Oráculo Esquecido

CAPÍTULO 51

Logo após o encontro com Vekkardi, partiram numa longa jornada. Além de Calisto e os seus, havia mais quatro rebeldes que acompanhavam Vekkardi. Entre estes, se destacavam o Silfo Roubert e o mago Ector. O primeiro agora usava barba comprida e trançada e quase nunca falava. Já o segundo, falava até demais e era um meninote que sonhava em ter uma barba farta de feiticeiro. Não foi fácil para Vekkardi convencer seus companheiros, em especial, Roubert a continuar no grupo depois que este se deparou com o Barão Dagon. Na prática, a expedição teve que se dividir em dois grupos que viajavam separados, mas um às vistas do outro. Apenas Vekkardi, Ector, Calisto e Derek transitavam entre os grupos.

Seguiram atravessando o Baronato de Whiteleaf e depois tomaram a antiga estrada norte do condado de MontGrey, rumo a Xilos. Evitando seguir até o final da estrada, continuariam para fora das fronteiras do reino e adentraram a região inóspita conhecida como Pântanos Cinzentos. A fim de evitar as áreas alagadas, ao sul, seguiram os contornos da Codilheira de Thai, no limite entre o território dos anões e as terras onde poderiam encontrar tribos de bestiais não domadas pelos necromantes.

A habilidade de Calisto para desprender-se de seu corpo e investigar as proximidades pelo mundo invisível conseguiu fazer com que o grupo evitasse uma série de perigos no caminho. Foi também uma oportunidade para praticar diariamente aquela habilidade que aprendera com Radishi. Quando isto falhou, foi o batedor, Roubert, que ajudou o grupo a desviar-se de problemas. Já em outros momentos a magia de Ector foi útil. 

No passado, Calisto recebera de Thoudervon um anel capaz de armazenar feitiços. O mago Chris Yourdon havia carregado nele alguns feitiços explosivos que lhe salvaram a pele num confronto contra os anões. Ector não era um mago tão competente quanto Yourdon, mas a pedido do barão, conseguiu dotar o anel com três cargas do feitiço que ele chamava de Jato de Nevasca. Por causa disso, Calisto decidiu ser tolerante com toda a falação do menino. De algum modo, Ector e Derek se deram bem e a conversa entre os dois era o que quebrava o silêncio do grupo, de tempos em tempos.

Durante suas incursões à biblioteca da Alta Escola de Magia, quando ainda era aluno, e quando fora colega de Yourdon e Kiorina, Ector conseguiu, por diversas vezes, pegar livros de acesso restrito aos alunos. Alguns destes versavam sobre o antigo império dos Vetmös. Lendas apontavam para eles como sendo os feiticeiros mais hábeis da antiguidade, superando até mesmo os elfos. A possibilidade de encontrar uma das antigas torres deste povo deixavam-no excitado e falante.

– Sempre fui fascinado pelo grande poder do império dos Vetmös.

Roubert que pouco falava retrucou – Esse tipo de fascínio tolo pelo poder levou os povos no passado à ruína. E infelizmente, a história se repete, de novo e de novo.

Calisto viajava aquele trecho junto a Vekkardi e os demais. – Ora, ora, o silfo emitiu uma opinião sobre algo! – zombou Calisto. – Mas o que um batedor sabe sobre história?

– Sei fazer meu trabalho muito bem, mas em Shind, escutei muitas histórias dos anciãos de meu clã...

Ector se surpreendeu com a revelação – Mesmo? Por que nunca conversamos sobre isso antes?

– Falta de oportunidade, eu suponho. Mas talvez os livros pelos quais os magos estudam contivessem mais detalhes do que as histórias que ouvi. Por que não conta o que aprendeu e se houver algo que eu possa acrescentar, eu lhe digo?

– Muito bem – concordou o jovem mago. – Como sabem, Lacoresh, Homenase e os reinos próximos, ocupam apenas uma modesta fração deste continente. No passado, antes da Era Maldita, os Vetmös povoaram todo o continente. Construíram centenas de cidades. Foi o maior império que já houve. A maior parte dele aliou-se aos demônios invasores... Houve muita destruição durante a Era Maldita, centenas de cidades queimaram e junto com elas, suas bibliotecas.