CAPÍTULO 59

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Dali podiam avistar a torre negra. A clareira ficava numa região rochosa cheia de vegetação rasteira com algumas poucas árvores irregularmente distribuídas. Estas projetavam sombras que quebravam a claridade intensa do local. A torre erguida com blocos de rocha escura, quase negra, se destacava contra o céu iluminado. O telhado também era escuro e pontiagudo. Na lateral, havia uma janela circular usada para observar astros. A torre era a parte mais alta de um pequeno forte cercado por muralhas de rocha cinzenta que pareciam pertencer a uma construção mais recente. Um fio de fumaça escura subia do interior da muralha proveniente de uma chaminé que não podia ser vista dali.

Não havia nenhum vigia à vista. Cretàh informou que a segurança da torre da bruxa era negligente. Ele disse com prazer nos lábios – Só perceberão o ataque assim que estivermos sobre eles.

As tropas se dividiram. Danke levou seus homens e Skallurè para o flanco direito da fortaleza, enquanto o Capitão Timas conduzia os homens de Balish para o flanco esquerdo. Assim que os dois grupos chegaram até uma posição avançada, Rílkare e os demais seguiram direto para o portão. Vestiam capas que escondiam as armas e tinham grilhões falsos nos pescoços e braços. Vinham sendo conduzidos por Con e Cretàh.

– Abram em nome da mestra – silvou o pequeno pirilampo fazendo sua voz aguda soar amplificada. – Trago prisioneiros.

– Abra! – veio uma voz embriagada e rude que soava como um latido – É Sir Mosquito, trazendo prisioneiros.

As correntes se arrastaram e o portão foi suspenso lentamente até travar.

– Andem, seus molengas! – comandou Cretàh, mas Rílkare, Poul e Örion caminharam lentamente para dar tempo aos soldados e mercenários de se aproximarem.

Noran estava apreensivo e acompanhava o grupo, mas chegou ao limite do quanto conseguia avançar. O ambiente do mundo invisível perto da fortaleza era pesado. Isso fazia se sentir como se pesasse duzentos quilos. Centenas de espectros malignos volitavam no local e ao redor da torre negra. Era uma visão perturbadora. Noran ainda tentou avisar a Örion e a Poul – Não entrem! Por favor, voltem enquanto há tempo.

Poul estava obstinado e acreditava no plano. Em sua mente apenas cabia um pensamento: salvar sua esposa. Noran tentou prosseguir, mas a pesada energia bloqueou seus movimentos. O ar era cada vez mais denso, escuro e viscoso como piche grudento. Fez a única coisa que lhe restava. Ficou observando e rezando pelo sucesso da empreitada. Os quatro finalmente cruzaram o portão e revelaram-se aos guardas do interior.

– O que temos aí, hã, Sir Mosquito? – indagou o brutamonte inumano da raça bestial que naquelas bandas era conhecida como Wertha. Era esguio, musculoso e alto. O padrão da pelagem era cinzento rajado de negro. No lugar de um nariz, o focinho preto de onde escorria um pouco de muco e as fileiras de dentes incisivos eram avantajadas e serrilhadas. Ria-se com uma explosão de escárnio.

– Mas o que?! – O bestial espantou-se ao ver Rílkare desembainhando sua espada. As correntes ilusórias dos prisioneiros se dissolveram. Antes que Rílkare avançasse contra a criatura, Con disparou uma seta certeira que perfurou seu crânio fazendo-o tombar.

– Adiante homens! – bradou Rílkare com sua espada erguida.

Os soldados comandados por Timas correram para dentro da fortaleza com as armas em punho. O pátio interno era amplo e sujo. Fedia a estrume, ou coisa pior. Sobre o piso de pedras irregulares e desgastadas havia poças de lama. Dois ogros enormes surgiram adiante atraindo a atenção da tropa. Vestiam placas de metal amarradas precariamente a seus corpos volumosos e sobre as cabeças vestiam algo como grandes baldes de metal. Armaduras toscas e improvisadas, mas que cumpriam o papel de desviar a maior parte da saraivada de flechas atiradas pelos homens de Balish. Umas poucas setas que atingiram o alvo não causaram ferimentos sérios, entretanto despertaram a fúria das criaturas para a batalha eminente.

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