, estava distraída com meus pensamentos, não vai mais acontecer. Se me der licença, preciso ir, tenho que ajudar a irmã Conceição com os enfermos.

Ele olhou para mim novamente, aquele olhar estranho que não conseguia entender, que me deixava desconfortável sentindo a sensação de que já olharam para me assim antes.

– Não lhe dou licença, você pensa ser melhor que todos mas não passa de uma bastarda ainda por cima endemoniada.

O padre segurou meu braço como se quisesse me machucar, fiquei assustada com sua agressão gratuita, ele me ataca tem anos e nunca entendi o porque, sei que o fato de ter sido possuída possa ser um dos motivos mas ainda assim tenho a impressão que não é somente isso.

– O senhor está me machucando, por favor, me solte, preciso ir.

– Sei o que faz a noite, sua meretriz, nunca me enganou, pode enganar todos menos eu. Sua pecadora, sabe por qual motivo ainda não mostrei para todos quem realmente é?