CAPÍTULO 101

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Depois de alguns anos vivendo em Tchilla, Archibald jamais pensou que retornaria ao arquipélago dos silfos. O navio que tomou chegou no porto de Aurin alguns dias depois de deixar Lacoresh. Suas opções eram um pouco limitadas para conseguir uma embarcação para Shind, a ilha dos Orb.

A guerra civil que ocorreu há muitos anos levou à derrota dos Mikril e dos Orb. Os vitoriosos, Hiokar e Farmin, agora governavam o império marítimo à partir da capital em Thayfon. Porém, os mais influentes entre os Farmin residiam em Aurin. A aliança entre Lacoresh e os silfos resultou no surgimento de uma nova classe social. Homens que gozavam de direitos, mas contra os quais havia muito preconceito. Eram os visitantes humanos de origem dos reinos do império Lacorês somados aos Libertos, ex-escravos de origem lacoresa.

O navio que trouxe Archibald foi o segundo a vir de Lacoresh após a morte de Maurícius, mas o primeiro a trazer novidades sobre sucessão em Lacoresh. O fato de comentar nas tabernas que tinha vindo de Lacoresh atraiu a atenção de todo tipo de estranhos ávidos por novidades a respeito da queda do Velho. Archibald foi cercado por um pequeno grupo de curiosos com uma série de questões. Ele respondeu às perguntas da melhor forma que pode. Despertou interesse de alguns quando revelou ser testemunha do início da revolta dentro do castelo imperial. Falou sobre os dias de caos que se sucederam baseando-se em depoimentos do irmão Meinard e de Nasbit.

– Diga-nos, Sr. DeReifos, o que podemos esperar do novo imperador? – indagou um dos silfos do balcão da taberna.

– Arávner não é ainda imperador, apenas o regente. Mas tenho algo a dizer sobre ele que poucos sabem. O velho era apenas um fantoche. O tempo todo, tudo que ocorreu em Lacoresh, desde a queda do Rei Corélius, é obra de Arávner, que esteve sempre nos bastidores.

– Verdade – concordou um velho silfo – aqui nos arquipélagos sempre se soube que há um grupo de bruxos por detrás das ações políticas. Este Arávner era o cabeça?

Archibald confirmou com um aceno.

– Bem, meus caros, já lhes contei bastante novidades. Agora tenho que ir, pois estou numa importante missão.

Os silfos agradeceram a conversa e foram se dispersando. Um deles ficou. Era velho, baixo, magro e tinha as costas sempre curvadas. Longos cabelos cor de prata ficavam presos e enrolados numa espécie de touca e suas roupas eram simples e discretas. Possuía olhos esbranquiçados e agitados. Mexia os lábios de maneira constante, mesmo quando não estava falando.

– Bem, Sr. DeReifos, talvez eu possa ajudá-lo com sua missão... Afinal, que negócios o trazem a Aurin?

– Poderia saber qual seu clã, Sr. Nemediir?

– Sou Nemediir dos Maki, a seus serviços.

– Então é um mago?

– Sei alguma coisa de magia, mas nunca fui muito longe, digo, para viver profissionalmente de magia.

– Há duas coisas que busco. Saber o paradeiro de meu superior em minha ordem religiosa. E encontrar com uma pessoa do clã Orb, que possivelmente está em Shind.

– O seu superior tem nome?

– Sim, Prior Weiss;

– Oh, o embaixador.

Archibald não fazia ideia de que Weiss pudesse ser um embaixador entre os silfos, mas ocultou qualquer sinal de surpresa – Sim, o próprio.

– Ele esteve em Aurin, há cerca de uma semana.

– Sabe para onde foi?

– Não teria certeza, mas aposto que foi para Nish. Afinal, é onde fica sua residência.

– Sim, claro.

Archibald ponderou e resolveu abrir o jogo – Na verdade, Sr. Nemediir, não venho aqui há muitos anos. Talvez o senhor pudesse me ajudar a localizar alguns velhos conhecidos.

O velho deu com os ombros.

– Saberia onde posso encontrar o capitão Ramon ou Zoroastehf?

– Silfos como eles poderiam estar em qualquer lugar, mas não seria impossível encontrá-los aqui em Aurin.

– Quem sabe estou com sorte?

– E se eu não puder achá-los?

– Talvez possa localizar Lorde Guiss.

– Guiss? Agora entendo o quanto significa seu muitos anos. Guiss está morto, ou preso. É bem sabido que era um dos principais abolicionistas.

Archibald detectou uma pontada de malícia no olhar do velho silfo. Sentiu que estava sendo descuidado. Não poderia confiar assim num desconhecido.

– Bem, Sr. Nemediir, foi um prazer conversarmos, mas tenho um compromisso. Talvez possamos nos ver novamente, aqui mesmo? Posso pagar por boas informações.

– Oh, sim, mas é claro. Cuide-se, Sr. DeReifos.

Archibald saiu olhando para todos os lados com desconfiança. Haveria alguém o seguindo? Se Noran ou Sen estivessem com ele, poderiam ajudá-lo a obter informações e a avaliar o caráter de seus interlocutores. Estava só e vulnerável. Mencionar o nome de Lorde Guiss havia sido um erro. Foi direto para o porto procurar por navios que zarpassem para Shind ou Nish. Não faltavam embarcações rumo a Nish, e para Shind não encontrou nenhuma. Era muito caro contratar uma viagem exclusiva.

Perguntando aqui e ali descobriu que com um pouco de dinheiro talvez conseguisse alguma informação no escritório de registros. Com isso, descobriu que Weiss havia partido para Nish e decidiu ir para lá. Partiu no mesmo dia.

Assim, por hora, ele conseguiu evitar problemas com o Sr. Nemediir. O velho silfo e alguns de seus associados tomaram um navio para Nish, no dia seguinte, seguindo Archibald. Se o palpite do velho estivesse correto, estaria perto de ganhar uma gorda recompensa das mãos da poderosa Madame Lefreishtra.

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