Oráculo Esquecido

CAPÍTULO 31

Já era noite. Frustração e preocupação dominavam o convés do Estrela do Crepúsculo. Kiorina estava sentada e quieta, bastante chateada com tudo que vinha acontecendo. Archibald estava desaparecido, o rapaz tchilliano que pretendiam ajudar foi rude e não escutou o que tinham a dizer, ainda não tinham boas pistas sobre o oráculo e no fim de tudo, não conseguia apagar de sua mente o pedido de socorro emitido pelo reptante enjaulado.

Claudine também estava chateada, pois não conseguira nenhuma pista sobre o paradeiro de seu pai. Kyle tentava oferecer consolo, mas sem muito sucesso.

Há pouco, Kleon e Lepard deixaram o navio para retornar ao local em que o capitão vira Archibald pela última vez. Talvez com alguém fluente em tchilliano, o capitão conseguiria obter informações sobre o seu paradeiro. Em seu íntimo, Lepard estava tranquilo, imaginando que o ex-monge, de algum modo, ainda estivesse entre as mulheres da noite anterior.

– Não adianta fazer careta, Kina! Isso não vai resolver nada.

– Você não entende, Gorum? Aquele pobre homem está prestes a perder seu filho e ninguém está fazendo nada a respeito!

– Sabe menina, você é que não sabe nada sobre perder filhos.

– Como assim?

– Eu tive uma filha, sabia? Perdi ela e a mãe, na ocasião da guerra dos bestiais.

– Puxa, eu não sabia.

– Tudo bem, isso já ficou no passado, mas não me venha dizer que ninguém está fazendo nada, pois nós estamos. Nós estamos tentando, não é mesmo?

– Você tem razão, estou exagerando, mas me sinto impotente para ajudá-lo.

Gorum fez um gesto obsceno e disse – Não me fale de impotência, há há há! Nossa essa piada é horrível, mas me deu uma boa ideia!

– Ideia?

– Magia sua boba! Você vai resolver essa questão usando magia!

– É mesmo? Como? Tocando fogo nele?

– É funcionaria! – riu-se – Mas seria muito radical... Não, é claro que queimá-lo não é a melhor opção. Quem sabe, fazer com que o pai dele adoeça.

– Você acha que sou uma necromante, ou algo assim?

– Não, mas não é uma má ilusionista, não é verdade?

O rosto da ruiva iluminou-se. – É claro, como não pensei nisso antes? Gorum, você é um gênio!

– Deixa disso garota, mas também não é fácil esquecer as tantas vezes que me pregou peças com suas ilusões.

Kiorina riu, lembrando-se de algumas de suas travessuras.

– O que é tão engraçado? – Quis saber Kyle, aproximando-se.

– Já perdeu a graça. – retrucou Kiorina com uma careta.

– Humor variável como sempre... Estive imaginando se alguma coisa engraçada pudesse animar Claudine.

– O que houve com sua mulher? – brincou Gorum.

– Ela acha que viu o pai dela hoje. Não tenho certeza se é mesmo verdade, acho que ela está chateada comigo também por não acreditar nela.

– É claro seu idiota! – irritou-se Kiorina – Qualquer um pode desacreditá-la, menos você.

– Como assim?

– Você é um idiota mesmo Kyle. Vamos lá Gorum, vamos oferecer ajuda para encontrar o pai da Claudine.

Gorum deu com os ombros e zombou – Kiorina ao resgate!

Kyle ficou parado, balançando a cabeça, contrariado. Em seguida, uma movimentação no cais chamou sua atenção.

Um guarda aproximou-se e disse algumas coisas das quais Kyle pensou ter entendido: mensagem. Um dos marujos que falava um pouco de tchilliano aproximou-se e tomou o pedaço de pergaminho do guarda. – Senhor Kyle, é uma mensagem vinda do senhor DeReifos.

Kyle pegou o bilhete e reconheceu a caligrafia do amigo. Procurou um local próximo de um lampião a óleo para ler a mensagem:

"Amigos, estou bem e hospedado na casa do templário, senhor Nar Eseak. Por favor, venham me visitar amanhã. Tenho novidades que poderão nos levar ao oráculo. Desculpem-me se os deixei sem notícias, mas falta espaço neste papel para maiores explicações. Do amigo, Archibald".

– Ei pessoal! Notícias de Archibald! Ele está bem. – Kyle anunciou e Kiorina correu para pegar o bilhete.

– Ao menos alguém está bem! – retrucou Claudine irritada.

Kyle cruzou os braços. Não acreditava que o pai de Claudine estivesse vivo. Ela deu as costas e saiu.