CAPÍTULO 9

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Kyle sentia o toque gelado da morte mais uma vez sobre si. Era a terceira vez que a morte atravessava seu caminho. A sensação de frio intenso reavivava suas memórias da primeira vez que quase morrera. Sem forças, sentindo a neve depositar-se sobre seu corpo, camada após camada. Teria morrido através de um real toque gélido. Fora salvo por Noran. A outra situação, foi após o período que trabalhou como escravo nas minas de Xilos, as forças abandonavam seu corpo rapidamente e, desta vez, foi o silfo Modevarsh que veio em seu auxílio. De alguma forma, talvez por estar novamente entre a vida e a morte, confirmou-se me seu íntimo a aceitação da morte de Modevarsh. Seu raciocínio estava lento e confuso, mas uma ideia lhe ocorreu: parecia que quem quer que fosse a lhe salvar da morte, estaria condenado a fenecer. A agonia tomou conta e a ideia de que alguém pudesse trazê-lo de volta à vida era perturbadora. Desejou morrer. Abraçou o frio e desejou que ele tomasse conta de si.

Foi então que acordou de sobressalto e enxugou o suor frio que lhe cobria a testa. Pensamentos desordenados deixavam seu julgamento prejudicado. Sentiu um forte cheiro de estrume, como se estivesse num estábulo ou celeiro. Estava deitado em uma rede, e, ao olhar à sua volta, pouco pode ver, mas escutou sons de animais. A confusão foi diminuindo e escutou a si mesmo murmurando.

- Apenas um sonho ruim.

Reagiu pensando: "Por que estou falando em sílfico?"

Logo a confusão causada pela percepção alterada da realidade afastou a sensação da morte iminente. No lugar destas ideias veio a racionalização. Os pensamentos que tentavam recordar-se de detalhes do mau sonho com um monstro e com tentáculos se esvaíram. Assim, veio o fim dos questionamentos e o início das respostas. Kyle era mais uma vez Örion.

Ele havia chegado na velha fazenda dos Krenov há dois dias, mas como seu bom amigo Rílkare não estava, decidiu aguardar. Insistiram para que aceitasse um aposento na grande sede, mas não se sentia confortável em ambientes tão fechados, de forma que uma rede colocada no espaço amplo de um dos celeiros deixou-o mais à vontade. Ainda mais porque com o crepúsculo, muitos animais, que lhe serviam de excelente companhia, também buscavam o abrigo do celeiro.

Seu velho avô, Iot Evos Erendon, lhe ensinara muito sobre a comunicação com os animais. Desta forma, Örion distraía-se praticando estas habilidades. Logo soube que a maioria deles gostava muito do senhor Ulik, o administrador da fazenda, enquanto a maioria detestava o jovem Reesdi Krenov, sobrinho de Rílkare, em especial as catizes leiteiras, que reclamavam de dores nas costas. Elas não mais suportavam o peso do jovem, que insistia em montar em seus lombos, apesar do senhor Ulik lhe advertir com frequência que já ultrapassara a idade e o peso para tais brincadeiras.

Na sua terceira noite na fazenda dos Krenov, o jovem silfo pressentiu a chegada do amigo, pois pode escutar o trote da montaria de Rílkare, Ferro-em-brasa, em conjunto os sons de armaduras chacoalhando. Com os ouvidos atentos, percebeu que Rilkare vinha acompanhado. Do interior do celeiro, pouco iluminado, avistou um grupo de cavaleiros que se aproximavam. Agora com os olhos, pode reconhecer seu amigo, mas não sabia que eram os demais. Dois deles, vestiam armaduras, enquanto o terceiro, roupas leves.

Ferro-em-brasa, que foi um cavalo dado de presente a Rílkare pela família de Örion, pressentiu a presença de seu irmão, o cavalo Zitrehidel, que servia de montaria para o silfo e repousava no celeiro. Desviou-se do caminho que seguia até a grande sede e galopou até Örion. Rílkare que conhecia bem os humores de sua montaria, não refreou seus impulsos. Logo, os dois amigos voltaram a se encontrar.

Örion cumprimentou ambos, cavaleiro e montaria. O jovem nobre desmontou e envolveu o silfo num caloroso abraço.

- Meu caro Örion! Espero que tenha trazido boas novas! - disse o humano abrindo um largo sorriso e mostrando seus dentes frontais separados, mas simpáticos. Usava uma farta barba castanha um pouco menor que o comprimento do seu corte de cabelos. Seus olhos eram castanhos claros, e sob o sol, ficavam cor de mel. O nariz era comprido e pontudo como de um falchim e sua estatura era baixa, sendo apenas um pouco mais alto que Örion.

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