CAPÍTULO 111

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Archibald estava preso dentro de seu próprio corpo e sem nenhum controle. Apenas podia observar o que ocorria ao seu redor enquanto o demônio liberado por Weiss comandava seus movimentos e até sua fala. Sua voz soava pesada e gutural.

– Mal posso esperar para estripar esses malditos elfos.

– Quer dizer, silfos – observou Clefto.

– Não necromante, elfos degenerados, mas ainda, malditos elfos.

Weiss observou – Você deveria saber sobre a maldição, Clefto.

O necromante deu com os ombros. O trio observava o contorno negro da torre contra o céu estrelado.

– Volto a expressar que sigo nesta tarefa sob protesto. Não é nada sensato para nós três enfrentarmos, talvez, meia dúzia de bruxos mestres e dezenas de outros em treinamento.

– Temos Plar-Goshu conosco, e além disso, talvez não precisemos ter um confronto sequer.

– Não se preocupe, necromante sensato, deixe-os todos para mim – retrucou o demônio.

– A sensatez tem mantido minha cabeça sobre meu pescoço. – disse o necromante incomodado pelo fato de estar lidando com um demônio novamente. Desde a ocasião em que quase perdeu a vida enfrentando o demônio Therd Fermen, tornou-se um pesquisador das criaturas visando descobrir meios de controlá-las.

O demônio no corpo de Archibald, cansado de tomar precauções, tomou a frente e foi para a entrada da torre. Era um enorme edifício que erguia-se de modo circular e espiralado. A terceira maior construção de Nish, ficando apenas atrás do palácio imperial e da grande arena.

Plar-Goshu atirou-se contra as paredes de pedra agarrando-se nas juntas largas. Era uma escalada quase impossível, mas com agilidade felina, em pouco tempo, chegou às varandas do terceiro pavimento. Retirou da mochila uma corda, amarrou em uma das colunas externas e atirou-a para baixo.

– Suba – ordenou Weiss.

– Sério?

O velho monge encarou-o. Clefto pode apenas captar o brilho sarcástico em seus olhos sob a penumbra. O necromante iniciou a subida e na metade do percurso tinha as mãos ardendo e doídas, os braços latejavam e pediam socorro.

– Vamos, seu molenga!

– Não consigo! Sou um mago, não um ladrão.

– Então voe, levite!

– Plar... – chamou Weiss.

O demônio emitiu um pequeno ronco de desprezo e içou o necromante como se erguesse uma criancinha. Pegou-o pela roupa e depositou-o no chão sem muita gentileza. Clefto girou para ficar de costas. Ofegava e estava todo suado.

– Fracote! – o demônio chutou-o nas costelas.

Weiss era velho e mancava devido à perna mutilada, mas teve durante toda a vida o exigente treinamento dos monges. Sem mesmo usar as pernas escalou pela corda numa velocidade invejável.

– Vamos Clefto – disse Weiss chiando forte – de pé!

No passado, a torre tivera defesas mais robustas, mas com milhares de anos de relativa paz, recebeu reformas como as varandas espiraladas e portas de vidro e madeira ao longo de seu perímetro. Outra modificação foi redirecionamento das energias que convertiam para o olho da torre, situado no topo. Era uma poderosa arma que manteve Nish livre de ser conquistada por demônios no passado. Tal energia era usada agora para fins utilitários, como para alimentar os elevadores internos da torre e as câmaras de teleportação.

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