CAPÍTULO 61

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Andar naquele lugar era uma experiência desconcertante. Os passos não produziam som, nem mesmo batendo os pés contra o solo com força. Não havia sol, mas não era noite. O céu era escuro, mas não continha estrelas. O peso do corpo parecia alterado, como se estivessem na água, porém mantinham-se secos. A luz não vinha de nenhum lugar, mas todas as formas possuíam contornos visíveis como se possuíssem luz própria. As cores pareciam fugir, quase por completo. Tons cinzentos predominavam pareciam inadequados, em especial no grupo que ali caminhava. Os olhos das pessoas tornaram-se cinzentos e turvos, exceto os de Calisto que pareciam normais, pela primeira vez. Havia o branco dos olhos e a íris exibia uma bonita tonalidade verde esmeralda.

Estavam todos entorpecidos. Andavam ali como se estivessem num sonho. Ao cruzar o portal apagaram-se todas as memórias da torre e da besta. Caminhavam a esmo atraídos por um odor irresistível. E naquela dimensão, podiam enxergar os cheiros. Yourdon liderava o grupo e estava consciente de tudo, pois já se acostumara às bizarras experiências sensoriais dali. Carregava uma lanterna sem luzes da qual emanava a névoa esbranquiçada de odores que atraía os demais.

Calisto foi o primeiro a despertar do choque da travessia. – Mas que lugar é este? – balbuciou olhando para o lado. Lá estava uma pessoa enorme que não pode reconhecer. Não achou que fosse um humano à primeira vista, mas observando-o com atenção pode reconhecê-lo.

– Derek? É você? – Calisto teve a impressão de que sua mão levou muito tempo até que se deslocasse para segurar o grandalhão pelo braço. Ao tocá-lo, não havia sensação de tato e um gosto horrível invadiu a sua boca. Derek ignorou-o e seguiu adiante como se fosse um zumbi.

Deixe-o – instruiu Yourdon – despertará, cedo ou tarde.

Calisto virou-se estranhando que seus movimentos e percepções tão lerdas como as de uma lesma. O jovem mago surgiu inesperadamente tomando forma à medida em que se aproximava. Primeiro aparentava ser uma mancha cinzenta, mas aos poucos seus contornos assumiram nitidez.

– Yourdon? – Calisto estava confuso. – Ah sim! Agora me lembro, você disse que foi enviado por Thoudervon.

Ele observava as vestes do mago que pareciam ter certa transparência, ficando evidente os contornos do corpo magricela numa tonalidade cinza mais escura. Nos olhos, percebeu apenas buracos escuros e os cabelos outrora castanhos, estavam muito brancos e pareciam dançar como se estivessem dentro d'água. Por fim, surpreendeu-se ao ver o coração dele pulsar dentro do peito.

– Sim, Barão Calisto. O senhor tem sorte de ter um patrono tão poderoso. Não fosse minha chegada em tempo, estariam todos mortos.

– Fico lhe devendo... Mas afinal, que lugar é este?

– Uma dimensão adjacente à nossa própria. O mestre a chama de Plano Netéreo.

– O astral?

– Não, um lugar desconhecido para a maioria de nós. Ele mencionou para mim a existência de múltiplas dimensões... Imagino que segredos elas guardam.

– E agora? – indagou Calisto sem se acostumar ao ritmo desacelerado.

– Voltaremos à Necrópole. Porém, poderá não ser fácil irmos em grupo. Talvez, seja melhor abandoná-los à própria sorte.

– Por que diz isto?

– Há muitos perigos nesta dimensão. Felizmente, com a ajuda deste anel – Yourdon mostrou-lhe um parecido com o de Calisto – pude ajustar minha magia para funcionar aqui. Não sei se teria os alcançado sem isto. Temo não ter poder suficiente para conduzir a todos de volta.

– Também tenho um anel, talvez... – Calisto olhou para Derek tentou penetrar em sua mente sem sucesso. "Não funcionou" ponderou. "Um grito psíquico dever resolver isto..."

Oráculo EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora