CAPÍTULO 74

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Calisto, Derek e Dagon, companheiros costumeiros de diversas jornadas, estavam reunidos na sala de portais do complexo subterrâneo de Thoudervon. Aguardavam sua chegada. Estiveram por alguns dias na necrópole se preparando para a jornada. 

A visita ao plano netéreo teve efeito adverso, especialmente sobre Derek. Os olhos do cavaleiro, quando na escuridão, emitiam um sutil brilho esverdeado, da mesma maneira que a lâmina de seu machado. Sob análise dos magos necromantes ficou constatado que ambos haviam absorvido um tipo desconhecido de energia.

 Dagon, além de romper os laços de subordinação com seu criador, Príncipe Serin, obteve a armadura de metal avermelhado que pertencera ao Cavaleiro Vermelho e esta foi adaptada para seu corpo esquelético. Para assentar as peças de metal sobre o corpo magro várias peças de roupa, couro, cintos e fivelas foram atadas à ossada negra.

Derek comentou ao vê-lo – Barão Dagon, você está quase bonito nestas vestes.

O morto-vivo encarou-o. Era visível apenas a parte frontal de seu rosto, pois a viseira do elmo estava suspensa. Respondeu com sua voz fantasmagórica – Obrigado, espero que isso possa lhe dar uma nova perspectiva sobre seu futuro.

– Meu futuro? Não entendi...

– Ora, lutando ao lado de necromantes é possível que seus ossos continuem em ação após sua morte. Estar desmorto não é de todo ruim.

Calisto observou como Dagon havia se tornado conversador. Achava curioso ver que algo vinha mudando nele. Calisto vestia couro negro da cabeça aos pés. Várias cintas e fivelas permitiam que o traje ficasse justo. Sobre este, um corselete metálico de tonalidade plúmbea, semelhante ao elmo que deixava à vista apenas os olhos e a boca. Carregava também uma nova espada e escudo.

Thoudervon chegou ao salão acompanhado de um rapaz alto. Vestia um manto escuro com capuz abaixado. Calisto reconheceu-o, era o jovem mago Ector.

– Seremos apenas nós quatro? – queixou-se Calisto. – E quanto a Vekkardi? Suas capacidades foram úteis no Plano Netéreo...

Se ser ancestral retrucou – Precisarei de mais tempo com este para que esteja pronto para colaborar.

– E quanto a Yourdon? Ao menos ele fez algo útil... – insistiu o jovem.

– Chega de choramingar, Calisto! O rapaz aqui recebeu treinamento para atuar como guia e terá mais motivação do que Yourdon para apoiá-los do outro lado.

– Motivação?

– O instinto de sobrevivência, não é rapaz?

– Sim, sim senhor, mestre – falou de uma só vez.

– Isto! O medo pode ser um ótimo aliado. Uma lição que você falha em aprender, criança. – Thoudervon encarou Calisto de perto – Arriscou sua vida desnecessariamente por vezes demais. Já basta disto! Agora irá arriscar a vida por algo importante, ao menos. Espero que preste o serviço e não me force a sair de meu afazeres para ir até lá corrigir suas falhas.

Calisto estava ficando farto dos sermões do esqueleto. Queria usar o aparato que carregava contra ele, mas se falhasse? Mais uma afronta lhe custaria a vida. Como confrontá-lo? Quais seriam suas fraquezas? Haveria alguma?

Yourdon chegou ao salão e cumprimentou-os – Olá Calisto, Derek, Dagon e... fedelho.

– Está atrasado... – ralhou Thoudervon.

– Perdoe-me, mestre, mas estive trabalhando em algo para potencializar o sucesso da missão – Yourdon atirou um pequeno objeto que Calisto apanhou no ar.

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